FONTE: Maria Fernanda
Ziegler - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Nunca foi consumido tanto açúcar
no Brasil e de acordo com especialistas o motivo não está no uso do açucareiro, mas no consumo de
produtos industrializados extremamente adoçados. Só nos últimos 15 anos, a
quantidade de açúcar na composição dos alimentos processados dobrou.
De acordo com dados da Embrapa,
em 50 anos houve a adição de aproximadamente 68 gramas diárias (mais de cinco
colheres de sopa) na dieta dos brasileiros. A última medição mostrou que o
brasileiro consome até 150 gramas por dia, enquanto a média mundial é de 57
gramas.
“A
quantidade de açúcar nos alimentos produzidos no Brasil é alarmante. É uma
coisa cultural, a indústria acha que brasileiro gosta de açúcar. Assim, é
praticamente impossível uma pessoa ingerir o mínimo ou nada de açúcar. A não
ser que ela pare de comer qualquer alimento vendido no supermercado”, disse Manuela
Dias, nutricionista da Proteste, organização que no ano passado mediu a
quantidade de açúcar de 95 produtos.
Confira a relação da
quantidade de açúcar contidos em alguns dos alimentos analisadas:
-- Uma garrafa de 1,5 litro de
refrigerante contém 143 gramas de açúcar, dá para encher um copo americano
-- Nos 350 ml de refrigerante da latinha há 33,4 gramas de açúcar
-- Em um litro de néctar de uva há 87 gramas de açúcar
-- Em 40 gramas de achocolatado, 28 gramas são só de açúcar
-- Treze biscoitos recheados (130gramas) têm 32 gramas só de açúcar
-- Uma tigela com 60 gramas de cereal matinal contém 18 gramas de açúcar, quase um quarto do peso total
-- Em uma barra de 170 gramas de chocolate ao leite há 61 gramas
-- Até mesmo o pão tem açúcar na fórmula. Em cinco bisnaguinhas (50 gramas), 2,39gramas são de açúcar
-- Nos 350 ml de refrigerante da latinha há 33,4 gramas de açúcar
-- Em um litro de néctar de uva há 87 gramas de açúcar
-- Em 40 gramas de achocolatado, 28 gramas são só de açúcar
-- Treze biscoitos recheados (130gramas) têm 32 gramas só de açúcar
-- Uma tigela com 60 gramas de cereal matinal contém 18 gramas de açúcar, quase um quarto do peso total
-- Em uma barra de 170 gramas de chocolate ao leite há 61 gramas
-- Até mesmo o pão tem açúcar na fórmula. Em cinco bisnaguinhas (50 gramas), 2,39gramas são de açúcar
Da análise do Proteste o achocolatado em pó
foi o que chamou mais atenção. Algumas marcas contêm 70% de açúcar na
composição. “Em um copo de leite com duas colheres de sopa do achocolatado será
consumido o equivalente a três saches de açúcar e ainda tem gente que ainda
coloca mais duas ou três colheres de açúcar”, disse Manuela.
Vale lembrar que existem dois tipos de
açúcar: aqueles encontrados naturalmente nos alimentos, como a frutose e
sacarose das frutas e a lactose do leite, e aqueles extraídos da cana de
açúcar, beterraba ou milho e usados posteriormente na elaboração de alimentos
processados. “O problema não está no açúcar, mas na quantidade. São alimentos
dispensáveis para a nossa espécie”, diz Manuela.
O professor de
nutrição da UFMG, Rafael Claro, lembra que estudos realizados nos Estados
Unidos mostraram que o açúcar tem efeito viciante. “Ele ativa a parte
neurológica da pessoa, provocando o efeito de euforia ativado pela dopamina.
Certamente, colocar cada vez mais açúcar nos alimentos é uma prática da
indústria para vender mais. Diferente do sal que tem a função de conservar os
alimentos, o açúcar não tem finalidade nenhuma“, diz.
Claro concorda com Manuela sobre a quase
impossibilidade de abandonar o açúcar da dieta. “Só se for produzir os
alimentos em casa, o que é muito difícil em alguns casos. Vale lembrar que 90%
dos produtos sem açúcar têm adoçante, que é outro problema, também faz
mal", disse.
O pesquisador da UFMG afirma que
uma solução está em mudar hábitos e não tornar bebidas e alimentos ainda mais
doces. “Nós nos adaptamos gradativamente à redução de açúcar. Se a cada dia uma
pessoa reduzir a quantidade de açúcar do café, por exemplo, depois de um
tempo ela não sentirá a necessidade de adoçá-lo mais”, disse.
Além da conta.
Do total de carboidratos consumidos no dia,
apenas 10% deve ser de açúcar simples de absorção rápida, segundo a Organização
Mundial da Saúde. “Por isso, um adulto deve consumir, em média, 50g de açúcar
simples no dia”, diz Manuela. Porém, os dados do IBGE mostram que o brasileiro
consome 16,7% do total de calorias, 67% a mais que o indicado.
O estudo da Embrapa mostra a histórica
ascensão do paladar doce brasileiro. Na década de 1930, o consumo médio por
habitante era de 41 gramas por dia. Na década de 1950, foi para 82 gramas/dia.
Vinte anos depois, eram 109 gramas. Nos anos 1990, o consumo subiu para 136
gramas. A última medição, de 2000, mostrou que o brasileiro consome em até 150
gramas por dia. A média mundial nos anos 2000 era de 57 gramas. Os dados da
Embrapa mostram que o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais.
“É uma preferência histórica. Fazer bolos e
sobremesas sempre foi sinal de status. Mas chegamos a um ponto que a gente
perde o controle”, diz Manuela.
O alto índice fez com que o Ministério da
Saúde, especialistas e a indústria se reunissem em junho para definir medidas a
serem adotadas. Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) apontam um gasto anual de
R$ 488 milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade como diabetes
e alto colesterol.
“No entanto, observamos que a quantidade é
tão alta que mesmo que a indústria se prontifique a reduzir 10% da quantidade
de açúcar, por exemplo, isto terá pouco resultado na diminuição de internações
associadas à obesidade”, disse Manuela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário