FONTE: Naira Sodré, TRIBUNA DA BAHIA.
A cada mês, a população mundial
com mais de 60 anos aumenta na proporção de 1 milhão de pessoas. Estima-se que,
em 2025, 25% da população brasileira será idosa. Embora essa seja uma conquista
decorrente da melhora da qualidade de vida e saúde pública, bem como do avanço da ciência médica, o
fato é que, quando o assunto é saúde oral dos idosos, ainda há muito por
fazer.
A Pesquisa Nacional de Saúde Bucal,
promovida pelo Ministério da Saúde em 2010, mostrou que mais de 3 milhões de
idosos necessitam de próteses totais e outros 4 milhões, de
próteses parciais. Tumores bucais e na faringe são
diagnosticados em cerca de 30 mil pessoas todos os anos: 8 mil delas morrem no
mesmo período e geralmente estão nessa mesma faixa etária.
Uma outra pesquisa, a da
Faculdade de Saúde Pública
da USP aponta que cerca de 68% dos idosos são desdentados. Mais da metade
podem ter próteses e formam um enorme contingente entre os idosos, mas o
bom é ver que uma parte cada vez maior destes idosos - os que puderam ter
acesso a um tratamento odontológico preventivo básico, ao menos,
estão chegando à 3a idade com diversos elementos dentários presentes,
inclusive próximo da recomendação da Organização Mundial de Saúde, de terem
pelo menos 20 dentes naturais remanescentes em sua cavidade bucal. Mas esta
fatia de dentados “ideais” ainda precisa crescer muito para se tornar
estatisticamente preponderante.
Segundo o odontogeriatra, consultor sobre
odontologia em Sites Científicos e co-autor do livro “Odonto-geriatria – Noções
de Interesse Clínico”, Fernando Luiz Brunetti Montenegro, devemos procurar
manter os dentes naturais o máximo possível, usando de todos os recursos da
odontologia atual - que é bem mais conservadora que na metade do século passado
- e só avulsionar (extrair) um dente quando todas as
opções de tratamento forem esgotadas. Há uma tendência na população mais
desinformada de querer extrair os dentes, visando evitar problemas no
futuro. Isto é a mais profunda inverdade, pois nada artificial é melhor que o
seu similar natural. O que existe é uma grande fala de informação de como
cuidar da boca, da importância dos dentes no bem mastigar (e de ingerir bons
nutrientes que serão a garantia de melhor saúde geral na 3a idade) e na
sobrevida das pessoas.
Montenegro diz que duas pesquisas
desenvolvidas separadamente: Uma na Inglaterra (Sheiham) e outra no Japão
(Shimazaki) mostraram claramente que quem tem dentes naturais(ou próteses
funcionando bem) vivem mais anos e em melhor condição física para
enfrentar os problemas decorrentes do envelhecimento(estas pesquisas
foram feitas com centenas de idosos nestes países, inclusive com exame de
sangue,de dieta,de condições sociais de vida e muitos participantes
foram seguidos por diversos anos).
O odontogeriatra comentou que os dentistas precisam
acordar para uma nova realidade: as pessoas devem ser avaliadas como
um todo, de forma multi e interdisciplinar: “A boca é a parte
superior do aparelho digestivo e, como tal, deve ser examinada. Ela
não está separada do resto do organismo. Alguém já viu uma boca andando
sozinha?”, pergunta, divertido.
Alinhados às mais
recentes pesquisas científicas que evidenciam haver relação
entre saúde bucal e diabetes, doenças cardíacas, pneumonia e
até acidente vascular cerebral (AVC), entre outras enfermidades, os
especialistas buscam garantir aos pacientes idosos a manutenção de
habilidades como comer, dormir, trabalhar, manter-se
ativo e independente, fatores que contribuem para o envelhecimento
saudável, ensina Montenegro.
Nova especialidade.
Ele explica que a “odontogeriatria é uma
nova especialidade que visa o atendimento de pessoas, cujo processo natural de
envelhecimento trouxe alterações biológicas, físicas e psicológicas, e podem
comprometer sua saúde. Atendê-los requer conhecimentos que permitam avaliá-los
considerando essas peculiaridades”. A Odontogeriatria habilita o profissional a
tratar pacientes que tenham a saúde debilitada, a partir de cuidados
estomatológicos, isto é, boca e anexos, sempre considerando a pessoa como um
todo. O objetivo é promover a saúde, objetivando a qualidade de vida, comentou.
O profissional deve partir do princípio de
que essa pessoa, em razão das perdas inerentes à idade, pode apresentar quadros
clínicos que inunciam sua saúde bucal (uso de medicamentos para controlar o
diabetes, por exemplo). Assim, ele inicia seu trabalho com a realização de uma
consulta criteriosa, passa pelo exame físico (dentes, mucosa etc.) e, quando
necessário, solicita exames complementares. A ideia é fazer tudo com cuidado
para evitar um diagnóstico errado que levaria ao tratamento errado. O que
queremos é dar aquilo de que ele precisa, ressaltou.
Para o odontogeriatra, o maior problema
nesse período da vida é o edentulismo, isto é, a falta total de dentes na boca.
Depois se seguem a falta parcial deles nas arcadas superior ou inferior;
cáries; enfermidades periodontais, que afetam as gengivas e a parte óssea (de
sustentação do dente na arcada); fumo; falta de higiene e hipossalivação
(diminuição de saliva).
Note que a falta de saliva pode ser agravada
pelo uso de determinados medicamentos, como antidepressivos e tranquilizantes,
entre outros, e até por desidratação. Acrescento que outras consequências
comuns são a estomatite protética (processo inûamatório decorrente de problemas
de higienização de próteses removíveis), halitose e ardência bucal.
O tratamento a ser escolhido depende de cada
caso e pode ser multi e interdisciplinares, incluindo a atuação de
especialistas das áreas da medicina, nutrição, usioterapia, psicologia, assim
como clínica integrada com características especiais para idosos. Porém, em
geral, inicia-se com orientações para mudanças de hábitos de higiene bucal, de
medicamentos, substituição de próteses e até cirurgias, nos casos mais graves,
são outros recursos,orientou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário