FONTE: Sabrina Tavernise, do The New York Times (noticias.uol.com.br).
Pesquisadores da
Universidade da Carolina do Norte publicaram um estudo na semana passada
criando mais um problema no debate sobre a obesidade infantil. Eles contestam
descoberta recente segundo a qual a obesidade infantil viria caindo desde 2004
e sustentam que uma perspectiva maior, utilizando dados desde 1999, demonstra
que as crianças não estavam emagrecendo.
Então, qual visão
está correta? Ao que parece as duas.
A obesidade se tornou
um grande problema de saúde nos Estados Unidos, afetando perto de 17% dos
norte-americanos com idades entre dois e 19 anos, contra aproximadamente 5% no
começo da década de 1970. O índice subiu durante anos, mas se estabilizou e o
debate atual questiona se a obesidade começou a declinar entre as mais novas
dessas crianças.
A questão atraiu
atenção considerável, não apenas porque os cientistas discordam quanto à
resposta, mas porque tem uma dimensão política: o tema tem sido abordado com
veemência por Michelle Obama, a primeira-dama dos EUA.
Os pesquisadores da
Carolina do Norte e a equipe federal que produziu o primeiro estudo se valeram
dos mesmos dados do Inquérito de Saúde Nacional e Nutrição. Tais dados são
considerados o parâmetro ideal em pesquisa de saúde porque o peso e a altura
são medidos por um profissional do setor e não pelos participantes.
Porém, em vez de
examinar somente a década passada de dados de crianças com idades entre dois e
cinco anos, os pesquisadores da Carolina do Norte averiguaram um período de 14
anos. Eles concluíram que um pico incomum de obesidade entre essas crianças em
2003 criou a aparência falsa de declínio posterior, assim comparar 2012 a 1999
produzia uma visão mais verdadeira das tendências.
Durante esse período
mais longo, os pesquisadores constataram que a obesidade permaneceu nivelada
naquele grupo mais jovem.
"Quando vemos o
cenário maior, não existe mudança", disse Asheley Skinner, professora
assistente de pediatria da Universidade da Carolina do Norte e principal autora
do estudo, publicado no "JAMA Pediatrics". "Quero que isso
continue sendo uma questão de saúde pública."
Os pesquisadores
federais que fizeram a análise original, publicada no periódico, defendem os
resultados. O estudo constatou que 8% das crianças de dois a cinco anos estavam
obesas em 2012, contra 14% em 2004 – o primeiro declínio estatisticamente
significativo em qualquer grupo.
Cynthia L. Ogden,
principal autora do estudo e epidemiologista dos Centros para Controle e
Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), enfatizou que o resultado
deveria ser interpretado com cautela porque a faixa etária representa uma
fração minúscula da população norte-americana e que os números permaneceram
uniformes para a juventude como um todo.
"Tendências de
períodos de tempo diferentes podem apresentar resultados diferentes",
Ogden explicou por e-mail.
Ela assinalou que vários
outros estudos detectaram padrões de declínio entre as crianças menores,
incluindo um de pesquisadores de Massachusetts, em 2012, e uma análise de dados
de um grande programa federal de aleitamento materno em 2013.
Ruth Loos, professora
de medicina preventiva do Mount Sinai Hospital, em Nova York, afirmou que um
motivo para os dois estudos chegarem a conclusões diferentes é simplesmente o
de que, em 1999, ano usado pelo estudo da Carolina do Norte como ponto inicial,
o índice de obesidade era de 10% naquela faixa etária. O estudo do CDC começou
com dados de 2004, quando a taxa ficava ao redor de 14%.
"Os dois estudos
reportam basicamente os mesmo dados e usam testes similares", disse Loos.
"A diferença na conclusão se deve ao ponto inicial diferente."
Michael P. Eriksen,
diretor da escola de saúde pública da Universidade Estadual da Geórgia, alertou
que examinar subgrupos pequenos, como o daquela faixa etária, reduz a precisão
estatística e pode ter levado a descobertas imprecisas. Ele se disse intrigado
pela queda repentina na obesidade entre crianças menores no período mais
recente de 12% em 2010 para 8% em 2012.
"Por que existe
uma queda tão grande num intervalo de tempo tão pequeno, quando nenhum outro
jovem teve qualquer tipo de redução?"
Para ele, somente o
próximo conjunto de dados vai determinar se esse número era anômalo.
Demorou anos para
especialistas em saúde pública documentarem a obesidade como um problema de
saúde importante e, provavelmente, vai levar anos para se ter certeza do
declínio, disse Loos. No fim das contas, os números que parecem saltitar vão se
acomodar formando um padrão nítido.
Nesse meio-tempo, os
especialistas em saúde continuam tendo uma tarefa monumental.
"A moral da
história é que os números da obesidade ainda são enormes", afirmou o Dr.
Jeffrey P. Koplan, professor de medicina e saúde pública da Universidade Emory,
em Atlanta. "Podem existir lugares isolados onde ocorrem declínios, mas é
muito difícil interpretar isso até termos mais dados. Do ponto de vista da
saúde pública, o debate não muda o que podemos fazer".
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