Semelhante a uma
lipoaspiração, uma nova técnica para remoção de placas de gordura de artérias
foi realizada pela primeira vez no país no Hospital Santa Isabel, centro de São
Paulo, no mês passado.
O procedimento, que é
menos invasivo do que a colocação de stents (tubos metálicos inseridos em
artérias obstruídas para liberar o fluxo sanguíneo), segundo especialista do
hospital, deve beneficiar principalmente diabéticos com doença arterial
obstrutiva periférica. Trata-se de entupimento das artérias dos membros
inferiores que causa dores e dificuldade para andar.
"A principal
vantagem é não colocar o metal, que pode se deslocar e causar lesões nos
pacientes. O stent não é ruim, é o padrão-ouro, mas, se puder não colocá-lo, é
melhor", explica o chefe do Serviço Vascular do hospital, Alvaro Razuk. O
centro médico é ligado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
A técnica se chama
aterectomia direcional e é feita usando um equipamento, o TurboHawk, que suga e
elimina a gordura da artéria. Por meio de um corte de cinco milímetros na
região da virilha do paciente, o médico introduz e controla um cateter
revestido com uma fina camada metálica e com uma lâmina. A desobstrução é na
artéria femoral, localizada na região da coxa.
"A raspagem da
gordura é feita pela lâmina, mas é totalmente controlada pelo médico. O
material retirado é armazenado em um recipiente. Trata-se de um processo
parecido com a lipoaspiração, mas não retira uma quantidade tão grande de
gordura", afirma Razuk.
Sintomas.
Fumantes, pessoas
sedentárias, homens com mais de 60 anos, obesos e pacientes com maus hábitos
alimentares também estão entre as pessoas mais propensas a desenvolver a
doença. O porteiro Eliezer Silva de Lima, de 65 anos, foi o primeiro paciente a
ser submetido à técnica e faz parte dos três primeiros grupos. Ele começou a
fumar aos 23 anos e não pratica atividades físicas. Há três meses e meio,
apresentou sintomas da doença arterial obstrutiva periférica.
"Comecei a
sentir dor nas pernas e elas ficavam inchadas. Eu conseguia andar, no máximo,
30 metros e tinha de parar para descansar. Tomava medicamentos e não passava.
Meu pé direito ficou ferido e o dedão, muito escuro." Lima diz que recebeu
a informação de que seria submetido à técnica e que resolveu aceitar. "Eu
não tenho dúvidas de que estou melhor agora. A minha idade não ajuda muito, mas
estou bem."
Segundo Razuk, em
todo o mundo, acontece 1 milhão de amputações por ano em decorrência da doença
e 50% dos pacientes ainda não tinham sido submetidos a tratamento. Ainda de
acordo com Razuk, o entupimento das artérias pode continuar evoluindo e
aparecer em outras partes do corpo, causando complicações em órgãos como o
cérebro e o coração. Mas a nova técnica é voltada apenas para a artéria
femoral.
Potencial.
Razuk diz que o
procedimento já é realizado nos Estados Unidos e na Europa. "É uma técnica
recente, que existe há dois anos, mas os resultados são animadores. Outros
hospitais do País devem utilizá-la também."
O especialista
pondera, no entanto, que o preço pode atrapalhar a disseminação do
procedimento. "Uma angioplastia com stent custa em torno de R$ 15 mil e é
mais barata do que esse dispositivo, que deve ficar 50% mais caro."
Presidente da
Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Walter Minicucci diz que é importante
buscar procedimentos menos invasivos e que evitem riscos para os pacientes, mas
que é fundamental fazer trabalhos de conscientização da população. "A
gente procura evitar tratamentos que causem complicações, mas há outras
técnicas para melhorar o risco, como manter o colesterol baixo e não
fumar."
Para Luiz Francisco
Machado da Costa, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia
Vascular (SBACV), a técnica vem para complementar os tratamentos tradicionais
para a doença. "É um dispositivo que não é experimental, mas muito
pontual. É para abrir um caminho quando a placa de gordura está muito rígida.
Essa técnica não veio para substituir, mas para agregar, é mais uma
alternativa."
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