FONTE: Paula Moura, Do UOL, em São Paulo (SP), (noticias.uol.com.br).
Se você tivesse que
pensar em usos alternativos para um clipe de papel, que resposta daria? Hum…
que tal um cabide, um alfinete, fazer joias com ele ou mesmo usar para limpeza
de objetos pequenos? Nada muito criativo, não? E se a resposta fosse: uma mola
ou uma peça para um jogo?
Essas respostas
ajudaram um estudo a concluir que pessoas com características autistas dão
respostas mais criativas para problemas que testam o chamado "pensamento
divergente", ou seja, a capacidade de oferecer várias respostas diferentes
a uma pergunta. A pesquisa foi publicada recentemente na revista Science
Advances.
Psicólogos da Universidade
de East Anglia e da Universidade de Stirling, no Reino Unido, fizeram a
pesquisa com pessoas que não têm o diagnóstico de autismo, mas que têm muitos
comportamentos e processos de pensamento associados ao autismo.
Esses
participantes sugeriam menos soluções, mas de qualidade e originalidade
superior às propostas por pessoas com menos características autistas.
"As pessoas com
grau mais alto de características autistas tiveram menos ideias criativas, mas
de maior qualidade. Considera-se geralmente que o pensamento deles é mais
rígido, portanto, o fato de que suas ideias são mais incomuns ou raras é
surpreendente. Essa diferença pode ter implicações positivas para a resolução
de problemas criativos", afirma Martin Doherty, um dos autores.
Direto para o
desafio.
Estudos anteriores
usando as mesmas questões mostraram que a maioria das pessoas usa primeiro
estratégias mais simples, por exemplo, associação de palavras, para produzir
respostas óbvias. Só depois passam a pensar em estratégias mais complexas e as
respostas se tornam mais criativas. A pesquisa sugere que as pessoas com mais
traços de autismo vão direto às estratégias mais difíceis.
"As pessoas com
traços autísticos abordam os problemas de criatividade de uma forma
diferente", diz Doherty. "O caminho da associação ou da memória para
ser capaz de pensar em ideias diferentes é comprometido, enquanto a habilidade
específica de produzir respostas incomuns é relativamente não comprometido ou
superior".
Para a autora
Catherine Best, da Universidade de Stirling, o estudo explica como algumas
pessoas portadoras de algo que é visto como "deficiência" mostram
criatividade superior em algumas áreas. "É preciso perceber que há grande
variação entre as pessoas com autismo. Pode haver pessoas cuja habilidade de
trabalhar independentemente é comprometida e outras que são muito menos
afetadas. Da mesma forma, nem todos com o distúrbio, ou traços associados a
ele, vão ser bons em resolver problemas criativos. Entender essa variação será
peça chave para entender o autismo e o impacto que ele tem na vida das
pessoas", disse.
Metodologia.
Os pesquisadores
analisaram dados de 312 pessoas que fizeram um questionário anônimo online para
medir seus traços de autismo e fizeram uma série de testes criativos. Os
participantes foram recrutados via mídia social e sites para pessoas com
Transtorno do Espectro Autista e seus parentes - 75 dos participantes disseram
que receberam diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista.
Para testar o chamado
"pensamento divergente", pediu-se aos participantes que criassem
quantos usos alternativos conseguissem para um tijolo ou clipe. A resposta foi
classificada de acordo com a quantidade, elaboração e originalidade. Pessoas
que propuseram quatro ou mais respostas originais tinham nível mais alto de
características autistas. As respostas mais simples do início dessa reportagem
foram de pessoas com menos traços, enquanto as mais originais foram de pessoas
com mais características autistas.
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