FONTE: Paula Moura, Do UOL, em São Paulo (SP),
(noticias.uol.com.br).
A atividade realizada
pelo cérebro enquanto se está descansando é bem mais ampla do que se imaginava,
segundo um estudo alemão publicado recentemente na revista Science Advances. O
chamado estado de "barulho de fundo", que é quando o cérebro está em
uma espécie de "stand by", ajuda a manter as conexões dos neurônios,
segundo o estudo.
Esse "barulho de
fundo" é uma das atividades neurológicas mais interessantes do cérebro,
pois não resulta diretamente de estímulos sensoriais ou da coordenação de
movimentos, ou seja, é uma atividade que não tem ligação com variáveis
externas. "É algo parecido com o que acontece quando nos desconectamos do
mundo e sonhamos acordados", afirma Iain Stitt, que liderou o estudo no
Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, na Alemanha.
Os pesquisadores
observaram o cérebro em repouso e captaram atividades neurais durante esse
estado. Até aí, não há novidades. Por muito tempo já se sabia que o cérebro
tinha atividade neural mesmo em repouso, mas pensava-se que essa ação era
produto de flutuações randômicas nas redes de neurônios. No entanto, esta nova
pesquisa leva a crer que o cérebro realiza uma organização de grande escala em
suas redes durante este estado para prever ações futuras.
É como se ele
"estudasse para a prova" durante o sono. Ele relembra as ações do dia
e consegue criar padrões para ações futuras. "É uma forma de fortalecer as
conexões entre os neurônios que codificam traços de comportamento para que
possam ser repetidos no futuro", diz Stitt.
Outra conclusão do
estudo é que, essa atividade dos neurônios durante o "barulho de
fundo" do cérebro acontece não só no córtex (como se imaginava), como
também em outra estrutura do cérebro chamada de colículo superior do
mesencéfalo.
Em vez de usar a
ressonância magnética para medir a ação dos neurônios, os cientistas usaram
técnicas de eletrofisiologia, como colocar eletrodos diretamente no tecido
cerebral – no caso, no de furões (seguindo a Lei de Proteção de Animais da
Alemanha). O estudo foi realizado em animais anestesiados, cujo estado do
cérebro é muito parecido ao do sono profundo.
Os resultados desse
estudo sugerem que pesquisas feitas com eletrofisiologia também podem ser
usadas para detectar quando a atividade neurológica de fundo não está
funcionando normalmente, como no caso do autismo e da esquizofrenia.
"Algumas pessoas com autismo têm dificuldade em modular os efeitos da
atividade neurológica de fundo, o que torna complicado para eles lidarem com
tarefas cognitivas. Na esquizofrenia, a atividade de fundo é ampliada e pode
contribuir para a formação de alucinações".
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