FONTE: Elioenai Paes - iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
Transtorno dismórfico corporal é caracterizado
quando o dia a dia do doente sofre reflexos negativos devido aos cuidados com a
imagem; problema deve ser tratado no início.
Você
conhece alguém que não vive sem um espelho, esconde-se dentro de roupas largas
por vergonha do próprio corpo e até deixa de sair de casa por achar que o nariz
não tem um formato adequado? A chance de essa pessoa estar sofrendo com o
transtorno dismórfico corporal (TDC) é grande. A doença se caracteriza por uma
distorção da autoimagem e faz com que a pessoa fique reclusa ou busque, a
qualquer custo, atingir o ideal de beleza, que geralmente é impossível de se
obter. É possível, porém, tratar o problema e recuperar a autoestima.
A atriz
e cantora Miley Cyrus declarou, nesta semana, que interpretar a personagem
Hannah Montana na adolescência provocou o transtorno dismórfico corporal. A
americana declarou que os produtores esperavam que ela se parecesse com outra
pessoa, e isso criou uma imagem de que ela não era boa o suficiente.
A
psiquiatra Mara Fernandes Maranhão, do Instituto de Psiquiatria da Universidade
de São Paulo conta que quem tem TDC sofre. “Essas pessoas evitam a exposição,
ficam com vergonha de frequentar lugares públicos, de se relacionar, pois têm a
impressão de que os outros vão olhar para aquele ‘defeito’. Também fazem
intervenções cirúrgicas desnecessárias”, explica.
Assim
como a maioria das doenças psiquiátricas, há um fundo genético que é
amplificado pelo ambiente em que a pessoa vive. “É mais comum em famílias onde
há parentes de primeiro grau com o mesmo diagnóstico, e também mais comum em
famílias que concentram maiores transtornos mentais, sejam quais forem”,
explica Mara. “Se a pessoa tem vulnerabilidade a transtornos mentais, eles
podem aparecer de diversas formas”.
O
padrão de beleza imposto atualmente, por exemplo, causa problemas em quem tem
TDC. “É biologicamente impossível para muitas pessoas, apenas uma minoria
consegue atingir aquele padrão. E esse padrão não tem a ver com a saúde física,
mas com uma conotação de sucesso e poder”, diz a psiquiatra. “É como se a
pessoa capaz de corresponder teria, teoricamente, mais força de vontade e poder
sobre si e o corpo. Isso acaba tendo um apelo muito grande para as pessoas mais
jovens e mais vulneráveis”.
Tratamento.
Identificar
o problema é o primeiro passo para o tratamento. No começo, quem tem TDC não
tem a exata noção de que seu comportamento em relação ao corpo é exagerado.
“Muitas vezes é preciso começar um tratamento para ver isso”, diz a médica. Ela
ressalta que a pessoa acha que realmente tem um defeito físico, que, muitas
vezes, é real, mas ela enxerga de uma forma desproporcional. Com frequência, há
defeitos imaginários também. “E ela amplia tanto a ponto daquele defeito
imaginário interferir na vida”.
Para
ser diagnosticado o transtorno dismórfico corporal, a preocupação com a
aparência precisa prejudicar o funcionamento das coisas no dia a dia,
influenciar negativamente e ter impacto na vida social ou profissional.
O
tratamento, então, é feito com medicamentos e psicoterapia. A psicóloga da
Clínica Maia, Myriam Albers, explica que o médico avalia se é preciso entrar
com medicações antidepressivas. Depois disso, a psicoterapia virá para somar.
“Há um trabalho de autoimagem, já que a autoestima fica muito rebaixada. A
pessoa não está bem consigo mesma”, diz Myriam.
Anorexia e bulimia.
A
adolescência é um momento crucial para o desenvolvimento desses transtornos.
“Podemos observar também na infância, por padrões muito rígidos em questões da
alimentação, mas é na adolescência que o transtorno começa a aparecer mais”,
alerta a psicóloga.
“Os
sinais podem ser velados, discretos, pode acontecer uma perda de peso gradual,
e a tendência é de a pessoa não exibir mais o corpo, ou porque está emagrecendo
demais ou percebe que está engordando. A família e os amigos começam a perceber
quando o transtorno está em um grau mais avançado”.
Casos
de compulsão alimentar, bulimia e anorexia surgem. Segundo Myriam, alguns
traços de personalidade revelam a vulnerabilidade da repulsa ao próprio corpo.
“Pessoas mais perfeccionistas, inseguras ou com baixa autoestima acabam ficando
mais vulneráveis. Os pais devem perceber isso e mostrar cuidado com a criança,
sempre relativizando e acolhendo as preocupações dela, para que entenda que o
que pensa é desproporcional e não compatível com a realidade”.
Uma
preocupação excessiva com a barriga, por exemplo, pode levar a uma dieta muito
restritiva. “A adolescente, então, fica propensa a um descontrole por compulsão
e restrição, podendo exagerar na atividade física para deixar a barriga do
jeito que imagina”, diz Mara. Quando há um deslize, a depressão vem, levando à
compulsão. E o ciclo se repete.
A
médica conta que os objetivos de uma pessoa com transtorno dismórfico corporal
geralmente são extremos, com padrões muito altos e impossíveis de serem
alcançados. O tratamento pode durar de poucos meses até alguns anos. A cura, no
entanto, é possível e a pessoa pode aprender a se amar.
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