FONTE: , TRIBUNA DA BAHIA.
O distúrbio dos jogos eletrônicos tem
características diferentes do transtorno conhecido como jogo patológico.
Atividades
de lazer favoritas de boa parte dos jovens do Brasil e do mundo, os videogames
e demais jogos eletrônicos estão agora na mira das autoridades sanitárias
internacionais. Pressionada por médicos e acadêmicos, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) deverá passar a classificar o vício em games como um transtorno
psiquiátrico.
A
proposta está em discussão nos comitês que cuidam da revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID), manual publicado pela OMS que traz a definição
e os códigos das patologias e que serve de parâmetro para o trabalho de médicos
de todo o mundo. A 11.ª edição do documento já está sendo elaborada e deverá
ser lançada no próximo ano. Sua versão preliminar lista o transtorno do jogo
(ou gaming disorder, em inglês) como distúrbio psiquiátrico. Hoje, por não ser
reconhecido como doença, esse tipo de comportamento seria classificado no grupo
de "outros transtornos de hábitos e impulsos".
O
distúrbio dos jogos eletrônicos tem características diferentes do transtorno
conhecido como jogo patológico (ou gambling disorder, em inglês), doença já
incluída na versão atual da CID caracterizada pelo vício em jogos de azar com
apostas em dinheiro, como bingos, cassinos e caça-níqueis.
A
possível inclusão do gaming disorder na CID-11 foi debatida no World Congress
on Brain, Behavior and Emotions - congresso sobre o cérebro realizado em Porto
Alegre entre os dias 14 e 17 de junho - e confirmada pela OMS ao Estado.
Em
nota, a organização explicou que o tema começou a ser discutido em 2014 após
centros da entidade, médicos e acadêmicos expressarem preocupação sobre
possíveis implicações à saúde associadas à prática excessiva de jogos de
videogame e de computador.
A
entidade diz que as consultas e evidências apresentadas desde então levaram à
proposta atual de que o transtorno do jogo possa ser uma síndrome
"reconhecível e significativa associada à angústia ou à interferência com
funções pessoais".
Prejuízo.
Segundo
especialistas que atendem jovens dependentes de videogames, a principal
característica que diferencia jogadores saudáveis dos viciados é justamente a
interferência desse hobby nas demais atividades cotidianas. "A maioria dos
jovens joga de maneira tranquila e controlada. Mas entre os que se tornam
dependentes, vemos prejuízos importantes, como reprovação na escola, afastamento
dos amigos e brigas com a família", diz o psiquiatra Daniel Spritzer,
coordenador do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas (GEAT) e palestrante
do congresso.
Ele
afirma que, embora não haja no Brasil uma estimativa de quantos jovens sejam
viciados em games, estudos americanos e europeus indicam que apenas 1% a 5% dos
que jogam desenvolvem um comportamento dependente. O problema, afirma ele, é
mais grave em países asiáticos, onde a prevalência do problema chega a 10%
Para os
médicos e a própria OMS, incluir o transtorno do jogo na CID-11 facilitaria o
trabalho dos especialistas no diagnóstico e tratamento do problema. "Além
disso, quando temos uma categoria diagnóstica específica, é mais fácil
conseguir apoio das agências de fomento de pesquisa para investigar o
tema", diz Cristiano Nabuco, coordenador do Programa de Dependências
Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
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