Entre
15% e 20% das vítimas de violência desenvolvem o transtorno. Entenda o TEPT e
os principais problemas que ele acarreta.
Com o aumento do número
de episódios de violência urbana no Brasil, o iSaúde procurou saber mais sobre
o Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Conversamos com a psicóloga
Ticiana Barbosa Rangel, que apontou alguns problemas que os pacientes com TEPT
apresentam em conjunto com a doença.
iSaúde Brasil – Como
podemos definir o Transtorno do Estresse Pós-Traumático?
Ticiana Barbosa Rangel
– O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um
distúrbio da ansiedade caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas
físicos, psíquicos e emocionais em decorrência de o paciente ter sido vítima ou
testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral,
representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. Quando se recorda do
fato, ele revive o episódio, como se estivesse ocorrendo naquele momento e com
a mesma sensação de dor e sofrimento que o agente estressor provocou. Essa
recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações
neurofisiológicas e mentais.
iSaúde Brasil – Muitas
pessoas sofrem com esse problema? Qual é a incidência?
Ticiana Barbosa Rangel
– Entre
15% e 20%, aproximadamente, das pessoas que, de alguma forma, estiveram
envolvidas em casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual,
terrorismo, tortura, assalto, sequestro, acidentes, guerra, catástrofes
naturais ou provocadas, desenvolvem esse tipo de transtorno.
iSaúde Brasil – Muitos
apontam o problema da segurança pública no Brasil como algo que já está
generalizado. Você percebe um aumento no número de casos?
Ticiana Barbosa Rangel
– O aumento da violência no Brasil acaba gerando uma
maior comoção social e, com isso, um aumento da ansiedade na população em
geral, sendo a mesma exposta a situações de risco, ocasionando, assim, um
possível aumento de casos de TEPT.
iSaúde Brasil – Quais
são os principais sintomas do TEPT?
Ticiana Barbosa Rangel
– Os sintomas do Transtorno do Estresse Pós-Traumático
se dividem em categorias principais compreendidas em:
Reexperiência
traumática: pesadelos e lembranças
espontâneas, involuntárias e recorrentes (flashbacks) do evento
traumático-revivescência;
Fuga e esquiva: afastar-se
de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo das lembranças traumáticas,
como situações, contatos ou atividades que possam se ligar às lembranças
traumáticas;
Distanciamento
emocional: diminuição do interesse afetivo por
atividades, pessoas, que anteriormente eram prazerosas, diminuição de
afetividade; Hiperexcitabilidade psíquica: reações de fuga exageradas,
episódios de pânico (coração acelerado, transpiração, calor, medo de
morrer...), distúrbios do sono, dificuldade de concentração, irritabilidade,
hipervigilância (estado de alerta);
Sentimentos
negativos: sentimento de impotência e incapacidade em se proteger do
perigo, perda de esperança em relação ao futuro, sensação de vazio.
iSaúde Brasil – Uma
vítima de um episódio violento, como um assalto ou sequestro, pode apresentar
sintomas dentro de quanto tempo após o fato?
Ticiana Barbosa Rangel
– Cada
pessoa tem a sua própria forma de reagir a situações de risco de vida ou
experiências inesperadas. Um determinado indivíduo que passa por uma situação
traumática pode sentir medo e ficar impressionado, enquanto outra pessoa, que
passa pela mesma experiência, pode sentir-se chocada e agradecida por estar
viva; portanto, as reações podem variar muito de pessoa para pessoa. Alguns
indivíduos podem apresentar sintomas após 30 dias, algumas vezes, até 1 ano da
data do evento traumático, desde que esse tenha levado ao risco de vida ou à
integridade física do paciente ou de alguém próximo. O paciente receberá o
diagnóstico de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), caso apresente
sintomas classificados em 3 grupos: revivência, evitação e hipervigilância.
iSaúde Brasil – Uma
pessoa pode apresentar o transtorno apenas uma ou poucas vezes, ou seja, de
forma aguda?
Ticiana Barbosa Rangel
– Alguns indivíduos, mesmo nesse período inicial,
podem manifestar sintomas mais intensos e disfuncionais, apresentando quadros
dissociativos, com alterações qualitativas da consciência, não sabendo, muitas
vezes, onde estão ou até quem são (alterações da consciência auto e
alopsíquica), com queixas, como: se sentir distante, frio, ainda com imagens do
trauma vindo repetidamente à sua mente, contrárias à sua vontade. Apresentam
medo de serem novamente vitimizados, esquivando-se de várias situações. Se
esses sintomas se apresentam até 30 dias do evento traumático, esse indivíduo
recebe o diagnóstico de Transtorno de Estresse Agudo (TEA).
iSaúde Brasil – Pessoas
que sofrem com TEPT podem apresentar problemas com a memória?
"O TEPT é considerado por muitos estudiosos um transtorno
da memória, já que ocorre, no paciente, uma falha na codificação das
informações referentes ao evento traumático..."
Ticiana Barbosa Rangel
– O
TEPT é considerado por muitos estudiosos um transtorno da memória, já que
ocorre, no paciente, uma falha na codificação das informações referentes ao
evento traumático, podendo estar associado a três fatores: ao processamento
seletivo do conteúdo do evento traumático; à generalização dos estímulos
explícitos e implícitos da memória traumática; à dificuldade para o
esquecimento direto do conteúdo traumático da memória; e a problemas na
recuperação das memórias autobiográficas.
iSaúde Brasil – O TEPT
pode acarretar outros problemas para a saúde física e mental do indivíduo?
Ticiana Barbosa Rangel
– O TEPT é um transtorno que traz inúmeras mudanças
para a vida de suas vítimas, que acabam constantemente revivendo a situação
traumática e apresentando reações extremas de ansiedade como se o evento
estivesse continuamente ocorrendo. São visíveis as implicações do TEPT para a
saúde e o bem-estar social dos indivíduos. Do ponto de vista psicológico,
alterações de humor, irritabilidade e agressividade podem ser sintomas
desencadeados pelo transtorno assim como alterações no sono (e em funções cognitivas,
uso de substâncias psicoativas entre outras.
iSaúde Brasil – Como
funciona o tratamento?
Ticiana Barbosa Rangel
– Para o tratamento do TEPT, é aconselhado um
acompanhamento multidimensional, na qual a famarcoterapia tem o seu papel na
redução dos sintomas. No entanto, para melhores resultados, esse tem que ser
acompanhado por uma psicoterapia em particular: a Terapia
Cognitivo-Comportamental.
Autor(es).
Ticiana Barbosa Rangel
/ CRP03: 6025
Graduada em Psicologia,
pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, pós-graduada em Terapia
Cognitiva Comportamental, pelo NTCBA, e em Saúde Mental Coletiva, pela Ruy
Barbosa. É também psicóloga da Clinica Fênix.
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