Duas pesquisas
realizadas pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) entre 2006 e 2015,
nas cidades de Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro e
São Paulo mostraram que os níveis
mais altos de desemprego estão associados a maiores taxas
de suicídio
entre os jovens, com idades que variam de 10 a 19 anos.
Os estudos foram publicados neste ano nas revistas científicas Brazilian
Journal of Psychiatry e na Current Opinion in Psychiatry.
De acordo com o
professor Elson Asevedo, psiquiatra da Escola Paulista de Medicina da
Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP), um dos responsáveis pelo
estudo, a pesquisa tomou como base os dados do Ministério da Saúde (Datasus),
que traz informações sobre mortalidade. "Fizemos um cruzamento
estatístico. O Datasus nos mostrou o número de suicídios.
Além disso, avaliamos os dados sobre desemprego e o PIB per capita nessas
cidades. Então, realizamos um estudo populacional e, em uma década, houve um
aumento das taxas de desemprego, que contribui para maior ocorrência de
suicídio", explica.
Para se ter uma ideia,
o número de suicídios entre adolescentes de 10 a 19 anos em 2006 era de 2,3
para cada 100 mil habitantes. Em 2015, a taxa foi de 2,6, o que corresponde a
um aumento de 13%. "A OMS (Organização Mundial de Saúde) determinou uma
meta global de redução das taxas de suicídio em 10% até 2020. No entanto, vemos
que o Brasil faz o caminho inverso", alerta o profissional.
Até a puberdade as
taxas de suicídio entre meninos e meninas são iguais. Mas a partir dos 13 anos
os garotos morrem mais. No entanto, elas cometem duas vezes mais tentativas.
"As mulheres têm um risco mental aliado a fatores de vulnerabilidade social
ao passo que para os meninos, o uso de drogas, álcool e exposição à violência
são mais comuns", ressalta Asevedo.
Para a pediatra Cintya
Rissato Sabioni, do Hospital São Francisco de Mogi Guaçu, as meninas deixam
transparecer mais o seu pedido de ajuda, pois se permitem mostrar a sua
fragilidade, seja pelo choro, pelo chamego ou até pelas tentativas de suicídio
fracassadas. "No caso dos meninos há ainda há o estigma de que não choram,
devem ser fortes e valentes para suportar tudo. Às vezes, pode ser tarde
demais."
De acordo com o
psiquiatra, os estudos demonstram que a característica mais significativa para
o comportamento suicida é a perda dos laços sociais. Ou seja, o jovem tem a
sensação de que está sozinho, que não é importante para ninguém e vice-versa.
Associada a um quadro de depressão, o adolescente se acha um fardo",
avalia.
O profissional destaca
que o suicídio pode ser consequência de um grave transtorno mental, como
depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, além de uso de álcool e drogas. O
contexto geral de desemprego torna-se um agravante.
O
que os pais devem fazer.
Sinais bruscos de
mudanças de comportamentos podem ser gatilhos de que algo está errado. Se o
jovem passa a ficar mais isolado, com maior agressividade, irritabilidade, ou
para de fazer as atividades que antes gostava, como praticar esportes ou jogar
videogames é um sinal de alerta. O uso de drogas e álcool também deve ser
avaliado com critério, já que aumenta o risco de potencializar os transtornos
mentais e, consequentemente, o suicídio.
Para a psicóloga
Daniela Bianchi, o diálogo entre pais e filhos é o melhor caminho para a
compreensão dos processos emocionais dos jovens. Ela afirma que é preciso
manter uma postura de abertura e inclusão frente aos filhos, o que facilita a
percepção de mudanças emocionais ou comportamentais, que nem sempre precisam
ser drásticas. "Os pais devem recorrer ao diálogo e buscar ajuda médica e
psicológica. Importante destacar que nem sempre há mudança radical de atitudes
e comportamentos em razão de um estado depressivo. Muitas pessoas deprimidas
continuam mantendo suas atividades regularmente. Qualquer percepção ou
estranhamento dos pais quanto a seus filhos já deve suscitar uma maior atenção
e cuidado", afirma.
Muitas vezes perdidos
por não saberem como agir, o primeiro profissional a quem os pais recorrem é o
pediatra, que devem estar preparados para orientar a família sobre qual caminho
seguir. "Os pais devem deixar as crianças e adolescentes à vontade para
falarem o que quiserem sem julgamento ou censura, sem medo de serem
repreendidos moralmente por qualquer 'erro'. Todas as ameaças de suicídio devem
ser encaradas com seriedade, mesmo quando possam parecer falsas ou
manipuladoras. Os pais não podem ter o preconceito em avaliar a dor dos filhos
como "bobeira", já que eles "têm de tudo" e que "não
têm motivos para isso". Não podemos esquecer que eles não pensam no
suicídio por desejarem a morte em si - o que desejam é acabar com esse
sofrimento. Diminuir, desvalorizar ou recriminar a dor dessas crianças e
adolescentes só irá fazê-los se sentirem mais incompreendidos."
Para a pediatra, apesar
da crise econômica e do desemprego, o mais importante é o elo emocional
familiar. Nessa hora, dar suporte emocional fará com o filho esteja mais
preparado para encarar as adversidades da vida, fazendo com que ele se torne um
adulto resiliente.
Serviço:
A Unifesp oferece ajuda gratuita no Caism (Centro de Atenção à Saúde Mental).
Informações: (11) 3466-2170.
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