Estudo publicado
no Jornal da Academia Europeia de Dermatologia diz que, após os 50 anos, a
pele, quando não hidratada, pode ter sintomas como coceira e secura.
A hidratação da pele
não é um caminho apenas para prevenir o envelhecimento do tecido cutâneo. Pelo
menos é o que diz um recente estudo da University of California, publicado em
março no Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology.
Como a pele é o maior
órgão do corpo, os cientistas que fizeram essa pesquisa acreditam que ela pode
estar relacionada à inflamação em
todo o corpo, principalmente após os 50 anos. E sabemos que a inflamação está
ligada a inúmeras doenças crônicas, afirma a dermatologista Dra. Claudia
Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Ou seja, cuidar
adequadamente da pele com um creme
hidratante pode reduzir os níveis de
inflamação e reduzir potencialmente o risco de várias doenças relacionadas à
idade, como Alzheimer e doenças cardiovasculares, de acordo com esse novo
estudo piloto clínico.
Segundo a médica, à
medida que os seres humanos envelhecem, eles experimentam um tipo de inflamação
– apelidado de “envelhecimento da inflamação” – impulsionado por um aumento de
moléculas no sangue, chamadas citocinas, que são mediadores pró-inflamatórios.
Esta inflamação relacionada à idade tem sido associada a doenças crônicas
graves, incluindo a doença de Alzheimer,
doenças cardiovasculares e diabetes. Os cientistas inicialmente pensaram que a
inflamação provinha do sistema imunológico ou do fígado, mas eles apostam agora
que a pele tenha relação com isso, já que quando envelhecemos temos sintomas
dermatológicos como coceira, secura e alterações na acidez da pele. Esses
processos podem levar a uma inflamação pequena, mas como o órgão é muito
extenso, há uma elevação de níveis circulantes de citocinas no sangue,
acrescenta a dermatologista.
No estudo, os
pesquisadores tentaram reverter os danos da pele relacionados com a idade
usando um creme de venda livre indicado para o reparo da barreira cutânea e
benéfico para os três tipos de lipídios (colesterol, ácidos graxos livres e
ceramidas) que são vitais para a saúde da pele. Trinta e três idosos entre as
idades de 58 e 95 aplicaram o creme em todo o corpo duas vezes por dia durante
30 dias. Depois de um mês, os pesquisadores mediram os níveis sanguíneos de
três citocinas – interleucina-1 beta, interleucina-6 e fator de necrose tumoral
(TNF) alfa – que têm sido implicados em doenças inflamatórias relacionadas à
idade. O uso do creme reduziu a quantidade de todas as três citocinas em
comparação com os níveis dos participantes antes de usar o creme e os níveis de
adultos da mesma idade que não usaram o creme. De fato, o uso do creme reduziu
os níveis de citocinas dos participantes para quase equivaler a pessoas na
faixa dos 30 anos, sugerindo que o rejuvenescimento da pele pode reverter o
‘envelhecimento da inflamação’. O creme também melhorou a hidratação
da pele, diminuiu o pH e reparou a barreira de
permeabilidade, diz o estudo.
O estudo faz menção a
outras descobertas, já que até recentemente, a comunidade científica não
acreditava que a pele pudesse contribuir para a inflamação sistêmica e doenças,
mas nos últimos cinco anos, estudos de psoríase e dermatite mostraram que a
inflamação da pele por conta dessas doenças provavelmente aumenta o risco de
doenças cardíacas. “E envelhecimento da pele é muito mais comum do que psoríase
ou dermatite, portanto diminuir a inflamação simplesmente tratando a disfunção
da pele observada no envelhecimento pode ter efeitos profundos sobre a saúde,
diz.
A dermatologista
explica que a pele começa a deteriorar-se por volta dos 50 anos com alterações
no pH epidérmico, na hidratação e na barreira de permeabilidade, que retém a
água e bactérias e outros agentes patogênicos em potencial. Uma perda de
hidratação e quebras na barreira de permeabilidade fazem com que a pele libere
citocinas inflamatórias. Normalmente, essas citocinas ajudam a reparar defeitos
na barreira, mas no envelhecimento
da pele, a barreira não pode ser fixada tão
facilmente, então os sinais inflamatórios continuam a ser liberados,
eventualmente atingindo o sangue, explica.
O próximo passo agora é
realizar um estudo maior e mais longo para comprovar se a redução dos níveis de
citocinas com o creme retarda ou previne doenças inflamatórias relacionadas à
idade. “Ainda é prematuro dizer que o uso do creme impedirá o desenvolvimento
dessas doenças, mas já se sabe que há uma redução da inflamação”, diz a médica.
De qualquer forma, como a pele tem uma importante função de barreira, aplicar
um creme de reparo tecidual e com agentes anti-inflamatórios é uma prática que
deve ser feita a vida inteira, finaliza a médica.
*** Fonte: DRA.
CLAUDIA MARÇAL.
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