terça-feira, 2 de junho de 2020

ENGOLIR CAROÇO OU SEMENTE PODE PROVOCAR APENDICITE: MITO OU VERDADE?...


FONTE: Marcelo Testoni, Colaboração para VivaBem, https://www.uol.com.br/vivabem/

                

Não. Comer sementes ou caroços pequenos não provoca apendicite, que é uma inflamação no apêndice, um órgão localizado no lado direito do intestino grosso. Não se sabe quando ou como essa lenda surgiu e se espalhou, mas existem algumas hipóteses.

Uma delas é que em algum momento do passado pode ter ocorrido uma associação equivocada entre essa doença e a diverticulite, que consiste em uma inflamação dos divertículos, pequenas bolsas que podem surgir nas paredes internas do intestino grosso (chamado de cólon) e que agravadas doem bastante, semelhante a uma crise de apendicite.

Como as causas da diverticulite são incertas e não há consenso entre os médicos sobre o efeito da ingestão das sementes nesse quadro (alguns acreditam que elas o provocam e até o pioram, outros, por falta de evidências conclusivas, acham que não), a confusão entre as duas doenças pode ter ganhado ainda mais força.

"Mas é um erro achar que sua ingestão é a causa da apendicite", explica Vivian Ragasso, especialista em nutrição pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Instituto Cohen, em São Paulo.

Carlos Brunetti, proctologista do Hospital São Luiz, em São Paulo, complementa que não existem comprovações científicas de que consumir sementes ou caroços esteja associado ao aumento do risco para apendicite aguda.

"Esta intuição foi totalmente afastada, dado que a incidência de caroços ou sementes em doentes operados por apendicite aguda chega a ser inferior a 1 caso a cada mil operados, representa menos de 0,1%".

Ainda, segundo o médico, deixar de recomendar a pessoas saudáveis a ingestão de qualquer alimento que contenha sementes ou caroços seria uma situação quase impossível e até mesmo um exagero. Até porque um consumo moderado, seja torrado, mastigado ou triturado no liquidificador com a polpa das frutas de onde surgiram pode ser positivo para ter bons aportes de nutrientes, como para o funcionamento do intestino e manutenção do organismo.

"As sementes e caroços, em geral, são fontes de fibras, vitaminas e minerais. A semente de melancia quando moída libera fatores antioxidantes que auxiliam a manter saudáveis unhas, cabelos e pele. A farinha do caroço de abacate também é rica em antioxidantes, além de ser um antibiótico natural contra diversos tipos de fungos", esclarece Matheus Silva, pós-graduado em nutrição pela USP e especialista da clínica Estima Nutrição, em São Paulo.

"Os riscos podem existir se consumidas em exagero algumas sementes que liberam cianeto no processo de digestão, como as de maçã, pera, pêssego, damasco e cereja", acrescenta.

Então, se da fruta se aproveita até o caroço, o que provoca apendicite?
Para se desencadear o quadro infeccioso no apêndice a causa mais comum, na maioria das vezes, é a obstrução do canal que o liga ao intestino grosso. Segundo os médicos, geralmente o bloqueio ocorre por pedaços pequenos de fezes endurecidas (fecalitos) que impactam na região ou pelo aumento do próprio tecido ocasionado por um processo inflamatório ocasionado por salpingites, pelviperitonites, retocolite ulcerativa, doença de Crohn, problemas vasculares e tumores.

"A dor irradia para o lado direito do abdome, perto da virilha. É uma dor progressiva, sem melhora. Sua evolução pode ser trágica se a pessoa não procurar um médico, pois o apêndice pode romper e gerar um quadro mais grave, como uma infecção generalizada que, caso não seja diagnosticada e tratada a tempo, pode levar à morte", esclarece Vanessa Prado, cirurgiã do aparelho digestivo do Hospital 9 de Julho.

Os principais sintomas de apendicite são perda de apetite, febre, vômito e dor abdominal. O proctologista Brunetti ainda aponta que estatisticamente o quadro é mais frequente em adolescentes e jovens, mas pode ocorrer em qualquer idade, inclusive durante a gestação.

Embora em se tratando de prevenção da doença não existam medidas 100% eficazes, sabe-se que manter a ingestão de líquidos e uma dieta rica e variada reduz o tempo de trânsito intestinal e melhora a consistência das fezes, evitando o risco de se alojarem no apêndice.

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