"Onde já se viu,
uma mulher querer mandar em Estância?"
A primeira mulher a se
eleger prefeita em Sergipe foi Núbia Macedo (PTB), esposa do líder trabalhista
Francisco de Araújo Macedo. Em 1950, ela se candidatou em Estância contra
Francisco Pires (UDN) e Raimundo Souza (PSD), duas importantes lideranças
locais.
Durante a campanha,
dona Núbia enfrentou todo tipo de preconceito. As classes mais abastadas
daquele importante município da região Sul de Sergipe não aceitavam
ser governadas por uma jovem mulher de apenas 33 anos. Muitos diziam que
votar em Francisco Macedo tudo bem, mas na esposa dele já era pedir demais.
Os comícios esbanjavam
agressões verbais, ataques à honra dos adversários e, particularmente à de dona
Núbia. O mínimo que se dizia nas esquinas sobre ela era petulante, nariz em pé:
“Onde já se viu, uma mulher querer mandar em Estância?”, indagava-se nos bares,
no oitão da igreja e nos inferninhos.
A constante presença de
jagunços na cidade intimidava os eleitores. Foi uma das campanhas mais
acirradas do município, até porque Francisco Macedo não deixava barato,
respondendo à altura as agressões contra a esposa, que viria a se eleger depois
deputada estadual por duas vezes.
Para a surpresa da
turma do PSD e da UDN, quando as urnas foram abertas só deu Núbia Macedo.
Derrotado, Raimundo Souza confessou: “A minha decepção foi enorme. Os votos
para Núbia chegavam em correnteza”.
Mas como isso
aconteceu, se até o dia da eleição pouca gente assumia publicamente que votaria
na petebista?
O estanciano João
Batista de Oliveira Santos decifrou o enigma: “Os eleitores de Chico Pires e de
seu Raimundinho iam para a seção eleitoral com as cédulas dos dois nas mãos e a
de dona Núbia entocada. O medo de represálias era tanto que as mulheres
escondiam nas calcinhas o voto marcado com o nome e o número dela”.
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