Muita gente acredita
que fumar maconha ajuda a relaxar, mas isso não é sempre verdade. A cannabis de
hoje tem muito pouca semelhança com aquela usada pela “geração paz e amor”, nos
anos de 1970. Há evidências até do oposto: a potência mais alta da droga
encontrada por aí, hoje, pode provocar transtornos de ansiedade, entre outros
problemas de saúde mental. Assim, quem aderiu à erva para diminuir as tensões
ligadas ao covid-19 e o isolamento social pode se dar mal.
Um estudo publicado
semana passada no Jama Psychiatry, feito com quase 1.100 usuários
britânicos de 24 anos, reforça o alerta. Aqueles que usavam versões mais
potentes da droga apresentaram o dobro do risco de desenvolver transtorno de
ansiedade generalizada, quando comparados a quem usa uma maconha “mais fraca”.
Foi considerado como
“alta potência”, no estudo, amostras de maconha com pelo menos 10% de THC. Esse
composto, o tetrahidracanabinol, é o responsável pelo “barato” provocado pela
erva. Diversos estudos já associaram doses mais altas de THC a problemas
psiquiátricos, como sintomas psicóticos e dependência.
Há mais ou menos duas
décadas, a proporção de THC encontrada nas plantas apreendidas pela polícia era
de 2 a 4%. Há cerca de dez anos, a média passou a ser de 25%, e hoje existem
linhagens de cannabis com 30 a 40% de THC. Se alguém na faixa dos 50 anos
decidir provar um baseado para reviver a sensação que teve aos 20 anos vai
perceber que a “viagem” é bem diferente.
A pesquisa do Jama indica
que os usuários da maconha “mais forte” eram na maioria homens e quatro vezes
mais propensos a ser dependentes da droga. Também foram mais de três vezes mais
propensos à dependência de cigarro e relataram, com duas vezes mais frequência,
ter usado outras drogas ilícitas no ano anterior à entrevista. Por fim, esses
adultos jovens foram 29% mais propensos a relatar experiências psicóticas.
A não ser para aqueles
usuários que plantam cannabis em casa e têm conhecimento científico suficiente
para saber que tipo de linhagem estão usando, ou compram de produtores
certificados (nos países em que a venda é permitida), a maioria das pessoas não
tem ideia do que está consumindo.
Para quem acha que pode
parar quando quiser, faço outro alerta. Outro trabalho publicado
esses dias na Jama, uma meta-análise que envolveu mais de 23.500 pessoas,
revelou que 47% dos usuários regulares ou dependentes têm sintomas de
abstinência ao parar de fumar maconha. Isso é ainda mais preocupante quando se
leva em consideração que boa parte dos usuários começa na adolescência.
Por tudo isso, vale o
princípio da precaução, ainda mais neste período em que todo mundo já tem
motivos de sobra para ficar ansioso. O uso terapêutico da maconha tem sido
bastante estudado, alguns benefícios são bem conhecidos, enquanto outros ainda
aguardam confirmação. Em alguns casos, a melhora é incontestável. Mas o uso
medicinal é muito diferente do recreativo.
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