terça-feira, 2 de junho de 2020

ÔMEGA-3 PODE TRAZER BENEFÍCIOS E RISCOS PARA PACIENTES COM COVID-19...


FONTE: *** Do Jornal da USP, https://www.uol.com.br/

                            

Desde o início da pandemia de covid-19, tem-se questionado o uso de suplementos alimentares na recuperação dos doentes. Dados da literatura científica mostram que a suplementação com ácidos graxos ômega-3 apresenta potenciais benefícios e riscos.

De um lado, pode ajudar a reduzir o quadro inflamatório causado quando ocorre a chamada "tempestade de citocinas" nos pacientes com covid-19. Porém, o suplemento também pode causar reações adversas que variam dependendo de cada indivíduo.

Dessa forma, não é possível recomendar sua utilização em pacientes com covid-19 até que sejam realizados estudos clínicos mais conclusivos, e recomenda-se sempre buscar orientação profissional antes de ingerir esses suplementos.

Os ácidos graxos ômega-3 constituem um dos suplementos alimentares mais consumidos e estudados no mundo. Normalmente são encontrados em farmácias ou lojas especializadas, na forma de cápsulas de óleo de peixe ou óleo de alga. São consumidos principalmente por indivíduos que apresentam algum risco cardiovascular, como aqueles que têm elevada concentração de triglicérides no sangue.

Ômega-3 e covid-19.
Os médicos têm observado que pacientes com covid-19 podem apresentar, além dos sintomas clássicos como febre e tosse, também dificuldades respiratórias, reduzida oxigenação sanguínea, coagulação excessiva e redução do número de células do sistema imune.

Pacientes em estado crítico também apresentam elevada concentração de substâncias inflamatórias conhecidas por citocinas. Em excesso, essas substâncias provocam a chamada "tempestade de citocinas", que pode causar um quadro inflamatório agudo, o qual pode comprometer os pulmões e outros órgãos do corpo, levando à morte.

A ação anti-inflamatória dos ácidos graxos ômega-3 ocorre após uma série de reações metabólicas após sua ingestão pela dieta ou por suplementação.

Os estudos científicos mostram que os ácidos graxos ômega-3 podem modificar a composição dos lipídios das membranas celulares, que resulta na produção de moléculas que são menos inflamatórias do que aquelas produzidas quando o ômega-3 não está presente, ajudando a diminuir a inflamação.

Outro aspecto também pouco conhecido é que a combinação de ômega-3 com aspirina auxilia na diminuição da inflamação, o que pode melhorar o prognóstico de pacientes acometidos pela "tempestade de citocinas". Entretanto, é preciso ressaltar que, nas dosagens consideradas seguras para suplementação, a modificação da composição das membranas não é imediata, podendo levar mais de uma semana para ocorrer.

Um possível efeito adverso da suplementação com ácidos graxos ômega-3 é que esses compostos podem tornar as membranas celulares mais suscetíveis ao ataque de radicais livres e outras espécies altamente reativas, levando ao dano oxidativo. Este fato constitui uma dificuldade adicional para pacientes hospitalizados e com as defesas comprometidas, pois intensifica o dano oxidativo já elevado em decorrência do quadro inflamatório.

Assim como ocorre com os medicamentos, a resposta metabólica decorrente de qualquer tipo de suplementação é individualizada, isto é, pode variar em função do gênero, idade, estilo de vida e características genéticas, entre outros.

Portanto, as conclusões sobre os potenciais efeitos da suplementação com ácidos graxos ômega-3 em pacientes com a covid-19 precisam ser baseadas em resultados observados em estudos controlados, realizados com um grande número de indivíduos.

Além disso, o mecanismo de ação do vírus causador da covid-19 ainda não está totalmente esclarecido, sendo que vários fatores parecem estar envolvidos com a evolução clínica dos pacientes. Esses mesmos fatores poderão influenciar a eficiência da suplementação com ácidos graxos ômega-3 como complementação à terapia com medicamentos aplicada no suporte dos pacientes em estado crítico.

*** Fontes: Inar Castro, professora da FCF (Faculdade de Ciências Farmacêuticas) da USP e pesquisadora associada do FoRC (Centro de Pesquisa de Alimentos) da USP; Tayse F.F. da Silveira, da FCF; e professor Marcelo M. Rogero, da FSP (Faculdade de Saúde Pública) da USP e pesquisador Associado do FoRC.

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