segunda-feira, 27 de julho de 2020

É #FAKE QUE CASCAS DA LARANJA E DO LIMÃO CONTENHAM PRINCÍPIOS DA CLOROQUINA E DA IVERMECTINA E CURAM A COVID-19...


FONTE:Roberta Pennafort (CBN), https://extra.globo.com/

               

Está sendo compartilhado nas redes sociais que as cascas da laranja e do limão contêm cloroquina e ivermectina, e que um suco feito com essa parte da fruta protege da Covid-19 e cura a infecção já instalada. É #FAKE.
                

As duas afirmações são falsas: as cascas das frutas não contêm os princípios ativos desses remédios, que são drogas sintéticas, produzidas em laboratório; além disso, nem a cloroquina nem a ivermectina têm eficácia comprovada para combater o coronavírus, sejam separadas ou combinadas.

A mensagem que viralizou diz: “Cloroquina está na casca da laranja e do limão. É uma coisa que a gente tem em casa em abundância e é baratinho, baratinho. Como é que a gente vai fazer? A gente vai pegar uma laranja e um limão, vai cortar em pedaços com casca e tudo, que o princípio ativo dos dois remédios, ivermectina e cloroquina, está na casca. Então a gente vai cortar com tudo e colocar dentro do liquidificador com um copo de água e uma colher de mel ou de açúcar. Vai bater e vai fazer um suco”.

A indicação da mensagem é tomar dois copos por dia como medida de prevenção e, no caso de pessoas já infectadas, a dosagem recomendada é de quatro copos. Só que até aqui não existe qualquer substância já testada e aprovada que possa ajudar na prevenção da doença, tampouco sirva de tratamento, de acordo com médicos entrevistados pela CBN. Nenhuma fruta ou qualquer outro alimento ou bebida serve para deter a Covid-19.

O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma: “Nem a cloroquina nem a ivermectina estão na casca da laranja e do limão, são medicamentos produzidos em laboratórios.”

Sobre a informação propagada já há meses de que os medicamentos servem para curar a infecção pelo coronavírus - o que inclusive vem levando médicos a indicá-los a pacientes - Weissmann esclarece que só estudos consistentes são conclusivos para provar que um remédio é eficiente e seguro para ser indicado à população. E isso não aconteceu – pelo contrário, as evidências científicas fundamentam a não-prescrição até o momento. No caso da cloroquina, os efeitos colaterais, como a arritmia cardíaca, a tornam perigosa.

“As pessoas precisam compreender que, para a avaliação da eficácia de uma medicaçã,o são necessários estudos randomizados (que é quando os indivíduos que vão tomar a substância a ser testada são escolhidos aleatoriamente no grupo participantes da pesquisa). Além disso, é preciso uma análise minuciosa dos critérios de seleção, inclusão e exclusão dos pacientes. E os estudos publicados, com evidência científica confiável, não mostram eficácia e segurança de qualquer medicamento nem para a prevenção nem para o tratamento da Covid-19”, ele sublinha.

Além de reforçar que a cloroquina não deve ser receitada para a Covid-19, o virologista Rômulo Neris, doutorando pela UFRJ, reforça que a ivermectina, um vermífugo, não tem atividade antiviral comprovada em indivíduos infectados por Sars-CoV-2.

“Estudos em células somente apontam que, para manifestar capacidade antiviral, são necessárias concentrações muito maiores do que a dose máxima recomendada a indivíduos”, diz Neris. “Por outro lado, diversos estudos têm somado evidências crescentes de que a cloroquina não possui atividade contra o novo coronavírus. Um estudo publicado recentemente mostrou que nem mesmo em células de pulmão isoladas em laboratório essa capacidade é identificada.”

Sobre a presença de medicamentos nas cascas, ele aponta a confusão da mensagem falsa que está circulando: “A cloroquina foi criada e é produzida artificialmente em laboratório. O que pode ser encontrado em algumas espécies de plantas é o quinino, similar a esse composto. Só que não existem estudos que comprovem a eficácia do uso de quinino para tratamento da Covid-19”, explica o virologista.

“Mesmo para a malária (doença tratada com a cloroquina), o quinino só é utilizado para o tratamento caso o parasita seja resistente ao uso de cloroquina e não haja outra terapia disponível. Por sua vez, a ivermectina faz parte de um grupo de substâncias conhecidas como avermectinas, e não é produzido em frutas, mas em bactérias. A ivermectina utilizada comercialmente é obtida através da combinação de dois tipos de avermectinas produzidas em laboratório”, ele continua.

O pneumologista Rodolfo Fred Behrsin, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, esclarece: “Tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina são derivados sintéticos do quinino. Este é produzido a partir da casca da chinchona, uma árvore bastante comum na América do Sul. Portanto, não vêm da laranja ou do limão. O quinino era a droga usada antigamente para tratar a malária. Devido à resistência gerada por seu uso indiscriminado, perdeu eficiência. Portanto, esta receita que está sendo compartilhada não conterá uma única molécula de hidroxicloroquina sequer.”

Ele lembra que, à medida em que saem novos estudos clínicos, vai se comprovando a ineficácia da cloroquina para o tratamento da Covid-19. O mais recente, brasileiro, foi publicado no New England Journal of Medicine, um periódico renomado. O trabalho é da Coalizão Covid-19, com participação de 55 hospitais públicos e privados de ponta do país, e revelou que a hidroxicloroquina e a azitromicina não trazem melhoras no tratamento da doença. Quanto à ivermectina, o pneumologista reforça que existem apenas estudos in vitro, em laboratório, e que não é comprovada a ação antiviral em humanos.

A respeito das informações falsas sobre o coronavírus que circulam nas redes sociais, João Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, se disse surpreso com a mensagem que está sendo compartilhado dessa vez. “É uma maluquice dizer que existe remédio na casca de frutas. A gente não sabe de onde tiram essas ideias. Não são componentes que ocorrem naturalmente.”

A equipe do Fato ou Fake já desmentiu outras curas milagrosas da Covid-19 propagandeadas por pessoas mal intencionadas e compartilhadas milhares de vezes. As receitas caseiras incluem frutas, chás, alimentos e plantas medicinais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, não há qualquer preparado feito em casa que possa combater a infecção pelo coronavírus nem preveni-la.

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