Está sendo
compartilhado nas redes sociais que as cascas da laranja e do limão contêm
cloroquina e ivermectina, e que um suco feito com essa parte da fruta protege
da Covid-19 e cura a infecção já instalada. É #FAKE.
As duas afirmações são
falsas: as cascas das frutas não contêm os princípios ativos desses remédios,
que são drogas sintéticas, produzidas em laboratório; além disso, nem a
cloroquina nem a ivermectina têm eficácia comprovada para combater o
coronavírus, sejam separadas ou combinadas.
A mensagem que
viralizou diz: “Cloroquina está na casca da laranja e do limão. É uma coisa que
a gente tem em casa em abundância e é baratinho, baratinho. Como é que a gente
vai fazer? A gente vai pegar uma laranja e um limão, vai cortar em pedaços com
casca e tudo, que o princípio ativo dos dois remédios, ivermectina e
cloroquina, está na casca. Então a gente vai cortar com tudo e colocar dentro
do liquidificador com um copo de água e uma colher de mel ou de açúcar. Vai
bater e vai fazer um suco”.
A indicação da mensagem
é tomar dois copos por dia como medida de prevenção e, no caso de pessoas já
infectadas, a dosagem recomendada é de quatro copos. Só que até aqui não existe
qualquer substância já testada e aprovada que possa ajudar na prevenção da doença,
tampouco sirva de tratamento, de acordo com médicos entrevistados pela CBN.
Nenhuma fruta ou qualquer outro alimento ou bebida serve para deter a Covid-19.
O infectologista
Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma: “Nem
a cloroquina nem a ivermectina estão na casca da laranja e do limão, são
medicamentos produzidos em laboratórios.”
Sobre a informação
propagada já há meses de que os medicamentos servem para curar a infecção pelo
coronavírus - o que inclusive vem levando médicos a indicá-los a pacientes -
Weissmann esclarece que só estudos consistentes são conclusivos para provar que
um remédio é eficiente e seguro para ser indicado à população. E isso não
aconteceu – pelo contrário, as evidências científicas fundamentam a
não-prescrição até o momento. No caso da cloroquina, os efeitos colaterais,
como a arritmia cardíaca, a tornam perigosa.
“As pessoas precisam
compreender que, para a avaliação da eficácia de uma medicaçã,o são necessários
estudos randomizados (que é quando os indivíduos que vão tomar a substância a
ser testada são escolhidos aleatoriamente no grupo participantes da pesquisa).
Além disso, é preciso uma análise minuciosa dos critérios de seleção, inclusão
e exclusão dos pacientes. E os estudos publicados, com evidência científica
confiável, não mostram eficácia e segurança de qualquer medicamento nem para a
prevenção nem para o tratamento da Covid-19”, ele sublinha.
Além de reforçar que a
cloroquina não deve ser receitada para a Covid-19, o virologista Rômulo Neris,
doutorando pela UFRJ, reforça que a ivermectina, um vermífugo, não tem
atividade antiviral comprovada em indivíduos infectados por Sars-CoV-2.
“Estudos em células
somente apontam que, para manifestar capacidade antiviral, são necessárias
concentrações muito maiores do que a dose máxima recomendada a indivíduos”, diz
Neris. “Por outro lado, diversos estudos têm somado evidências crescentes de
que a cloroquina não possui atividade contra o novo coronavírus. Um estudo
publicado recentemente mostrou que nem mesmo em células de pulmão isoladas em
laboratório essa capacidade é identificada.”
Sobre a presença de
medicamentos nas cascas, ele aponta a confusão da mensagem falsa que está
circulando: “A cloroquina foi criada e é produzida artificialmente em
laboratório. O que pode ser encontrado em algumas espécies de plantas é o
quinino, similar a esse composto. Só que não existem estudos que comprovem a
eficácia do uso de quinino para tratamento da Covid-19”, explica o virologista.
“Mesmo para a malária
(doença tratada com a cloroquina), o quinino só é utilizado para o tratamento
caso o parasita seja resistente ao uso de cloroquina e não haja outra terapia
disponível. Por sua vez, a ivermectina faz parte de um grupo de substâncias
conhecidas como avermectinas, e não é produzido em frutas, mas em bactérias. A
ivermectina utilizada comercialmente é obtida através da combinação de dois
tipos de avermectinas produzidas em laboratório”, ele continua.
O pneumologista Rodolfo
Fred Behrsin, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, esclarece:
“Tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina são derivados sintéticos do
quinino. Este é produzido a partir da casca da chinchona, uma árvore bastante
comum na América do Sul. Portanto, não vêm da laranja ou do limão. O quinino
era a droga usada antigamente para tratar a malária. Devido à resistência
gerada por seu uso indiscriminado, perdeu eficiência. Portanto, esta receita
que está sendo compartilhada não conterá uma única molécula de
hidroxicloroquina sequer.”
Ele lembra que, à
medida em que saem novos estudos clínicos, vai se comprovando a ineficácia da
cloroquina para o tratamento da Covid-19. O mais recente, brasileiro, foi
publicado no New England Journal of Medicine, um periódico renomado. O trabalho
é da Coalizão Covid-19, com participação de 55 hospitais públicos e privados de
ponta do país, e revelou que a hidroxicloroquina e a azitromicina não trazem
melhoras no tratamento da doença. Quanto à ivermectina, o pneumologista reforça
que existem apenas estudos in vitro, em laboratório, e que não é comprovada a
ação antiviral em humanos.
A respeito das
informações falsas sobre o coronavírus que circulam nas redes sociais, João
Prats, infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, se disse
surpreso com a mensagem que está sendo compartilhado dessa vez. “É uma
maluquice dizer que existe remédio na casca de frutas. A gente não sabe de onde
tiram essas ideias. Não são componentes que ocorrem naturalmente.”
A equipe do Fato ou
Fake já desmentiu outras curas milagrosas da Covid-19 propagandeadas por
pessoas mal intencionadas e compartilhadas milhares de vezes. As receitas
caseiras incluem frutas, chás, alimentos e plantas medicinais. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, não há qualquer preparado feito em casa que possa
combater a infecção pelo coronavírus nem preveni-la.
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