Quando a pandemia
começou, as preocupações de todo mundo se voltaram para os mais idosos, que,
sem familiaridade com a tecnologia, correriam o risco de ficar ainda mais
isolados que o resto da população. Crianças e adolescentes comemoraram suas
"férias forçadas" e até ganharam mais liberdade dos pais para ficar
na internet. Mas o que temos percebido, cada vez mais, é que os jovens têm
sofrido mais do que muita gente imagina com o isolamento.
Um grande estudo
britânico publicado na mais recente edição do periódico The Lancet
Psychiatry confirma essa tendência. Um quarto (25%) dos 17.452
entrevistados apresentou algum tipo de abalo na saúde mental entre março e
abril deste ano, sendo que antes da pandemia essa proporção era de um quinto
(20%). Apesar dos maiores riscos que o novo coronavírus apresenta para os mais
idosos, os índices de estresse psicológico foram mais altos para jovens de 16 a
24 anos do que para a população com 70 anos ou mais.
Em geral, as pessoas
acham que crianças e adolescentes têm amigos, paqueras e distrações
suficientes, por isso não têm do que reclamar. Mas a realidade não é bem assim.
Outra grande pesquisa,
que teve início bem antes da pandemia, revela que indivíduos de 16 a 24 anos de
idade são os que mais sofrem de solidão. O sentimento é referido por 40% deles!
E mais: entre crianças de 10 a 12 anos, a proporção chega a 14%. Na faixa dos
75 anos ou mais, 27% se sentem solitários. O experimento envolveu 55 mil
pessoas de diferentes países, culturas e gêneros. Um dos fatores atribuídos a
essa epidemia de solidão entre os mais novos é o uso excessivo da tecnologia e
a substituição das interações face a face por mensagens de texto, numa fase em
que o jovem ainda não tem recursos internos suficientes para enfrentar as novas
responsabilidades.
Para aqueles que não se
identificam como heterossexuais, a influência das mídias sociais parece ser
ainda mais danosa, por causa do preconceito e do cyberbullying. Para se ter uma
ideia, uma pesquisa
da equipe da Universidade de Washington acompanhou 214 jovens LGBTQ num
acampamento de férias sem acesso a eletrônicos e verificou que os sintomas
depressivos dos participantes diminuíram pela metade durante o "detox
digital". Mas como se afastar das telas num momento como o atual?
Aguentar um mês de
isolamento e incertezas é difícil, mas agora já são mais de quatro e ainda não
é possível prever quando tudo isso vai acabar. Se no início a gente estava em
alerta, pronto para se proteger ou ajudar, agora a sensação generalizada é de
cansaço e falta de motivação. Mas tente não deixar de fazer um esforço para se
conectar de verdade com outras pessoas, da maneira que for possível. Os
encontros por videoconferência podem ter perdido o encanto inicial, mas eles
ainda são necessários. Ainda mais para quem cresceu cercado de telas.
Colunista do VivaBem.
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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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