FONTE: Mariana Nakajuni, Da Agência Einstein, https://www.uol.com.br/
Depois
da água, o chá é a bebida mais consumida no mundo, com mais de 4 mil anos de
história.
Pesquisas
anteriores têm mostrado os benefícios do chá na redução da hipertensão e dos riscos de doenças cardíacas; porém, os mecanismos
por trás dessas particularidades ainda não eram completamente conhecidos.
Agora,
cientistas da Universidade da Califórnia em Irvine descobriram compostos
presentes nos chás verde e preto que relaxam os vasos sanguíneos. O estudo pode
explicar as propriedades anti-hipertensivas da bebida e auxiliar no
desenvolvimento de medicações para baixar a pressão arterial.
Tanto
o chá verde quanto o preto são
obtidos a partir da mesma planta, a Camellia sinensis — o que os
distingue é o processo de fermentação das folhas, que resulta em diferentes
características e sabores. A bebida contém catequinas, compostos que possuem
uma função antioxidante.
Por
meio de modelos computacionais e estudos de mutagênese, os cientistas
descobriram que duas catequinas específicas, conhecidas como ECG e EGCG, são
capazes de ativar a proteína KCNQ5. Ela atua como um canal, e sua ativação
permite que íons de potássio saiam da célula e reduzam a excitabilidade
celular.
Como
a proteína está localizada no tecido muscular que reveste a parede dos vasos
sanguíneos, esse processo faz com que as células relaxem e os vasos se dilatem,
diminuindo a pressão arterial.
Além
disso, a KCNQ5 está presente em diferentes partes do cérebro, atuando na
regulação da atividade elétrica e na sinalização entre os neurônios. Existem
mutações no gene da proteína que impedem o funcionamento dos canais, levando à
encefalopatia epiléptica, um transtorno de desenvolvimento que causa convulsões
recorrentes.
As
novas descobertas sugerem que, da mesma forma que as catequinas ativam a KCNQ5
na parede dos vasos sanguíneos, elas também são capazes de restaurar a função
dos canais danificados no cérebro.
"Nós
descobrimos que a EGCG e ECG ativam de maneira seletiva a KCNQ5", afirma o
estudo, publicado na revista científica Cellular Physiology and Biochemistry. "Isso faz com que elas sejam potenciais candidatas
para futuras otimizações na química medicinal e para o desenvolvimento de
medicamentos de hipertensão e até mesmo encefalopatia causada pela perda de
função da KCNQ5".
Os
pesquisadores também observaram que, ao aquecer o chá a 35º C, sua composição
química se altera, de modo que a ativação da KCNQ5 se torna mais efetiva.
"Independentemente
da forma como o chá é consumido — quente ou gelado —, essa temperatura é
alcançada depois que a bebida é ingerida, uma vez que a temperatura do corpo
humano é por volta de 37º C", diz Geoffrey Abbott, autor do estudo e
professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica na Universidade da
Califórnia em Irvine.
"Portanto,
o simples ato de tomar chá já ativa suas propriedades benéficas e
anti-hipertensivas".
Em
países como Inglaterra e Estados Unidos, é comum o costume de adicionar leite
ao chá preto.
Durante
as investigações, os cientistas perceberam que, misturado ao chá, o leite
impedia a ativação da KCNQ5 e, portanto, não ocorria a dilatação dos vasos. O
estudo explica que isso ocorre porque determinados componentes da bebida se
ligam às catequinas do chá, impedindo a ativação do canal.
Mas
Abbott faz ressalvas: "Para nós, isso não significa que, para garantir as
propriedades benéficas do chá, a pessoa precisa evitar o consumo simultâneo de leite.
Temos
confiança de que o ambiente do estômago
humano irá separar as catequinas das proteínas do leite e outras moléculas que
poderiam bloquear seus efeitos positivos".
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