FONTE: DA
EFE, DE SÃO PAULO (f5.folha.uol.com.br).
Mais do que uma necessidade do organismo, comer pode representar uma
questão emocional, como explicou o psiquiatra Arthur Kaufman, do Departamento
de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) à
agência de notícias Efe.
Segundo ele a comida, em todos os tempos, sempre esteve associada a
sentimentos.
"Bebemos e comemos para comemorar, mas também recorremos à comida
quando estamos tristes --sobretudo às mais calóricas. Costumamos nos dar o
direito aos excessos por achar que naquele dia merecemos. Quem nunca disse:
comi tudo o que tinha direito?", observa.
Perder peso, nesse caso, envolve interferir em mecanismos emocionais
desencadeados por questões pessoais. Dessa forma, diminuir a quantidade de
comida ou mesmo eliminar determinado alimento da dieta pode não surtir efeito
e, ao contrário, até piorar o quadro.
Segundo Kaufman, é possível tratar distúrbios alimentares e emagrecer
sem deixar de comer um doce ou tomar um refrigerante.
"Há pessoas para quem a comida exerce o mesmo efeito --excitante ou
calmante-- da droga e ela é capaz de desenvolver um distúrbio alimentar que a
leva a comer mesmo sem fome, por tristeza, alegria ou ansiedade".
Nesses casos, o tratamento deve ser focado no distúrbio alimentar e em
sua causa emocional e não na doença "obesidade" em si, explica.
De acordo com o psiquiatra, a comida está associada a coisas boas não
apenas pela questão da alimentação, mas porque as comemorações são sempre
feitas com comida calórica: aniversários, celebrações e casamentos.
"Ninguém comemora uma conquista ou se consola por uma perda comendo
alface. Ela interpreta que por estar feliz merece comer o que quer, e o mesmo
ocorre quando está triste".
Para ele, as pessoas associam as "guloseimas que os pais davam na infância"
aos momentos de carinho e, se ficam tristes, relacionam o alimento ao momento
bom do período da vida.
"Ao não se sentir preenchida com esse carinho, aquela guloseima
'volta' porque a faz lembrar dos pais. É como se a mãe viesse trazendo a
comida", conta.
Por isso, é um distúrbio difícil de tratar. É necessário desfazer essas
associações e conter os impulsos que já estão automatizados no comportamento.
"Indico aos meus pacientes que criem um 'kit emergência' para os
momentos em que estiverem chateados, porque a tristeza é má conselheira",
sugere o especialista.
Outra recomendação é não "fazer compras quando estiver triste ou
com fome, porque é no supermercado que a pessoa começa a engordar".
O psiquiatra indica organizar um diário alimentar: anotar o que come de
acordo com os dias, horário e quantidade, o local e o que está sentindo, e se
comeu sozinho ou com alguém.
"A companhia é importante porque há pessoas que nos deixam mais
tensos e fazem com que comamos mais", alerta.
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