FONTE: iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
A maioria das pessoas acredita que
argumentar é “vencer” o outro, colocando por terra suas ideias e opiniões. Mas
este é um grande engano.
Segundo o professor de linguística Antônio
Suárez Abreu, autor do livro “A Arte de Argumentar – Gerenciando Razão e
Emoção” (Ateliê Editorial, 2008), saber argumentar é, em primeiro lugar,
aprender a integrar-se ao universo do outro. “É preciso fazer com que o outro
tenha condições de ver o objeto da disputa de um ponto de vista diferente
daquele a que está acostumado e, ao final, tenha o desejo mudá-lo, concordando
com quem argumenta”, explica.
Portanto, em uma discussão, está
terminantemente proibido querer impor o seu ponto de vista a qualquer custo.
Aquele que logo de cara diz “eu não concordo com você” provavelmente não vai
conseguir convencer ninguém. Sendo assim, mostrar consideração pelo que o outro
pensa ou sente é o melhor caminho. “Quando nosso interlocutor acredita que
pensamos de maneira igual, fica mais fácil ele concordar com as teses que
estamos defendendo”, afirma Ana Lúcia Tinoco Cabral, pesquisadora da área de
linguística e autora do livro “A Força das Palavras – Dizer e Argumentar”
(Editora Contexto, 2010).
Veja
dez pontos para argumentar melhor em qualquer discussão ou negociação.
1.
Não bata de frente.
Em primeiro lugar, é importante aprender a
ouvir, para detectar o que o outro pensa sobre um determinado assunto. “Ninguém
consegue convencer o outro batendo de frente com seus valores ou modelos
mentais. É sempre importante, antes de propor um argumento, conseguir abrir uma
brecha nesses modelos”, ensina o professor Antônio Suárez Abreu.
2.
Foque no que o outro tem a ganhar.
Depois que você ouviu atentamente
a exposição do outro, coloque o foco da sua fala no que o interlocutor tem a
ganhar, e não naquilo que é objeto imediato do seu desejo. Foi assim que o
analista de logística Rafael Dalecio Luiz conseguiu uma vaga em uma
multinacional automobilística para a qual prestava serviço. “Eu era de uma
empresa terceirizada e tinha sido transferido de São Paulo para Curitiba há um
ano. Quando vi que havia vagas no cliente, percebi que era uma chance de
voltar. Então, resolvi me oferecer ao cargo”, diz.
Mas quando procurou o responsável
pelo processo seletivo, Rafael embasou os argumentos naquilo que a companhia
teria a ganhar com a sua contratação, em vez de simplesmente dizer que gostaria
de retornar à cidade natal.
“Mostrei que a empresa
economizaria, pois não precisaria arcar com custos de transferência, e também
apresentei os resultados da minha performance na área com números, que deixam a
informação mais crível”, conta ele, que conseguiu a vaga.
3.
Use os argumentos certos.
Para “vencer” uma discussão,
também é preciso escolher os
argumentos de maneira apropriada e conduzi-los de forma lógica. De acordo com o
professor de oratória Reinaldo Polito, o mais adequado é embasar sua fala em
exemplos, comparações, estatísticas, pesquisas, estudos técnicos e científicos,
teses e testemunhos. Desta forma, é essencial manter-se sempre bem informado
sobre o que acontece à sua volta. Quando necessário, vasculhe dados que possam
ser úteis para um argumento consistente.
4.
Foque nas ideias principais.
Um erro bastante comum no processo de
“convencer” o outro é usar muitos argumentos ao mesmo tempo. Isso pode
confundir a pessoa e enfraquecer o poder de persuasão. Por isso, o melhor é
eleger as ideias mais consistentes e focar apenas nelas. No entanto, evite
ficar repetindo o mesmo discurso a todo momento, para que a alegação não perca
a força.
5.
Não apresente sua opinião de cara.
Uma técnica que costuma funcionar bem é não
apresentar a sua opinião logo de cara. O bom orador, aquele que argumenta de forma
eficaz, conduz o raciocínio para depois apresentar a tese. Daí, se o outro
concordou com o pensamento todo fica mais fácil, e até inevitável, aceitar a
ideia.
Nestes casos, uma boa dica é usar
argumentos dedutivos, ou seja, aqueles que partem do geral para o particular.
Por exemplo: Todos os habitantes da ilha são alfabetizados (informação de
conhecimento geral). Alberto é um habitante da ilha. Logo, Alberto é alfabetizado
(dado de caráter particular).
6.
Mude a importância dos valores.
No livro “A Arte de Argumentar – Gerenciando
Razão e Emoção”, Antônio Suárez Abreu mostra a re-hierquização de valores como
um bom método para argumentar. “Você não destrói um valor do outro, apenas põe
um outro acima, em termos de hierarquia”, diz. Na verdade, é uma espécie de
drible. Um exemplo disso é o que fez Monteiro Lobato em seus livros infantis.
Em sua época, por volta de 1920, o “modelo do pai rigoroso” imperava. Em vez de
combatê-lo, o autor colocou as crianças em férias no Sítio do Picapau Amarelo,
um lugar em que o pai foi substituído por uma avó carinhosa, Dona Benta, que
podia ensinar sem punir.
7.
Fuja da retorsão.
Não abuse da chamada retorsão, o ato de
mostrar que o interlocutor pratica ações contrárias às que defende. É o caso de
alguém que, confrontado por chegar atrasado, diz algo como: “Mas, você, no mês
passado, também chegou atrasado três vezes”. Este argumento é o mais usado nas
chamadas DRs, as temidas “discussões de relacionamento”. E é por isso que um
casal raramente chega a um consenso.
8.
Transmita credibilidade.
De acordo com o professor de oratória
Reinaldo Polito, o melhor de todos os argumentos é a credibilidade do orador.
Assim, a alegação só terá o efeito desejado se existir coerência entre o
discurso e a atitude de quem fala. “Por melhores que sejam as palavras, se não
encontrarem respaldo no comportamento do orador, não terão crédito e não serão
suficientes para convencer”, diz.
9.
Fale com domínio e entusiasmo.
Outro ponto importante para passar
credibilidade no argumento é ser natural, espontâneo e, principalmente,
demonstrar conhecimento sobre o assunto que se expõe. Também é essencial
transmitir emoção. “A força da argumentação também depende da maneira como ela
é exposta. Se a pessoa falar sem motivação, sem energia, sua causa poderá
parecer inconsistente”, analisa o professor Reinaldo Polito.
10.
Trate o outro com educação e gentileza.
Seja qual for o debate, é importante sempre
tratar o outro com educação e gentileza. Sem isso, nada funciona. “Por favor”,
“entendo seu ponto de vista” e “obrigado por expor tão claramente aquilo que
pensa” são maneiras de se mostrar comprometido com a imagem do outro.
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