FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
A notícia de mãe
e filho que se apaixonaram e estão namorando no Novo México (EUA) causou estranheza
pelo mundo e uma enxurrada de comentários reprovando o relacionamento nas redes
sociais. Monica Mares, 36, não criou seu filho Caleb Peterson, 19, e, quando se
conheceram, se apaixonaram.
Em sua defesa, eles
alegam que sofrem de uma condição chamada GSA (Atração Sexual Genética, em
sigla em inglês) e que, por isso, o namoro deveria ser aceito. O termo é dado
para atração sexual e intensos sentimentos amorosos entre parentes próximos que
se encontram (ou reencontram após longo período) como adultos. Mas nem todo
mundo considera essa uma alegação válida.
"Cada caso é um
caso e deve ser analisado individualmente, o incesto é uma proibição que põe
limites sociais e é difícil vê-lo de outra forma", afirma Maria Luísa
Valente, do departamento de psicologia da Unesp (Universidade Estadual
Paulista).
A
genética explica?
Não há estudos
científicos que comprovem que familiares são geneticamente ligados amorosamente
ou que existam genes que podem determinar essa atração. A condição também não
consta na lista de síndromes e doenças da Associação de Psiquiatria Americana,
usada como base para determinar o que é e o que não é um transtorno
psiquiátrico.
"Nunca foi
pesquisado a fundo, não há provas de que se trata de que é genético. A biologia
não cria uma interação social de amor e carinho", afirma Diego Tavares,
psiquiatra do Programa de Transtornos Afetivos da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo). Ele cita que existe um caso publicado por uma
psiquiatra que se apaixonou pelo filho e cunhou o termo Atração Sexual
Genética.
Cláudio Cohen,
psiquiatra e coordenador do Cearas (Centro de Estudos e Atendimento Relativos
ao Abuso Sexual), concorda. "Não se trata de genética, ou só nos
interessaríamos por indivíduos da mesma família."
Para o psiquiatra da
USP, é mais provável que a razão do relacionamento seja psicológica, e não
genética.
O fato de a pessoa
não conhecer o pai ou a mãe deixa um impacto psicológico. Durante toda a vida a
pessoa pode imaginar como seria a relação, idealizar um parente perfeito, e
quando o reencontro acontece por vontade mútua, os sentimentos são fortes e se
misturam."
Diego
Tavares, psiquiatra da USP.
Essa repercussão
psicológica é responsável por respostas intensas, que podem ser de raiva, ódio
ou amor.
Grande parte da
população sente repulsa ao ver um namoro entre mãe e filho, mas Tavares
ressalta que nesses casos nem filhos nem pais viveram um com o outro a
experiência do papel de parentesco. Aqueles que afirmam sofrer de GSA não têm
um amor familiar estruturado por seus parceiros e acabam criando outro
sentimento. Não podemos enquadra-los como doentes.
"Quando o pai e
a filha se encontram após anos, eles não se veem como família. Ser mãe, pai ou
irmão é um papel social, não biológico. Quando pensamos em mãe pensamos em quem
educou, e não na progenitora. É como dizem: Mãe é quem cria", diz o
psiquiatra.
Incesto
é tabu social.
A dificuldade em
compreender os amantes acontece por o incesto ser socialmente inaceitável.
"A proibição do incesto é o que permite que os humanos saiam do
comportamento animal e entrem na cultura", diz Cohen.
Para o médico, o
incesto é um crime contra a família, provocando uma confusão de posições
familiares. "Não existe estrutura familiar do ponto de vista biológico,
mas existe a função de pai e mãe do ponto de vista social e emocional. Quando
os papéis se invertem, as funções de carinho e proteção também ficam em
desordem", explica.
Apesar de gerar tanta
polêmica, o casal entrou na Justiça para conseguir manter o relacionamento, já
que no Novo México o incesto é crime. O casal pode ser condenado a um ano e
meio de prisão e a pagar uma multa de cerca de R$ 15 mil por manter o
relacionamento.
No Brasil não é
permitido que os pais se casem legalmente com os filhos, mesmo com os adotivos.
No entanto, se relacionar com um membro da família (pai, mãe, irmão), desde que
ambos sejam maiores de idade, não é considerado crime.
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