FONTE: Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil.
A expectativa é que o medicamento possa ser
liberado para consumo no segundo semestre de 2019.
O
Instituto Vital Brazil (IVB), vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio
de Janeiro, está desenvolvendo um medicamento inédito contra veneno de abelhas,
em parceria com o Centro de Estudos e Venenos de Animais Peçonhentos da
Universidade Estadual Paulista de Botucatu (Cevap/Unesp), cuja tecnologia de
produção e o próprio soro poderão ser exportados para outras nações.
Países
asiáticos já têm manifestado interesse nesse sentido, disse sábado (1º)
à Agência Brasil o médico veterinário Luís Eduardo Cunha, assessor da
diretoria científica do IVB e doutorando em medicina tropical pela Fundação
Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Há um
ano, o soro antiapílico vem sendo testado em dez pacientes que tiveram
múltiplas picadas de abelha. Os resultados foram muito bons, disse Cunha.
“Nesta fase de testes, a gente vê segurança. Nesses dez pacientes em que foi
aplicado o soro, correu tudo bem, na medida do esperado.”
No mês
de julho, o Instituto solicita à Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) a extensão, por mais um ano, da atual fase de testes, chamados estudos
clínicos, com o objetivo de testar o soro em mais 10 pacientes, antes que o
medicamento seja registrado e possa ser disponibilizado para todo o país.
“Até
julho do ano que vem, a gente tem que totalizar 20 pacientes, que é o número
que estabelecemos para esse estudo. Como a gente não pode inocular o veneno nas
pessoas e depois o soro para testar, e tem que esperar acontecer os casos, isso
dificulta um pouco o processo. A gente necessita que os casos aconteçam
naturalmente e que sejam perto de onde a gente tem soro”, indicou o assessor da
diretoria científica do IVB.
Registro.
As duas
unidades de pesquisa clínica credenciadas e autorizadas pela Anvisa para fazer
esse teste estão nas cidades de Botucatu (SP) e Tubarão (SC).
Em
julho de 2018, alcançando o total de até 20 pacientes, o IVB fechará o
relatório de segurança, que será enviado à Anvisa, para que possa liberar o
registro. O Instituto passará então a produzir o medicamento para fornecer ao
Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, que vai disponibilizar
para o Brasil inteiro.
A
expectativa é que o medicamento possa ser liberado para consumo no segundo
semestre de 2019.
Para
participar dos estudos clínicos, as pessoas têm que ter entre 18 e 60 anos, não
estar grávidas, no caso de mulheres, e ter sofrido acima de cinco picadas de
abelha. “O paciente tem que concordar em participar do estudo. É uma
participação voluntária. Mesmo ele acidentado ou tendo algum risco de
envenenamento, ele tem que optar ou, caso ele esteja inconsciente, um parente
junto com o médico pode autorizar o uso do soro. Mas a gente prefere que ele
mesmo autorize”, destacou Luís Eduardo Cunha.
O
tratamento consiste na utilização de duas a dez ampolas de soro, dependendo da
carga de veneno que as pessoas acidentadas receberam. Duas ampolas são
suficientes para combater 200 picadas de abelha.
Acidentes.
Os
últimos dados disponíveis no Ministério da Saúde, embora ainda provisórios,
segundo observou Cunha, mostram que em 2014 ocorreram 14.062 casos de picadas
de abelha no Brasil; em 2015, o número recuou para 13.708 registros, caindo
ainda mais em 2016 (11.991 casos).
Nos
últimos três anos, a incidência por 100 mil habitantes revela sete óbitos por
veneno de abelha em 2014, 12 em 2015 e 25 em 2016. A média é 30 mortes por ano
para 10 mil a 12 mil acidentes, disse o assessor do IVB.
A maior
prevalência é entre crianças e idosos. Cunha salientou que, proporcionalmente,
o resultado é muito parecido ao que acontece com os casos de mortes com picadas
de serpentes, em que são registrados atualmente 110 óbitos para cerca de 30 mil
envenenamentos.
Luís
Eduardo Cunha apontou que a quantidade de acidentes pode estar relacionada ao
aumento da atividade apícola no país, nos últimos anos, sobretudo a partir das
décadas de 1950 e 1960, quando foram introduzidas no Brasil abelhas europeias e
africanas, venenosas, uma vez que as abelhas nacionais não têm veneno de
importância médica.
A
importação desses insetos objetivou melhorar o desempenho da produção de mel no
mercado interno. Houve também uma aproximação da população com apicultores,
além do crescimento do volume de notificações de acidentes de picadas de
abelhas, que é muito maior hoje do que antigamente, “porque as pessoas sabem
que podem ter alguma ajuda a mais em termos de tratamento”, lembrou.
Cunha
recordou ainda que o Brasil tem uma tradição na produção de soros contra
venenos de animais há cerca de 120 anos. O IVB, por exemplo, completará 100
anos em 2019. Além disso, essa é uma atividade do governo, manifestou. “O
governo banca essa pesquisa e distribui para o Brasil inteiro”. A produção de
soros é destinada a venenos de aranhas, escorpiões, serpentes e abelhas. “É um
programa admirado no mundo inteiro. Não tem semelhança em nenhum lugar do
mundo”, explicou.
O IVB é
um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros, um dos quatro fornecedores de
soros contra o veneno de animais peçonhentos, e produtor de medicamentos
estratégicos para o Ministério da Saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário