FONTE: Alessandra Corrêa, De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil, (http://noticias.uol.com.br).
A má qualidade do
sono em mulheres com mais de 40 anos pode estar relacionada a um maior risco de
uma série de problemas de saúde como diabetes, obesidade, doenças
cardiovasculares e até depressão.
Um estudo publicado
neste mês nos Estados Unidos identificou o problema entre mulheres de 40 a 59
anos, que deveriam estar dormindo de sete a nove horas por noite.
Segundo o estudo, uma
em cada três (35,1%) mulheres na faixa etária de 40 a 59 anos dormem menos de
sete horas por noite, e 19,4% relataram dificuldades em adormecer em quatro ou
mais noites por semana.
Mas o problema não
vem apenas da quantidade de horas. Mais de um quarto das entrevistadas (26,7%)
revelaram que, em quatro ou mais noites na semana, enfrentam dificuldade em
continuar dormindo após adormecerem, e 48,9% disseram que não acordam se
sentindo descansadas em pelo menos quatro dias por semana.
"Esse último
resultado me surpreendeu especialmente. É uma parcela muito grande", disse
à BBC Brasil a autora do estudo, Anjel Vahratian, chefe de análise de dados do
National Center for Health Statistics (Centro Nacional de Estatísticas de
Saúde, ou NCHS, na sigla em inglês), ligado ao Centers for Disease Control and
Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em
inglês), agência do Departamento de Saúde americano.
A má qualidade do
sono pode ser causada por inúmeros fatores relativamente conhecidos como
ansiedade e estresse, dificuldades respiratórias, obesidade, uso excessivo de
aparelhos eletrônicos antes de dormir ou mesmo a ingestão de alimentos de
difícil digestão ou de cafeína poucas horas antes de se deitar.
No caso de mulheres,
no entanto, alguns fatores são exacerbados pelas mudanças hormonais provocadas
pela menopausa. E relativamente menos conhecido é o efeito que as noites mal
dormidas podem ter sobre a saúde no longo prazo.
Vahratian, por
exemplo, ressalta que a falta de sono está associada ao aumento do risco de
doenças cardiovasculares e diabetes.
O diabetes ocorre
quando o corpo não produz insulina - hormônio que controla a quantidade de
glicose no sangue - ou não responde adequadamente à insulina produzida.
Diferentes estudos indicam que distúrbios do sono podem levar a resistência a
insulina e aumento das taxas de glicose no sangue.
No caso de doenças
cardiovasculares, a neurologista Sandhya Kumar, especialista em sono do centro
médico acadêmico Wake Forest Baptist Medical Center, em Winston-Salem, na
Carolina do Norte, disse à BBC Brasil que diversos estudos mostram que a apneia
do sono (obstrução das vias aéreas durante o sono) afeta a pressão arterial e o
coração.
A redução no fluxo de
oxigênio provocada pela apneia prejudica o coração.
Kumar observa também
que problemas no sono podem afetar o humor, diminuir a capacidade de
concentração e até provocar acidentes.
Vários estudos
relacionam distúrbios do sono com ganho de peso. Acredita-se que a falta de
sono possa alterar o metabolismo, reduzir os níveis leptina (o hormônio da
saciedade) e aumentar a sensação de fome. O cansaço gerado pela falta de sono
deixa as pessoas menos propensas a praticar exercícios. Há indícios também de
que, quanto mais tempo acordado, maior tende a ser o consumo de calorias.
Menopausa.
"Nosso interesse
é analisar tanto a duração quanto a qualidade do sono. Muitas vezes se fala
somente na duração, mas se você dormir oito ou nove horas por noite e acordar
várias vezes durante esse período, a qualidade não será boa", observa
Vahratian.
Ela diz que períodos
de mudanças hormonais, como as relacionadas à transição para a menopausa,
deixam as mulheres particularmente vulneráveis a distúrbios do sono.
"Essa é uma
parcela da população que talvez precise de mais informações e orientação sobre
quantidade e qualidade do sono", afirma.
Vahratian analisou
dados de 2.852 mulheres não-grávidas com idades entre 40 e 59 anos que
participaram da National Health Interview Survey (pesquisa anual de saúde
conduzida pelo NCHS que envolve mais de 35 mil lares americanos) em 2015.
Entre as
participantes, 74,2% estavam na pré-menopausa, 3,7% na perimenopausa (no
estudo, o termo se refere a mulheres que não menstruam mais e registraram o
último ciclo há menos de um ano) e 22,1% na pós-menopausa (última menstruação
há mais de um ano ou que passaram por cirurgia para remover os ovários).
Elas responderam a
perguntas sobre em quantos dias, na semana anterior, sentiram-se descansadas ao
acordar, quantas vezes tiveram dificuldade de adormecer e de continuar dormindo
e quantas horas dormiram em um período de 24 horas.
Mulheres na
perimenopausa apresentaram maior probabilidade de dormir menos de sete horas
por noite, com 56% indicando o problema. Entre as participantes na
pós-menopausa, 40,5% disseram dormir menos de sete horas, e entre as mulheres
na pré-menopausa, 32,5%.
Participantes na
pós-menopausa apresentaram maior probabilidade de enfrentar dificuldades para
adormecer e continuar dormindo e de acordar sem a sensação de descanso.
Dicas.
Kumar afirma que
vários fatores podem ter papel nos distúrbios no sono enfrentados por mulheres
nessa faixa etária, incluindo as ondas de calor e outros sintomas associados às
mudanças hormonais da menopausa.
Para uma boa noite de
sono, ela recomenda um ambiente fresco e bem ventilado (especialmente no caso
de mulheres que sofrem de ondas de calor), evitar fumar, não consumir álcool
perto do horário de dormir nem cafeína após às 13h.
"Se você não
adormecer em 20 minutos, tente sair da cama e fazer algo relaxante antes de
voltar a deitar", sugere.
Kumar também
recomenda desligar TV, celular e outros aparelhos eletrônicos, ir para a cama
somente quando estiver com sono e usar o quarto apenas para dormir.
"E não fique
olhando o relógio, porque isso só vai aumentar sua ansiedade."
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