FONTE:, (http://noticias.uol.com.br).
"É algo que deve
envergonhar a todos nós", disse a promotora uruguaia Mariela Nuñez sobre
um caso de abuso sexual que chocou seu país: o de uma menina de dez anos que
gravou os estupros a que foi submetida pelo pai de uma amiga para que os
adultos acreditassem nela.
A menina costumava
brincar e escutar música na casa da amiga da mesma idade, na cidade de Artigas,
norte do Uruguai.
Segundo Nuñez, o pai
da amiga "aproveitava momentos em que a esposa estava trabalhando, mandava
a filha ao mercado para ficar a sós com a menina e começava a tocar suas partes
genitais".
O abuso se repetiu
diversas vezes ao longo de um ano, tendo sido testemunhado pela filha do
abusador em alguns momentos, de acordo com as investigações.
Tanto que as duas
meninas articularam juntas o plano de gravar os estupros.
"(A filha) disse
à amiguinha que sabia o que seu pai estava fazendo com ela, que tinha muito
medo do pai e que ninguém acreditaria nelas, motivo pelo qual planejaram filmar
tal situação, algo que conseguiram fazer depois de várias iniciativas",
afirmou Nuñez, de acordo com a imprensa uruguaia.
'Mais frequente do que
acreditamos'.
Em comunicado, a
promotora uruguaia pediu que o caso sirva de alerta para que as crianças sejam
escutadas com mais atenção.
"Esse ato
valente de uma menininha estuprada deveria servir não apenas para que se faça
justiça, mas sim para que toda a sociedade tome consciência de que essas coisas
acontecem com mais frequência do que acreditamos e que as crianças não mentem,
não inventam", afirmou, segundo a imprensa local.
"É um caso
extremamente doloroso que mostra a visão das crianças sobre o mundo adulto.
Essa visão de que não acreditamos em sua palavra, a ponto de (a menina)
submeter-se voluntariamente à violação para registrá-la. Não dá para separar o
lado de promotora do de mãe e avó. (...) As consequências desse caso são
imensuráveis. Arruinou a vida de duas meninas."
Nuñez disse também
que o acusado era "uma pessoa respeitada, de classe média, de quem ninguém
suspeitaria uma atitude semelhante. Ele só negava (o estupro), mesmo diante das
provas. Custou muito até que admitisse e não deu uma explicação. Eu mesma tive
de sair do interrogatório para conter minha própria ira e cumprir com a minha
função".
Laptop escolar.
As meninas, que não
foram identificadas, gravaram os abusos com uma "ceibalita", como são
chamados os notebooks que o governo uruguaio entrega a todos os estudantes do
país.
O caso chegou à
Justiça depois que a menina mostrou os vídeos à tia. Em seguida, o pai da
vítima denunciou os abusos.
O acusado,
identificado apenas pelas iniciais JCSB, é um homem de 62 anos, sem
antecedentes criminais. Ele foi preso. Se condenado, sua pena pode variar de
dois a seis anos de reclusão.
Sua mulher e outro
filho também chegaram a ser detidos, mas foram libertados, segundo a Justiça,
pela ausência de "elementos que demonstrassem que eles tinham conhecimento
dos fatos".
Especialistas no tema
explicam que casos de abuso infantil muitas vezes ocorrem dentro de casa - e muitas
vezes não são denunciados. Há também os casos que, mesmo reportados, deixam de
ser punidos por falta de provas.
Segundo Andrea Tuana,
da associação uruguaia El Paso, que combate a violência doméstica e sexual,
"a realidade é que conhecemos pouco da magnitude real do problema",
já que existe uma subnotificação de casos.
"Há uma grande
quantidade de adultos que admitem ter sofrido abusos na infância e conta que,
na época da denúncia, não acreditaram neles", diz ela à BBC Mundo, o
serviço em espanhol da BBC.
"O caso dessa
menina demonstra que não acreditamos na palavra das crianças, não as escutamos.
O problema é cultural: é não querer aceitar que o abuso sexual existe."
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