Álcool e maconha podem
afetar o desenvolvimento do cérebro de um adolescente, isso é fato. Mas
neurocientistas canadenses sugerem que a erva pode causar até mais deficits de
memória e aprendizado nos jovens do que o álcool. A conclusão partiu de um
estudo com quase 4.000 alunos do 7º ano de Montreal, que foram acompanhados
regularmente durante quatro anos.
Os estudantes passaram
por testes para avaliar suas funções cerebrais ano a ano. Os resultados
confirmaram o esperado – os usuários de álcool e maconha apresentaram prejuízos
em funções cognitivas, como memória, aprendizado e autocontrole, com o passar
do tempo.
Mas a maconha foi
associada a determinados deficits na memória de trabalho (a de curto prazo, que
usamos no dia a dia), no raciocínio perceptual (que envolve informações não
verbais, útil para matemática) e no controle de impulso que não foram
observados nos jovens que consumiam só álcool.
Os dados foram apresentados
no Encontro Canadense de Neurociência, realizado no último fim de semana em
Toronto. A equipe avisa, no entanto, que uma limitação foi não terem tido
acesso às quantidades consumidas pelos alunos.
Um dos pesquisadores
envolvidos na apresentação também relatou os resultados de outro trabalho
conduzido por sua equipe, este em ratos, que mostram riscos adicionais do uso
da maconha na adolescência. O THC, ingrediente responsável pelo “barato”
provocado pela droga, causou anormalidades no cérebro dos roedores que também
são observadas em indivíduos com esquizofrenia, transtorno psiquiátrico que
envolve pensamentos psicóticos, delírios e mudanças no afeto.
Além dos deficits
cognitivos também identificados nos estudos com os alunos, o THC ainda provocou
deficits nas interações sociais e baixa regulação da ansiedade nos ratos. Uma
terceira pesquisa apresentada pela equipe, também em roedores, confirmou outro
prejuízo já associado anteriormente ao uso crônico da maconha – mudanças de
comportamento que envolvem a motivação. É como se usuários se tornassem menos
dispostos a realizar esforços para receber uma recompensa.
Juntos, os trabalhos
reforçam a ameaça que a maconha representa para o cérebro do adolescente, que
passa por muitas transformações até os 20 e poucos anos. É um período crítico
de maturação de diversas funções cognitivas, como memória, tomada de decisão e
autocontrole. Por isso o consumo de álcool e drogas nessa fase pode ter um
impacto negativo para o resto da vida.
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