Um sensor desenvolvido
por pesquisadores do CDMF (Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais)
pode ajudar a evitar casos de intoxicação por monóxido de carbono (CO) -
possível causa das mortes de seis turistas brasileiros ocorridas no Chile, na
semana passada (22/05).
Esse tipo de acidente é
comum em vários países em que se utiliza aquecimento a gás, incluindo o Brasil.
Na Argentina, por exemplo, são registradas 250 mortes e 2 mil casos de
intoxicação pelo gás tóxico todos os anos.
O dispositivo foi
apresentado no dia 24 de maio durante o Simpósio de Pesquisa e Inovação em
Materiais Funcionais, promovido na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar)
pelo CDMF - um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela
Fapesp.
Nas próximas semanas, o
Congresso Nacional da Argentina vai votar um projeto de lei que torna
obrigatória no país a inclusão do sensor em todos os aparelhos a gás para uso
domiciliar. Em carta enviada na semana passada a Marco Antonio Zago, presidente
da Fapesp, os deputados argentinos Eduardo Bucca e Fernanda Raverta, autores da
norma, enfatizaram a importância do projeto no combate a intoxicações por CO.
"O sensor pode
ajudar a evitar mortes por inalação de monóxido de carbono tanto nos países
vizinhos como no Brasil, onde esse tipo de acidente é registrado principalmente
na região Sul e, mais recentemente, no Nordeste, devido ao uso de aquecimento a
gás", disse Elson Longo, diretor do CDMF e um dos autores do dispositivo,
à Agência Fapesp. O projeto tem a participação de pesquisadores da UFSCar e das
universidades Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá, de Mar del
Plata, da Argentina, Jaime I, da Espanha, e de Ferrara, da Itália.
O dispositivo consiste
em um circuito integrado, do tamanho de um chip, com um sensor eletrônico de CO
e outro de metano, já desenvolvidos e patenteados pelos pesquisadores.
Os sensores são
compostos por óxidos semicondutores, como de cério, em escala nanométrica (da
bilionésima parte do metro). Em contato com o CO e outros gases, esses óxidos
apresentam uma mudança de resistência, que é processada e interpretada pelo
circuito eletrônico como um sinal para interromper o fluxo de gás no
equipamento em que o sistema está instalado, como um aquecedor de água.
"O monóxido de
carbono é produzido pela combustão incompleta do gás natural pela falta de
oxigênio no ambiente. Por isso, ao detectar a presença de CO acima do limite de
segurança, o sensor corta o fluxo de gás natural para o queimador",
explicou Miguel Adolfo Ponce, professor da Universidade de Mar del Plata e um
dos idealizadores do projeto.
De acordo com o
pesquisador, a exposição a uma concentração de 0,02 partes por milhão (ppm) de
CO não causa efeitos nocivos à saúde. Acima desse nível começa a causar
sintomas perceptíveis, como sonolência e dor de cabeça. A exposição a 1.400 ppm
de CO por uma hora é capaz de levar à morte.
Alguns fatores dificultam
a detecção de CO no ambiente. O gás é incolor, insípido, inodoro e não irrita
as mucosas. A única forma de percebê-lo é pela coloração da chama do queimador
- se ela não estiver azulada, característica da combustão completa do gás
natural pela quantidade correta de oxigênio, pode ser um indício de emissão de
CO, afirmou Ponce.
Os aparelhos a gás
responsáveis pela maior quantidade de acidentes domésticos por inalação de CO
são os aquecedores de água para banho, causadores de 87% dos acidentes,
seguidos pelos calefatores (8%) e fogões (5%), disse o pesquisador.
"O sistema que
desenvolvemos pode ser facilmente instalado nesses equipamentos de combustão de
gases tanto residenciais como comerciais", afirmou Ponce.
O dispositivo já gerou
duas patentes e despertou o interesse de uma empresa argentina e outra
brasileira, dispostas a fabricá-lo em conjunto.
Com base nessa
tecnologia, os pesquisadores desenvolveram outro tipo de sensor que pode ser
acoplado a um smartphone e é capaz de detectar e indicar a presença de CO não
só pela mudança da resistência elétrica, mas também pela cor, e indicar o
perigo por meio de um aplicativo.
"Esse sistema de
monitoramento pode ser usado em minas, onde também são registradas mortes por
intoxicação por monóxido de carbono", disse Longo.
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