Perda
de massa magra, efeito sanfona e compulsões têm sido efeitos estudados.
No meio nutricional,
costuma-se dizer que a vida útil de uma dieta gira em torno de cinco anos.
Depois desse período, tal estratégia começa a ser colocada em xeque — afinal,
há tempo suficiente para que estudos mostrem se ela realmente é saudável para a
perda de peso.
Seguindo essa regra,
entra agora na berlinda o jejum intermitente, conjunto de protocolos que andou
fazendo o maior sucesso ao restringir a alimentação num período do dia e
liberar no outro. A Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) publicou um
parecer técnico no início deste ano questionando a prática, que prega a
privação de alimentos por até 24 horas. Seria o fim da modinha?
“As evidências de que o
jejum intermitente seja melhor que os planos de restrição calórica ainda não
são robustas”, diz a nutricionista alagoana e diretora da Asbran Ana Adélia
Cavalcante Hordonho, que analisou estudos publicados sobre o tema em diversos
lugares do mundo e foi a responsável por redigir o posicionamento da
associação.
O fato de ficar muitas
horas sem comer, realmente, faz com que o corpo comece a usar as reservas do
tecido adiposo para ter energia e, consequentemente, emagreça. A questão em
jogo é a qualidade dessa perda de peso, afinal, a gordura vai embora, mas, com
ela, também vão-se os músculos.
“O tecido muscular é
muito ativo, aumenta o gasto energético do organismo. Por isso, perder massa
magra não é interessante”, pondera Ana Adélia, citando outro possível problema.
“O estado de compulsão alimentar também tem sido considerado nesse tipo de
dieta. No período de comer, alguns pacientes exageram por terem passado muito
tempo sem se alimentar.”
No dia a dia clínico, a
nutricionista carioca Carla Cotta percebe que a estratégia, além de interferir
na quantidade de músculos dos pacientes, também colabora para um posterior
efeito sanfona. “Dependendo de como é a alimentação após o período da dieta, a
volta dos quilos pode ocorrer. E esse vai e vem é mais maléfico do que o
sobrepeso em si”, diz Carla.
A advogada Paloma di
Piero, de 29 anos, que foi apresentada ao jejum como estratégia para emagrecer
e baixar os níveis de insulina, é uma das que se decepcionou. “Não vi diferença
alguma. Conheço gente que conseguiu perder e depois manter o peso com isso,
mas, em mim, não funcionou”, contou Paloma.
No entanto, apesar
desses questionamentos, existe muita gente se beneficiando da prática há algum
tempo. É o caso do dentista Leandro Tardin, de 40 anos, que só conseguiu
reduzir os ponteiros da balança e controlar taxas de glicose e de insulina com
essa modalidade. “No início, sentia fome, mas depois o corpo acostuma e consigo
passar 16 horas sem comer”, diz Leandro.
Apesar das ponderações,
a endocrinologista Cynthia Valério, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia (SBEM), frisa que o jejum tem seu valor. Apenas é uma questão de
individualidade. “Ele desmistificou a crença de comer de três em três horas”,
diz Cynthia. “Somos contra banalizar a prática, mas sabemos que ela pode trazer
bons resultados. Algumas pessoas se adaptam, outras não. O importante é que o
paciente procure ajuda médica.”
Para que a tática tenha
mais chances de dar certo, é preciso ter um cardápio bem natural nas horas em
que é permitido se alimentar. “Verduras, legumes e qualquer outro alimento que
não seja processado têm que estar no cardápio pós-jejum. Comer nada e depois
comer de tudo pode prejudicar o metabolismo”, salienta Cynthia.
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