A relação entre a
quantidade de café que você toma e o número de vezes que vai ao banheiro é
quase direta. É só tomar uma xícara que a vontade de fazer cocô aparece (pelo
menos na maioria das pessoas).
A teoria que explicava
esse fenômeno sempre girou em torno da cafeína, que seria um estimulante
natural dos movimentos peristálticos --as contrações intestinais responsáveis
pela movimentação do bolo alimentar, ou melhor, as futuras fezes. Entretanto,
um novo
estudo, divulgado durante a Digestive Disease Week no
domingo (19), em São Diego, na Califórnia, mostrou que talvez não seja só o
composto o culpado pelas idas ao banheiro.
Os pesquisadores da
Universidade do Texas, nos Estados Unidos, deram café 100% arábica para ratos
durante três dias e perceberam que a bebida realmente aumentou a capacidade dos
músculos do intestino delgado dos animais se contraírem. Entretanto, ao darem
café descafeinado aos camundongos, os efeitos foram similares.
"A cafeína pode,
sim, ser um dos motivos para o aumento dos movimentos peristálticos, mas a
explicação para o descafeinado ter o mesmo efeito estaria no café em si, que
aumenta a acidez do estômago e esse excesso poderia acelerar o trânsito
intestinal", diz Alexandre de Sousa Carlos, gastroenterologista e médico
assistente do departamento de gastroenterologia do HC-FMUSP (Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
É claro que, por o
estudo ter sido feito apenas em ratos, isso não quer dizer que o mesmo se
aplica aos humanos. "É normal os testes ocorrerem primeiro em animais para
depois serem feitos em pessoas --e provavelmente novos estudos em humanos
virão. Mas já percebemos na prática que a bebida causa sintomas semelhantes em
nós", diz Elaine Moreira Ferreira, médica gastroenterologista do Instituto
Endovitta.
A médica, no entanto,
não recomenda usar o café como remédio para a constipação intestinal.
"Estudos como esse não justificam a prescrição da bebida para estimular a
ida ao banheiro. A constipação é algo sério e deve ser tratada com uma dieta
rica em fibras e ingestão adequada de água", sugere.
O café, na verdade,
quando consumido em quantidades adequadas (a dose segura é de até 400 mg ao
dia, o equivalente a cerca de quatro xícaras de café), traz muitos benefícios à
saúde.
De acordo com Ferreira,
há a hipótese que ele é antibacteriano, ajudando no equilíbrio da microbiota
intestinal, e contribui no controle da gordura do fígado, além de questões comprovadas
de que ele melhora o humor, a função cognitiva, é fonte de nutrientes, como
magnésio, potássio, vitaminas B2 e B5, age como antioxidante.
A dica, segundo Carlos,
é preciso interromper o consumo do café se ele causar qualquer tipo de
desconforto intestinal. "Se a bebida causa diarreia, o indivíduo deve
parar de tomar, mas isso não quer dizer que ela é vilã".
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