Você já se pegou no
final do dia com aquela fome que só é saciada com chocolate? Quem nunca! No
entanto, essa vontade específica por determinados alimentos dificilmente é uma
necessidade física por um alimento, e normalmente fala muito mais sobre o seu
emocional do que sobre seu corpo.
"É o 'comer
emocional', que se refere a um comportamento de buscar a comida como estratégia
de enfrentamento de emoções, especialmente aquelas consideradas mais difíceis
ou negativas, como raiva, frustração, tristeza, estresse, tédio, ansiedade", explica a
psicóloga Rogéria Taragano, mestre pela FMUSP (Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo) e colaboradora no Programa de Transtornos
Alimentares do HC (Hospital das Clínicas).
O
que sua fome diz sobre aquele momento?
Em geral, o impulso do
comer emocional ocorre no automático e a pessoa nem se dá conta de tudo o que
se passou até dar a primeira mordida. Por isso, é fundamental identificar os
pensamentos, sentimentos e os gatilhos que levam a esse comer emocional e qual
o papel que a comida está exercendo nesse momento.
É diferente o ato de
usar a comida como escape em um dia estressante esporadicamente do que usar os
alimentos com frequência como forma de lidar com as emoções. "Tem um
pesquisador que afirma que 'somos todos, em graus diversos, comedores
emocionais'. O que até certo ponto não é nenhum problema. Mas quando comemos,
com muita frequência, por questões emocionais aumenta muito a chance de
comermos em demasia e com pior qualidade", completa Taragano.
Portanto, muitos
impulsos fortes para comer (sem o roncar de estômago tipico da fome biológica)
podem sinalizar a necessidade de avaliarmos como estamos e o que estamos
sentindo. Questione: o desconforto é físico ou é um incomodo causado por alguma
emoção a qual está indevidamente chamada de fome?
É importante reconhecer,
nomear e aceitar uma emoção. Não precisamos e não devemos negá-la, pois dessa
forma, podemos buscar alívio em outras possibilidades, sem ser a comida, como
uma caminhada, leitura, música, brincar com um animal, ligar para um amigo. Se
a pessoa está triste, é melhor chorar, conversar; se está cansada, melhor
dormir, descansar, fazer uma pausa.
Fome
emocional x fome física.
A melhor forma de
manter uma comunicação saudável com seus sentimentos é saber diferenciar a fome
biológica da fome emocional. A fome biológica faz com que estômago emite alguns
sinais e sons, a pessoa se sente com baixa de energia, começam a surgir
alternativas de comida e a fome vai crescendo gradativamente. Após a refeição,
vem a sensação de satisfação e saciedade.
Já a fome emocional
traz sensações bem diferentes, como se aquela necessidade tivesse que ser
atendida imediatamente, normalmente envolvendo um desejo por um alimento
específico, sendo que ela não é saciada mesmo quando o estômago já está cheio. Entenda melhor quais são os diferentes tipos de fome.
Por
que desejamos determinados alimentos?
Normalmente a vontade
por doces, salgados e etc. não tem necessariamente a ver com a falta de algum
nutriente, mas sim com a restrição: com a importância extrema dada ao corpo
magro e às dietas, mantemos uma relação de conflito com o alimento, em
especial, os mais calóricos, gordurosos e gostosos. Eles entraram numa lista
proibitiva que, se for quebrada, gera culpa e arrependimento.
Além disso, muitas
vezes esses alimentos estimulam mecanismos de recompensa
do nosso cérebro, com liberação de serotonina e outros
neurotransmissores que trazem prazer.
De qualquer modo, a
negação pode intensificar o desejo recorrente. Tais restrições, em longo prazo,
podem contribuir para que a pessoa perca a conexão com os sinais do corpo,
desaprendendo o quanto de fato o organismo precisa em termos de quantidades de
alimentos para ficar em equilíbrio, sem sacrifícios. Portanto, prestar atenção
aos seus desejos, sem neuras, é um passo importante.
*** Fontes: Rogéria
Taragano, psicóloga, mestre pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo) e colaboradora no Programa de Transtornos Alimentares do HC
(Hospital das Clínicas); Weruska Barrios, nutricionista do Hospital
Beneficência Portuguesa de São Paulo; com Naiara Belmont, nutricionista com
foco em Comportamento Alimentar.
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