Hoje, 24 de maio, é
celebrado o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia. A data tem
como objetivo acabar com o estigma da doença que atinge 23
milhões de pessoas no mundo, segundo os dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Quando se fala em
esquizofrenia, muita gente pensa em pacientes violentos ou com tendência a
surtos de agressividade. Há sim alguns com essas características, mas muitos
levam uma vida normal e, com o tratamento, você pode nem desconfiar que eles
têm o transtorno.
“Pense no número de
pessoas com esquizofrenia no Brasil, algo entre 800 mil e 1 milhão, e imagine
se essa noção de violência fosse verdadeira… Na verdade, a maior parte das
pessoas com sintomas psicóticos tem medo de estar sendo perseguida e acaba se
isolando”, explica o Dr. Ary Gadelha, associado da Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP).
Como
a esquizofrenia se manifesta.
A esquizofrenia é um
transtorno mental caracterizado por apatia, delírios, alucinações,
desorganização do pensamento e do comportamento.
“As principais
distorções do pensamento são os pensamentos falsos em relação à realidade”, diz
o psiquiatra Mário Louzã, coordenador do Programa de Esquizofrenia do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Nessas situações, a pessoa imagina
coisas que não estão acontecendo. As alucinações mais comuns são as auditivas
– o paciente ouve vozes que conversam com ele ou comentam seus
atos. Já os delírios costumam ser relacionados à sensação de estar sendo perseguido
ou observado.
“Em um estudo na
Inglaterra foi identificado que, durante as alucinações auditivas, a região do
cérebro responsável pela audição está ativa. Isso explica o motivo da sensação
das vozes serem tão reais. O cérebro gera percepções como se de fato houvesse
uma voz”, explica o dr. Ary.
A doença costuma se
manifestar em períodos de surto agudo, com sintomas intensos, e que se alternam
com os períodos de remissão, com sintomas reduzidos. No entanto, nem todo caso
é igual! “As pessoas com esquizofrenia são muito diferentes. Há uma tendência a
acreditar que por terem uma doença em comum são todas iguais, mas isso não é
verdade. Cada um tem sua história”, alerta o especialista da ABP.
Diagnóstico.
“Uma das
características de quem está com um quadro agudo de esquizofrenia é não ter uma
percepção de que está doente. A pessoa acredita 100% que todas as alucinações e
delírios são verdadeiros. Então, dificilmente um paciente irá procurar
tratamento”, relata o psiquiatra Mário Louzã.
Dessa maneira, pode
haver uma grande demora até que a pessoa seja diagnosticada,
pois é preciso que parentes e amigos próximos comecem a perceber os sintomas e
sua intensidade, algo que pode levar meses e, até mesmo, anos.
Além disso, a
dificuldade também aparece no consultório, uma vez que o médico precisa
de informações sobre a duração e impacto dos sintomas para
fazer o diagnóstico correto. Muitas vezes, um único episódio psicótico não é
suficiente, sendo preciso, então, haver acompanhamento da evolução do quadro.
O
que causa a esquizofrenia?
Até o momento, a
esquizofrenia é considerada uma doença de neurodesenvolvimento. O
cérebro de alguém com o distúrbio se desenvolve de uma maneira diferente e,
após o fim da adolescência, quando o processo de maturação cerebral já foi
concluído, começam a aparecer os sintomas psicóticos.
Como causa para essa
alteração, a teoria mais aceita é a de predisposição genética, que
aumenta a vulnerabilidade do indivíduo. “Essa carga genéticas somada a
problemas que podem ocorrer ao longo do desenvolvimento pode, no final, chegar
à manifestação da esquizofrenia”, conta o psiquiatra Mário Louzã.
Entre os fatores
ambientais que podem levar a esquizofrenia, podem ser citados:
problemas durante a gestação ou parto, que tem o potencial de danificar o
desenvolvimento cerebral; exposição a traumas; vivência em adversidade social;
e uso de drogas na adolescência.
Mas atenção! Apenas um
desses fatores não é suficiente para causar esquizofrenia.
A
vida de quem tem esquizofrenia.
“O paciente com
diagnóstico correto e tratamento adequado praticamente tem uma vida
normal“, afirma Louzã. O paciente terá algumas limitações, assim como
qualquer um que tenha uma doença crônica, mas isso não o impedirá de viver
tranquilamente.
Como tratamento, ele
deverá tomar antipsicóticos para controlar os sintomas e fazer
abordagens psicossociais, como os diferentes tipos de terapia, que
facilitam a sua volta para uma vida normal.
Para acabar com
o estigma que cerca a doença, o Dr. Ary Gadelha tem apenas uma
recomendação: “Precisamos mostrar a história das pessoas com esquizofrenia,
seus feitos, suas lutas e conquistas, não falar somente das suas doenças.
Mostrar que para além das dificuldades, existem pessoas fantásticas”.
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