Na última semana uma
série de acontecimentos reforçou a importância de se incluir o tema da educação
digital, ou ainda melhor, da cidadania digital, tanto no currículo das escolas
como no diálogo dentro de casa.
De um lado, viralizou
uma “brincadeira” potencialmente perigosa, em que dois jovens passam uma
rasteira em um terceiro desavisado, que acaba caindo ao chão, correndo o risco de machucar cabeça
e coluna vertebral. Do outro lado, o Reino Unido anunciou
que vai apertar o cerco sobre as plataformas digitais, responsabilizando-as por conteúdos nocivos.
E aqui no Brasil um menor foi condenado por postar “nudes” de uma
ex-namorada, e seus pais terão que pagar uma
indenização.
Não é novidade que o
jovem passa hoje cada vez mais tempo conectado nas redes sociais. Lá, ele acaba
sendo exposto a desafios, brincadeiras, jogos e toda sorte de conteúdos que
podem ser construtivos, educativos e agregadores, mas também podem ter um
potencial que vai no sentido contrário: destrutivo, agressivo, preconceituoso e
antissocial.
E esse intenso trânsito
digital é 100% de mão dupla, ou seja, o jovem não é apenas receptor dessas
informações e conteúdos, ele é também ativo nas postagens, convites e
propostas. As motivações tanto para a recepção como para a produção de posts,
imagens e vídeos são diversas (fazer parte do grupo, ser curtido, ser aceito,
ser admirado, melhorar a autoestima, ganhar notoriedade e fama e por aí vai).
Não se pode perder de
foco que essa é uma fase da vida em que tudo muda com velocidade assustadora
(talvez ainda mais acelerada na era digital). Assim, existe uma espécie de
“vulnerabilidade” para diversos níveis de risco. Tanto do ponto de vista
emocional como do ponto de vista neurológico (se é que é possível fazer essa distinção),
o jovem é mais impulsivo, pesa menos o impacto que suas ações presentes terão
no seu futuro, desliga com maior facilidade os controles racionais, entre
outros mecanismos que fazem com que ele possa se expor ou expor seus pares a
situações complicadas, arriscadas, perigosas, difíceis.
Se essa realidade está
tão real e presente em nosso cotidiano, como garantir nos dias de hoje a
liberdade e a construção da autonomia do jovem? Talvez a melhor alternativa
seja, em casa, os pais exercerem o papel de pais, olhando, observando,
ensinando, controlando o uso (dos menores) e mediando a relação com as
tecnologias (dos maiores) para que eles entendam seus limites, suas
responsabilidades e seu papel de cidadãos. Em paralelo, as escolas têm que se
ocupar também desse trabalho, já que sua condição de facilitadora das relações
sociais (para além dos aprendizados formais) ganha hoje uma extensão quase sem
limites e sem fronteiras no mundo digital.
Em um cenário ideal, em
que família e escola dialogassem com essa realidade, o jovem entenderia essa
cidadania digital como parte de seu papel no mundo. Um aprendizado que seria
central para uma melhor relação com os outros, e para uma melhor percepção das
armadilhas trazidas por “fake news”, “jogos de risco” e atitudes antissociais.
Esse trabalho
pedagógico e preventivo talvez conseguisse diminuir a necessidade de regulações
externas, como as pressões crescentes sobre as plataformas digitais (para que
elas reconheçam riscos e bloqueiem ações nocivas o mais rápido possível), o que
em teoria pode ser bastante útil, mas que, do ponto de vista prático, torna-se
uma muitas vezes de difícil aplicação, dado o volume brutal de informações
postadas nas redes e a velocidade de propagação de algumas delas.
É claro que nenhum pai
ou mãe deseja ver o filho exposto ou expondo os outros a situações vexatórias,
discriminatórias, perigosas ou agressivas. As telas não deveriam provocar
refrações nos conceitos de ética e cidadania. O comportamento deveria ser um
só, dentro ou fora das redes sociais. Se isso faz sentido para você, está mais
do que na hora de começar a agir, de preferência antes da próxima brincadeira
“bombar” no celular do seu filho ou do seu aluno!
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