Com o decreto recente que flexibiliza o porte de armas de fogo no Brasil,
além do medo de que a violência aumente no país, é possível que muita gente
tenha decidido adquirir um revólver para se defender. Mas aqui vai um alerta:
um grande estudo revela que quem compra uma arma, por qualquer que seja o
motivo, corre um risco muito alto de usá-la para acabar com a própria vida.
Uma das descobertas que mais chama atenção é que, ao levar em conta
apenas as mulheres, o risco detectado no estudo foi 35 vezes maior em
comparação com mulheres não armadas. Para os homens, o risco foi oito vezes
mais alto. Outro detalhe importante: a probabilidade de se suicidar foi bem
mais alta no primeiro mês após a aquisição, mas não diminuiu muito ao longo dos
anos. Ou seja: mesmo quem não compra um revólver com o objetivo de se matar tem
um risco bem mais alto de acabar fazendo isso em algum momento.
O trabalho, que acaba de ser publicado pelo The New England
Journal of Medicine, compilou dados de 26 milhões de norte-americanos ao
longo de 12 anos, por isso é considerado um dos mais completos já feitos até
agora. Os pesquisadores puderam investigar a trajetória de quase 700 mil
pessoas, desse total, que tinham comprado uma arma pela primeira vez na vida.
Nos EUA e em vários outros países, as mulheres tendem a tentar suicídio
com maior frequência que os homens. Mas eles costumam usar meios mais letais do
que elas, o que faz com que as estatísticas ressaltem mais o risco masculino.
Os autores do estudo, das universidades de Boston e de Stanford, acreditam que
se as mulheres tiverem mais acesso às armas, as taxas gerais de suicídio vão
ter um aumento dramático.
Vale lembrar que, no Brasil, a taxa média de suicídios subiu 7% de 2010 a
2016, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Nesse último ano
computado, foram 6,1 suicídios a cada 100 mil habitantes. Nos EUA, a taxa foi
de 14 em 100 mil em 2017, o maior patamar registrado desde a Segunda Guerra, de
acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Em certos estados
norte-americanos, é possível comprar espingardas e revólveres pela internet ou
em lojas de departamento.
Em um artigo publicado no The New York Times nesta sexta-feira, os
pesquisadores comentam que alguns levantamentos recentes já indicam que o
covid-19 causou um pico na compra de armas. Mas só no futuro será possível
observar o impacto desse movimento nas taxas de suicídio. O suicídio quase
sempre é um ato de desespero, que envolve impulso. Ter um meio letal por perto
é uma facilidade perigosa.
Onde buscar ajuda para
prevenir o suicídio:
CAPS, Unidades Básicas de Saúde, UPS 24H, SAMU 192, pronto-socorros e
hospitais.
O CVV (Centro de Valorização à Vida) oferece apoio emocional e atende
gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total
sigilo, por telefone, email, chat e voip 24 horas todos os dias. Ligue
para 188 ou acesse o site www.cvv.org.br.


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