Está circulando pelo
WhatsApp um áudio em que uma mulher diz que beber uísque ou vodca mata o coronavírus na
garganta. É #FAKE.
Na mensagem, a mulher
diz que, numa família de seis pessoas, a única que ficou doente foi a parente
abstêmia. “Você saiu pra rua. Quando chegar em casa, toma um gole de vodca ou
uísque! Não precisa tomar muito. O bichinho fica na garganta. Você tomando,
mata o bicho. Se você passa o álcool no mão, ele morre. Se passar na garganta,
também”.
O infectologista Renato
Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de
Pediatria, rebate a informação. Segundo ele, a premissa não faz sentido, diante
da velocidade com que a infecção evolui no organismo humano e da
impossibilidade de se esterilizar o ambiente da boca e da garganta com bebida
alcoólica.
“Não se pode comparar
superfícies, como mesas e corrimão, onde você passa álcool, com mucosas e a
pele. O vírus é um organismo intracelular, ele não fica na superfície do nosso
corpo. Se ele está na mucosa da nossa boca, já está dentro das nossas células,
então já nos infectou. Não tem como se esterilizar mucosa com álcool ou outro
produto. Nem álcool nem gargarejo algum é capaz de esterilizar nossa boca”,
esclarece.
O virologista Rômulo
Neris, doutorando pela UFRJ, explica o processo de infecção: “O vírus não é
restrito à garganta, ele é capaz de infectar a maior parte do trato
respiratório superior [cavidade nasal, laringe, faringe] e também o trato
respiratório inferior [traqueia, brônquios, pulmões]. O processo de infecção do
novo coronavírus leva poucos minutos depois do contato. Em muitos casos, em um,
dois, até cinco minutos, o vírus já está dentro da célula, e o álcool não tem
mais efeito”.
Neris lembra que, de
qualquer forma, bebidas como uísque ou vodca não têm o mesmo poder desinfetante
do álcool a 70%, que é o recomendado para limpar superfícies em meio à pandemia
do coronavírus. “O álcool mais virucida (com capacidade de destruir um vírus)
tem a concentração de 70%. A maioria destes destilados mais comuns não tem essa
concentração. E, ainda que tivessem, geram um problema adicional: o consumo
frequente de bebidas de alto teor alcoólico pode ocasionar outros problemas de
saúde”.
O pneumologista Rodolfo
Fred Behrsin, professor do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, da UniRio,
endossa: “O coronavírus entra no organismo a partir das vias aéreas superiores,
e, nessa entrada, se liga às células da mucosa. Essas ligações químicas não
podem ser desfeitas por ingestão de bebidas alcoólicas. Após o vírus se alojar
na célula, fica difícil de destruir. Não será com uísque nem vodca que isso vai
acontecer. Vale lembrar que o uso frequente de bebida alcoólica pode induzir a
pessoa ao alcoolismo”.
O médico João Prats,
infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que não faz
sentido inferir que o álcool mata o vírus na garganta, assim como acontece com
objetos. “Obviamente não funciona assim. Não tem como comparar a quantidade de
álcool na maioria das bebidas, em termos de poder antisséptico, com o álcool a
70%, mesmo se a gente fala de bebidas destiladas. Essa é a primeira falha da
teoria que está circulando. A segunda falha é: o vírus invade as células logo.
Não dá tempo de evitar isso. E ele entra também pelo nariz, quando a gente
respira, pelos olhos, quando colocamos as mãos...”
A autora do áudio que
viralizou diz ainda que pessoas em situação de rua não têm adoecido porque
bebem muitoa. “Por que até hoje você não ouviu falar de nenhum morador de rua
que pegou Covid?”, ela indaga. Mas isso não é verdade. Foram registrados casos
e mortes em decorrência da Covid-19 em cidades como São Paulo e Belo Horizonte
entre os sem-teto.
A equipe do Fato ou Fake
já desmentiu que vinho e enxaguante bucal sejam eficazes contra o coronavírus,
entre outras informações falsas do gênero. Até aqui, vale ressaltar, não há
registro de qualquer alimento nem remédio caseiro que comprovadamente tenha
ação contra o Sars-Cov-2.
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