Indivíduos que abusam
de álcool ou drogas tendem a buscar mais essas substâncias para aplacar emoções
negativas. E será que um homem que tem compulsão por sexo reage da mesma forma?
Segundo um estudo feito
na Universidade de Leuven, na Bélgica, a resposta para essa pergunta é “não”.
Há dois anos a Organização
Mundial da Saúde (OMS) decidiu reconhecer o chamado “comportamento sexual
compulsivo” como um transtorno mental na nova versão de sua Classificação
Internacional de Doenças (CID). Apesar disso, deixou claro que mais pesquisas
são necessárias antes que as pessoas usem o termo “vício em sexo”. É que a
condição não se parece muito com outras formas de dependência, como abuso de
substâncias ou compulsão por jogos.
O estudo atual,
publicado no Journal of Sexual Medicine, ajuda a estabelecer
algumas diferenças importantes. Além de sugerir que o comportamento de homens
hipersexuais não é influenciado pelo humor, indica que esses indivíduos não
apresentam uma resposta maior, em termos de excitação, ao ser submetidos a
cenas de sexo ou erotismo.
A equipe recrutou 211
homens que fazem sexo com homens (HSH), sendo que 81 deles se encaixavam nos
critérios para diagnóstico de comportamento sexual compulsivo, ou seja, eles
apresentavam um padrão persistente de falha no controle de impulsos sexuais,
que resultava em comportamentos sexuais repetitivos.
Todos foram
entrevistados e assistiram a diversos vídeos – alguns eram neutros, outros
tinham conteúdo sexual e um terceiro tipo induzia ansiedade e tristeza. Durante
as sessões, as respostas genitais de cada um foram medidas por aparelhos
conectados aos pênis dos participantes. Após assistir cada clipe, os homens
ainda tinham que relatar seu humor e, no caso das imagens eróticas, dizer se
tinham se excitado muito ou pouco.
A hipótese dos
pesquisadores era a de que homens hipersexuais responderiam mais às imagens de
sexo, mas isso não ocorreu. Não foram observadas grandes diferenças em relação
a eles e os outros participantes, nem ao levar em conta a excitação subjetiva.
Isso significa, pelo menos em tese, que a dificuldade em controlar o impulso de
procurar sexo não tem a ver com uma sensibilidade maior diante de um estímulo.
Emoções como tristeza,
ansiedade ou irritação, induzidas por alguns dos vídeos, também não
interferiram nos resultados. Além disso, não foi observada associação
entre maiores níveis de excitação diante das imagens e consumo excessivo de
pornografia.
Para os autores do
estudo, tudo isso não quer dizer que o comportamento sexual compulsivo não seja
um problema, nem que esses homens não mereçam ajuda. Mas é preciso ter em mente
que o transtorno é muito diferente de outros tipos de dependência.
Claro que existem
limitações importantes nesse estudo, como o fato de que o experimento ter sido
feito num laboratório. É possível, também, que os hipersexuais respondam mais
quando estão perto de um potencial parceiro de verdade do que ao assistir a um
filme. Buscar sexo real talvez seja uma maneira de obter algum tipo de
validação ou suporte emocional, e aí o papel do humor não pode ser ignorado.
Também é bom diferenciar
o comportamento sexual compulsivo, que é mais crônico, das fases de
hipersexualidade que alguns indivíduos com transtorno bipolar podem ter durante
os episódios de euforia que antecedem a depressão. Os transtornos são bem
diferentes.
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