Pesquisadores da
Universidade Stanford, nos Estados Unidos mensuraram as reações que acontecem
no organismo.
Milhares de mudanças
moleculares ocorrem no nosso corpo quando nos exercitamos. Um bom retrato das
alterações está em uma pesquisa recém-divulgada pela Escola de Medicina da
Universidade Stanford, nos Estados Unidos.
É uma coreografia
orquestrada de processos biológicos envolvendo metabolismo energético, estresse
oxidativo, inflamação, reparação de tecido e resposta do fator de crescimento,
descrevem os autores no resumo do periódico científico Cell, onde o
trabalho foi publicado.
Ao todo, eles
catalogaram 9.815 moléculas alteradas no sangue depois de uma sessão de
exercícios. De acordo com os pesquisadores, uma mensuração tão completa assim
talvez nunca tenha sido feita.
Esses achados podem
resultar em um simples teste sanguíneo capaz de determinar o quanto uma pessoa
está apta fisicamente, um complemento aos que já são feitos hoje.
Para realizar o estudo,
os cientistas recrutaram 36 homens e mulheres, com média de índice de massa
corporal de 29 (dentro do normal) e idades entre 40 e 75 anos.
Todos fizeram o teste
de VO2, que mede o pico de captação e consumo de oxigênio durante o exercício.
Uma amostra do sangue dos voluntários foi colhida antes do teste.
Os participantes,
então, puseram uma máscara de medição de oxigênio e correram em uma inclinação
leve até atingirem o nível mais alto de utilização de O2. Amostras de sangue
foram colhidas novamente depois de 2 minutos, 15 minutos e 60 minutos.
Nos dois primeiros
minutos depois do exercício, marcadores de inflamação, de recuperação de tecido
e de estresse oxidativo, um subproduto do metabolismo, dispararam logo depois
dos participantes descerem da esteira, quando o corpo começou a se recobrar.
Nesse intervalo, as
amostras de sangue revelaram que o organismo estava sintetizando alguns
aminoácidos para ter energia, mas, cerca de 15 minutos depois, passou a usar
como combustível a glicose, o açúcar do sangue.
Segundo Michael Snyder,
líder da pesquisa e um dos avaliados na iniciativa, o corpo recorre à reserva
de glicose para se recuperar do esforço físico. Por isso, esse processo ocorre
um pouco mais tarde.
Os cientistas também
notaram algumas consistências no patamar de mensurações dos participantes que
tiveram uma melhor performance no teste de VO2, apesar de isso não ser a
intenção inicial.
Eles observaram uma
forte correlação entre milhares de moléculas, como marcadores de imunidade,
metabolismo e atividade muscular, e o nível de capacidade aeróbica de um
indivíduo.
Ação em todo o
corpo.
Os impactos do
exercício físico são sistêmicos. No cérebro,há liberação do BDNF, um fator
neurotrófico (tipo de proteína) que tem papel central no desenvolvimento e
fisiologia do sistema nervoso central.
“As capacidades de
raciocínio e de aprendizado também são afetadas positivamente, assim como a
saúde mental”, diz o educador físico Bruno Gion, das Clínicas Einstein.
A prática promove o
equilíbrio na disponibilidade de substâncias que fazem a comunicação entre os
neurônios (neurotransmissores) associados ao processamento das emoções. Entre
eles, a serotonina e a dopamina.
No sistema
cardiovascular, o aumento da frequência cardíaca e da circulação de sangue
durante o treino exige uma adaptação dos vasos sanguíneos. Substâncias
envolvidas na vasodilatação, como o óxido nítrico e as prostaglandinas, são
liberadas, contribuindo para regularizar a pressão arterial.
O estudo americano
deixa claro que estamos longe de uma pílula do exercício.
Em 2015, pesquisadores
australianos e dinamarqueses aventaram essa hipótese ao escrutinar o que
acontece dentro dos músculos, em nível molecular, após um treino. O time de
Stanford se deparou com quase 10 mil alterações.
E nenhuma delas foi o
gatilho de todo o processo.
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