Então
me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de
Deus e do Cordeiro.
Lendo essa citação bíblica relatada no livro
de apocalipse no capitulo 22 versículo 01 a seguir, eu mergulho, em uma saudosa
lembrança, do rio que conheci no tempo da minha infância, chamado de rio de
contas. Esse majestoso imponente belo e útil rio nasce na chapada diamantina no
estado da Bahia, e deságua no oceano no município de Itacaré, também no estado
da Bahia. Como também morador da região ribeirinha desse rio, sou testemunha
fidedigna da pedra preciosa que já foi ele em tempos passado. Nos meses que
antecediam o verão, por volta do mês de outubro em diante, castigado pelo longo
período de estiagem que assolava a cabeceira do mesmo, ele tornava-se
literalmente seco, ao ponto de ser transponível de um lado para o outro, sem a
necessidade de tirar os calçados, era nessa ocasião, que surgia uma das mais
belas paisagens desse rio, seus bancos de areia.
Esses imensos e intermináveis
bancos de areia em formas de dunas eram de uma brancura incomparável, constituídos
por uma areia riquíssima em partículas brilhante de calcário, que contracenado
com o sol escaldante daqueles dias, produzia um brilho azulado, que fascinava
até os mais exigentes olhos humanos. Essas dunas, que mais pareciam um manto
sagrado, sobre toda extensão do leito do rio, às vezes chegava medir até
setenta centímetros de altura, que em muitas vezes até dificultava caminhar
sobre elas, pois as pernas do caminhante adentravam sobre elas até a altura dos
joelhos.
Nesses períodos de estiagens, é que as suas
águas tornavam-se muito mais cristalinas, pura e saborosa, onde os banhos da
molecada nos fins da tarde eram verdadeiras festas insubstituíveis. Assolada
pela seca do sertão, em toda extensão do leito do rio nesse período, eram
necessário a abertura de cacimbas, para obter uma água de boa qualidade, para
suprir as necessidades da população ribeirinha, que dependia das águas do rio
para sobreviverem, até a chegada de uma nova cheia, aonde junto com as águas
viriam também, a promessa de meses de abundante fartura. Por volta do meado de
dezembro ao inicio de janeiro, no auge da estiagem, nossa família acostumava
assentar-se no alpendre da nossa casa, em noites encaloradas para fugir do
calor abafado e ouvir dos presentes, as mais fascinante historias folclóricas.
De vez em quando, o meu pai olhando para a imensidão do sertão, em meio à
escuridão da noite, murmurava com voz entusiástica e vocabulário rudimentar,
dizendo: Não vai custar de ter enchente, e nós já acostumados com aquelas
previsões, entendíamos logo, que ele falava baseado nos fortes relâmpagos que
clareava o céu na cabeceira do rio, e que embora muito distantes, poderia ser
vistos na escuridão da noite.
Os dias passavam, e o leito do rio ficava
cada vez mais seco, e quando a situação era quase insuportável pela falta
d’água, e que as cacimbas já quase não produziam água, é que os areões se
tornavam mais suntuosos e formosos capazes até, de atrair visitantes, para
desfrutar de suas maravilhas naturais, onde o lazer saudável e atraente era garantido.
Em meio a esse cenário de céu azul e falta d’água, éramos informados pelos
tropeiros, que desciam das zonas de monte branco e porto alegre, trazendo no
lombo de suas tropas, os produtos produzidos naquelas regiões, como carvão, mel
de abelhas, coco licuri, Aves silvestres, ovos de galinha, couro de cabras,
porcos, artesanatos de palhas, como chapéus, vassouras e esteiras.
A notícia de
que uma grande cabeça d’água estava a caminho, pois havia chovido muito na
cabeceira do rio, confirmando as previsões do nosso pai, produzia uma grande
euforia na população ribeirinha, principalmente para as crianças, que como
rebanho de bodes sedentos, descia o corredor do rio, para acompanhar a chegada
da tão esperada cabeça da d’água, e essa por sua vez por demorar de chegar, por
volta e meia nós nos arriscávamos em adentrar no leito do rio para ver se as
águas estavam chagando, o que deixava nossas mães enlouquecidas, ais quais
eufóricas também se encontravam ali. E com os olhos fixos no rio, leito acima, víamos
ela surgir como uma grande serpente que fugia de um predador,
assim a aparecia, a tão sonhada e esperada cabeça d’água. Era
um espetáculo difícil de não ser observado, como uma grande cobra que fazia
caracóis sobre a areia quente do deserto, assim eram as águas produzidas pelas
chuvas em forma de enchente. A força da natureza de forma impetuosa chegava
inundando todo o leito do rio.
De cor barrenta, barulhenta e misturada com
bagaço, ia carregando impiedosamente tudo que achava pela frente, ao tempo em
que recebia os aplausos de todos os seres viventes da terra, existentes
naquelas margens, inclusive dos homens, mulheres e crianças. Alguns minutos
depois os bancos de areia sumiam de cena, ao passo que o leito do rio
tornava-se caudaloso exuberante e assustador, produzindo uma transformação
radical naquela paisagem. Em meio aquele fascinante, belo e
assustador cenário, vários fenômenos costumeiros começavam acontecer, como por
exemplo, a queda dos barrancos, que em muitas vezes arrastava animais e gente, para
dentro das águas, os remansos e as maletas com seus ruídos
estranhos, principalmente a noite, até pareciam gemidos, o que dava
lugar a varias crendices e lendas populares.
Com o leito do rio todo tomado
pelas as águas, surgia um personagem folclórico, lendário e bem conhecido dos
ribeirinhos, que eram os canoeiros, que com suas canoas primitivas feitas de
grandes troncos de madeiras, enfeitiçavam o olhar dos ribeirinhos ao descerem
rio a baixo, e para os nossos olhos aquelas canoas, eram como se fossem grandes
embarcações. Tal como os tropeiros, eles também transportavam os seus produtos.
Passado a força das cheias com as águas calmas e limpas, entrava em cena outro
personagem muito familiar, que eram os pescadores, que com as suas redes de
arrasto, tarrafas, cofos, e utensílios de pescaria, pescavam e armavam em
lugares fundos do rio os ninhos de peixes, em quanto por vez ou outra,
fazia alguma graça para as lavadeiras que facilmente eram encontradas
no leito do rio, lavando seus pratos, lavando suas roupas, tomando banho ou
buscando água. Voltando aos ninhos de peixes, esses ninhos, eram uns amontoados
de garranchos colocados nos leito do rio, junto às margens, principalmente nos
lugares fundos, onde ali por um longo período, eram colocados alimentos, como
mandioca, milho e resto de comida, para atrair e cevar os peixes.
Durante os meses de maio a setembro, a
polução ribeirinha, retirava do rio os peixes através de anzóis, água de boa
qualidade para o gasto, tomavam banho e colhiam os produtos cultivados nas
hortas ao longo do leito do rio, ao passo em que simultaneamente a diversão da
molecada era garantida, enquanto suas mães lavavam roupas e pratos na abundante
água. Os dias passavam as águas baixavam, e chagava a hora de desmanchar os
ninhos de peixes.
A vizinhança ribeirinha se unia em mutirão, de forma
primitiva, e entravam rio adentro em volta dos ninhos dos peixes, fazendo
verdadeiro barulho, com as pernas os braços cantado, gritando, e batendo nas
águas com braços e varas, empurrando os peixes para dentro do ninho, depois
cercava o mesmo com redes e tarrafas e retiravam os garranchos das águas,
destruindo o referido ninho, tudo isso regado de muitas brincadeiras e
diversão, principalmente por parte da criançada que de vez em quando levava uns
cascudos dos mais velhos por causa de suas traquinagens, em seguida começava a
pescaria, onde os peixes encurralados se tornavam pressas fáceis. A quantidade
e variedades de peixes como traíras, piaus, berés, piabas e outros, retirados
das águas em clima de festa, traduzia a generosidade desse rio.
Novamente os
meses do ano avançavam, as águas na cabeceira do rio começava minguar, o rio
secava, as cacimbas eram novamente cavadas, os areões voltavam aparecer, e a
vida continuava, e novamente as esperanças se voltavam para a chegada de outra
cabeça d’água.
O progresso chegou, esqueceram o rio, a
construção civil consumiu as areias dos areões, poluíram as águas e mataram o
rio. Mas ainda é possível fazer um remendo no estrago que o progresso causou
nele. Construindo duas avenidas beira rio, de um lado e do outro de suas
margens, e criar um espelho d’água. Criando dessa forma uma área de lazer
artificial, e melhorando o clima em nossa cidade. Ou nos consolar com a certeza
de que na nova Jerusalém, a cidade santa, morada eterna dos lavados e remidos
pelo sangue de Jesus, existe outro rio, cujas águas são límpidas e brilhantes
como cristal.
OBS.: MATÉRIA ENCAMINHADA POR E-MAIL, PELO AMIGO E COLABORADOR Missionário Edmilson Carvalho ITERC Instituto Teológico Rio das Contas (iterc1@hotmail.com), A QUEM AGRADEÇO A GENTILEZA E COLABORAÇÃO COM ESTE ESPAÇO.
Acesse: ITERC Instituto Teológico Rio das Contas
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