FONTE: Carolina Sarres/Agência Brasil, TRIBUNA DA BAHIA.
A tendência de se culpar as vítimas de
homicídio no Brasil é um dos grandes entraves ao combate à violência e à
redução de casos que envolvem jovens brasileiros informou o autor
do Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil, divulgado
hoje (18), pelo Centro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), Julio Jacobo
Waiselfisz. Para ele, essa inversão de mentalidade entre quem é vítima e quem é
culpado gera a escassez de recursos e de medidas com o objetivo de efetivamente
solucionar casos relacionados a essas pessoas, na maior parte negras.
“Há um mecanismo perverso que incentiva a
tolerância à violência contra os grupos mais vulneráveis, que deveriam ter
proteção do Estado: tornar a vítima culpada. Isso ocorre com mulheres, crianças
e jovens marginalizados qualificados como traficantes, drogados e arruaceiros.
Mas isso vale de uma forma geral”, explicou o autor.
No Mapa da Violência 2013, observa-se a
tendência de redução, em números absolutos, dos casos de homicídios de pessoas
brancas, e o aumento de vítimas negras. Essa dinâmica se observa em relação à
população em geral e entre os jovens.
Dos 467,7 mil homicídios contabilizados
entre 2002 e 2010, 307, 6 mil (65,8%) foram de negros. Nesse período, houve
decréscimo de 26,4% nos casos de homicídios de brancos e acréscimo de 30,6% dos
de negros. Nesses mesmos oito anos, foram mais de 231 mil homicídios de jovens,
dos quais 122,5 mil eram negros (53,1%). O decréscimo dos casos de pessoas
brancas alcançou 39,8% no período, enquanto, entre negros, houve acréscimo de
18,4%.
As informações do estudo confirmam dados do
Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), de que a população branca
tem, em média, rendimentos entre 60% e 70% superiores aos da população negra e
sugerem que essa realidade tem relação direta com o atual perfil da violência
no Brasil.
De acordo com Julio Jacobo Waiselfisz, um
processo de privatização da segurança teve inicio no Brasil nos últimos 20
anos, com a terceirização de serviços e o surgimento de empresas
especializadas, assim como já ocorria com outros tipos de serviços públicos,
dos quais se destacam a saúde, a educação e a cobertura previdenciária.
“O Estado fornece um nível de serviço para
toda a população. Às vezes, esse patamar é tão mínimo que não se oferece
praticamente nada. Aí a lógica que prevalece é a de que quem pode, paga a
diferença”, disse, ao explicar o porquê de o nível de segurança ser mais
elevado em áreas com população de renda mais alta e majoritariamente branca.
A partir daí ainda ocorre um outro paradoxo.
Em áreas em que há mais circulação de renda e, consequentemente, interesses
econômicos, há a tendência de se chamar mais atenção quando ocorrem atos de
violência – tanto em relação à mídia, quanto em relação à pressão exercida
sobre o Poder Público. Daí, a segurança pública atua de forma mais incisiva
nesses locais, pois, devido à própria renda das pessoas, elas podem arcar com
os custos de uma segurança privada.
“Segurança pública também é política, o que
reforça que haja mais atuação em bairros abastados e turísticos, por exemplo,
do que em favelas. Assim, os abastados têm as duas – segurança pública e
privada -, e as favelas, nenhuma”, explicou Waiselfisz.
A conclusão do estudo é a de que a violência
na sociedade brasileira, especialmente entre os jovens, é o resultado de um
modelo político, econômico e social. “Essas pessoas [jovens entre 15 e 24 anos]
são os algozes, mas também as vítimas da violência estrutural da nossa
sociedade”, finalizou o autor.
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