Há
oito anos, a terapeuta Rosali Batista Ramalho Cortez, 53 anos, cadastrou-se
como doadora de medula óssea. A decisão foi tomada quando conheceu, no hospital
onde era voluntária, uma menina de nove anos com leucemia que pediu ajuda para
encontrar um doador compatível.
Anos
depois, quando Rosali contatou o Redome (Registro Nacional de
Doadores de Medula Óssea) para atualizar seus dados, descobriu que seu nome não
constava na lista que reúne todos os doadores de medula do país.
"Quis
ser doadora por causa dessa criança, que morreu sem conseguir o transplante. Eu
poderia ser compatível com ela", conta.
O
caso dela não foi o único. De acordo com a médica Lúcia Silla, presidente da
Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), a entidade já
havia detectado esse problema.
"Era
uma questão recorrente. Por isso, fomos ao Ministério da Saúde", diz.
Diante
de histórias como a de Rosali, foram feitas mudanças no processo de doação. Em
2011, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) mudou o sistema de cadastro de
novos doadores, que passou a exigir mais dados.
E,
em 2012, o Ministério da Saúde estabeleceu um limite de 270 mil novos doadores
de medula por
ano.
"O
objetivo é organizar melhor as campanhas e o planejamento futuro dos recursos
aplicados nos transplantes", afirma o médico Luis Fernando Bouzas, diretor
do Cemo-Inca (Centro de Transplante de Medula Óssea do Instituto Nacional de
Câncer).
Ele
lembra que o Brasil tem o terceiro maior registro do mundo, com 3 milhões de
doadores. "Mas isso não garante a diversidade genética nem a eficiência do
cadastro, porque campanhas aleatórias e mal feitas não significam a fidelização
de doadores."
Ele
afirma que o sumiço de um cadastro é raro e que dados registrados sem o devido
controle técnico dificultavam a localização do doador.
Segundo
ele, esses dados mal cadastrados estavam gerando desperdício, já que os exames
de compatibilidade (HLA) necessários para cada doador são pagos pelo SUS.
Carmen
Vergueiro, hematologista da Santa Casa de São Paulo e presidente da Associação
da Medula Óssea, diz que a limitação de doadores permitirá realocar verbas
antes usadas no cadastro para melhorar a estrutura necessária aos transplantes.
"Com
o aumento do número de doadores, há pacientes que encontram doadores
compatíveis, mas não conseguem leitos. O gargalo estava ficando nos
hospitais."
Angelo
Maiolino, diretor da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e
Terapia Celular, concorda. "O nó é o atendimento global a esses pacientes.
O Sistema Nacional de Transplantes tem de olhar para o todo, não só para o
registro."
Entre
familiares de pacientes que aguardam um doador compatível, porém, a limitação
no cadastro de novos doadores foi mal recebida. A discussão veio à tona em
junho, na 8ª Conferência de Onco-Hematologia Direitos da Pessoa com Câncer,
organizada pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia.ar.
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