FONTE: Alessandra Oggioni/iG São Paulo, TRIBUNA DA BAHIA.
É muito comum pais e mães ouvirem
do filho que não foi ele que quebrou o brinquedo, que não tinha lição de casa
ou que não bateu no irmão menor. A mentira faz parte do universo infantil.
Até por volta dos cinco anos, a
falta da verdade mistura-se, muitas vezes, à fantasia. É o caso de inventar,
por exemplo, que se tem um amigo imaginário.
“A criança pequena não tem a intencionalidade da mentira. Ela não está tentando
enganar o outro com suas histórias”, explica a psicopedagoga Maria Teresa
Andion, membro do conselho da Associação Brasileira de Psicopedagogia e mestre
em Psicologia do Desenvolvimento Humano, Ensino e Aprendizagem.
Embora a mentira tenha uma certa relação com
a fantasia na primeira infância, ela deve ser combatida pelos pais desde
sempre, mesmo com as crianças menores. Foi o que fez a bióloga Paula Ferro e
Silva Capucho, quando o filho, Samuel, de 3 anos, estragou um brinquedo. “Ele
não admitiu que quebrou, mas vi que tinha sido ele. Eu o chamei e disse que ele
podia dizer a verdade, que não tinha problema”, conta a mãe.
O diálogo é mesmo a melhor opção
para lidar com as mentiras da infância. Explicar que uma determinada atitude não é
correta e mostrar as consequências que a falta da verdade pode acarretar é a
postura que deve ser adotada pelos pais, seja qual for a idade da criança.
“Quando a mentira é uma fase, geralmente na conversa a criança já cede. O
problema é quando ela continua insistindo na mentira”, afirma a psicóloga
Jéssica Fogaça, especialista em comportamento infantil.
Segundo a psicanalista Celia Terra,
professora do curso de Psicoterapia Infantil da PUC-SP, se os pais não agirem
de modo correto, a mentira pode se tornar mais frequente e chegar a níveis mais
graves, como a mitomania. “Ela pode se tornar um adulto associal no futuro ou
até atingir uma linha de psicose e psicopatia”.
Para evitar problemas maiores, veja três
lições indicadas por especialistas para lidar com as mentiras que as crianças
contam.
1ª lição: Evite punições
severas.
De acordo com a psicanalista Celia Terra, toda criança tem uma fase de
mentirinhas. A partir dos seis anos, no entanto, o problema precisa ser
observado com mais cautela, já que a criança tem um pensamento mais elaborado e
consegue dar desculpas mais bem construídas.
A mentira mais comum é a do tipo protetora,
ou seja, aquela que a criança conta para evitar ser punida ou por medo de
desagradar. É o caso, por exemplo, de quando a criança quebra um copo e coloca
a culpa no irmão, porque tem receio de que os pais possam brigar com ela.
Neste caso, os adultos devem
controlar a irritabilidade e simplesmente pedir que a criança tome mais cuidado
da próxima vez. Não é preciso brigar, se exaltar, dar respostas abruptas nem
castigos severos. “Se os pais punirem a criança, ela vai entender a mensagem que tem
de elaborar melhor a mentira da próxima vez, e não a de que não pode mentir”,
explica a psicóloga Jéssica Fogaça.
Manter a tranquilidade foi a estratégia adotada por Paula
Ferro com a outra filha, Manuela, de 5 anos, ao descobrir que a menina tinha
dado um beijinho no colega da escola. “Quando a confrontei de maneira mais
agressiva, ela negou. Depois, fui abordando de forma mais branda até que ela
falou o que tinha feito. Acho que só admitiu quando sentiu confiança e percebeu
que eu não ia colocá-la de castigo”, diz.
2ª lição: Explique as conseqüências.
Ao constatar a mentira do filho, o ideal é dialogar, explicar porque é errado
mentir. “Mas não precisa dar um sermão de duas horas”, orienta Jéssica. Os pais
devem repreender, sim, e mostrar que a mentira pode ser perigosa ou prejudicar
outras pessoas.
Para a psicopedagoga Maria Teresa Andion, se
a criança não receber a orientação adequada, ou seja, se os pais não ensinam
que é errado mentir ou se o fato “passa batido”, ela vai crescer com o hábito
de enganar e de por a culpa por seus atos em outras pessoas. “Os pais devem ter
um olhar de desconfiança, questionar olho no olho e dizer, de maneira firme,
que não é legal mentir”, esclarece.
É o que acontece na casa da médica
veterinárina Kátia Bizaroli, que procura estar sempre atenta ao comportamento
da filha Bruna, de 10 anos. Certo dia, estranhou ao ver a palavra “pênis” no
mecanismo de busca do computador. Mas quando questionou a menina, ela negou. “Dei
bronca não porque ela pesquisou o assunto, mas porque ela mentiu. Para mim, a
mentira é o ponto mais sério. A coisa errada tem um peso, mas a coisa errada
com a mentira o peso é maior, pois quebra a confiança”, diz a mãe.
3ª lição: Dê você mesmo o
exemplo.
Sabe aquela mentirinha social, quando você não quer atender a um vendedor ao
telefone e manda dizer que não está ou sai atrasado de casa e coloca a culpa no
trânsito? Apesar de parecerem inofensivas estas mentiras servem de (mau)
exemplo para as crianças. “Usamos de mentiras normalmente para evitar punições
ou constrangimentos. E quando as crianças acham que os pais vão punir, usam da
mesma estratégia: mentem ou omitem parte da história”, explica Jéssica Fogaça.
Mas se mesmo com atitudes verdadeiras perante
os filhos a mentira permanecer, evite colocá-los em choque. Observe de perto,
oriente e fique atento aos sinais. “Tudo o que a criança faz tem um sentido. Se
ela inventa, isso existe na cabecinha dela. No entanto, se for algo persistente
e intenso é preciso buscar auxílio profissional”, orienta Celia Terra.
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