terça-feira, 18 de agosto de 2015

HANSENÍASE: MANCHAS QUE APARECEM NA PELE E SÃO INSENSÍVEIS DEVEM SER INVESTIGADAS...

FONTE: Carmen Vasconcelos (carmen.vasconcelos@redebahia.com.br), CORREIO DA BAHIA.

Todos os anos, Salvador registra 354 novos casos de hanseníase.
No início deste ano, Patrícia (que preferiu resguardar identidade) percebeu uma mancha logo abaixo do seio. Inicialmente acreditou que a lesão havia sido provocada pelo uso do sutiã. Os dias foram passando e ela percebeu que a mancha crescia, descamava e, com ela, sentia muitas dores nas articulações e nos músculos. Curiosa, procurou na internet alguma informação sobre o seu quadro e descobriu que podia estar com hanseníase.  “Fui buscar o posto de saúde próximo à minha casa e, de lá, me encaminharam para 14º Centro, em Brotas, e eles confirmaram o diagnóstico, a partir daí, comecei o tratamento e, agora, estou chegando ao final, ansiosa por receber alta”, comemora.
Todos os anos, Salvador registra 354 novos casos de hanseníase. A infecção causada pelo bacilo Mycobacterium leprae (também conhecida como bacilo-de-hansen) é responsável por causar danos aos nervos e à pele.  No passado, a hanseníase (nome dado em referência ao descobridor do micro-organismo causador da doença, o médico Gerhard Hansen), também chamada de lepra,  foi responsável por pânico mas, hoje, ela é curável e o tratamento é disponibilizado gratuitamente na rede pública de saúde.
      

De acordo com a enfermeira Helena Ribeiro, do Programa Municipal de Hanseníase,  como o período de incubação da doença é longo, variando de dois a sete anos, aparecendo quando as defesas estão mais frágeis, é fundamental estar atento a qualquer mancha que apareça na pele, especialmente se ela crescer e não possibilitar sensibilidade na área afetada. “O Ministério da Saúde deu início essa semana a uma campanha nacional que pretende fazer a busca ativa de casos, especialmente entre crianças em idade escolar de  5 aos 14 anos”, esclarece Helena. Ela pontua que a escolha do público alvo não significa que esteja nessa faixa etária a maior parte dos casos, mas que se esses jovens estão contaminados é porque há outros membros da família também contaminados, afinal, a transmissão da doença se dá por contato íntimo e prolongado, por meio das gotículas da saliva ou da respiração.
Campanha.
Em Salvador, as localidades onde a doença – conhecida no passado como lepra e responsável pela construção dos temidos leprosários – está mais presente é Itapuã, Paripe, Periperi, Alto de Coutos, São Caetano e Valéria. “Apesar disso, é importante salientar que a hanseníase pode infectar qualquer faixa etária, em qualquer lugar”, completa a representante da saúde municipal.
Na Bahia, a campanha será realizada em 8,1 mil escolas de 250 municípios, para examinar e tratar mais de 1 milhão de alunos. Vale salientar que, no ano passado, os estados do Pará, Mato Grosso, Maranhão, Bahia e Pernambuco responderam por 80% do total de diagnósticos positivos de hanseníase.
A coordenadora de Agravos da Vigilância Epidemiológica da Bahia, Isabel Xavier, ressalta que todos os municípios do estado necessitam de atenção, mas que algumas áreas do sul, como Belmonte e o distrito de Barrolândia, do norte, como Remanso, e do oeste, como Santa Maria da Vitória terão uma atenção especial. “As áreas mais rurais costumam ser mais vulneráveis e por isso mesmo merecem atenção especial”, completa.
Prevenção.
Embora exista tratamento, não há vacina disponível contra a hanseníase e a melhor forma de prevenir é manter o sistema imunológico funcionando bem. “Boa alimentação, fuga do sedentarismo, boas condições de higiene ajudam a manter a doença longe e permitem que o organismo responda se houver contato com o bacilo”, esclarece Isabel Xavier.
Ela ressalta ainda que os familiares e pessoas próximas a um doente precisam também procurar uma Unidade Básica de Saúde para avaliação, possibilitando que a doença não seja transmitida. Isabel ressalta que o tratamento também precisa ser levado até o final. “É muito comum que, depois de poucas semanas, o paciente se sinta bem, mas é fundamental que ele conclua a etapa de seis meses a um ano para evitar que o bacilo volte a atacar”, diz. A coordenadora pontua que o tratamento é longo, pode ter alguns efeitos adversos, como as náuseas, escurecimento da pele, ressecamento dos olhos, mas que esses desconfortos desaparecem após o processo. “O importante é garantir que o bacilo seja combatido e que não haja sequela para o paciente”, finaliza.
Terapia preventiva trata contatos de pacientes.
Como medida de reforço para interromper a cadeia de transmissão, o Ministério da Saúde está adotando, ainda neste segundo semestre, a terapia preventiva da hanseníase aos contatos de casos diagnosticados com a doença. A iniciativa começará em 13 municípios de três estados com alta carga da doença: Pernambuco, Mato Grosso e Tocantins.
A estratégia busca ampliar a cobertura de exames de contatos. Ou seja, a cada novo diagnóstico ou pessoa em tratamento, o serviço de saúde vai identificar e tratar, no mínimo, 20 contatos, entre pessoas que vivem na mesma casa, na vizinhança e outros contatos sociais. Mesmo sem ter sintomas da doença, a pessoa receberá uma dose única de antibiótico.

Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Antônio Nardis,o  tratamento de prevenção pode ser usado como uma intervenção adicional para a redução da transmissão da hanseníase. Estudo mostra que a profilaxia pode reduzir em 60% a incidência da doença e em 57% o risco de hanseníase em contatos de pacientes diagnosticados, em dois anos. Cerca de 40 mil pessoas deverão usar a profilaxia nesses municípios.

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