FONTE: Thais Carvalho Diniz, Do UOL (http://estilo.uol.com.br).
Diferentemente do ciúme comum, que faz parte de
relacionamentos saudáveis, o sentimento excessivo pode se tornar patológico e
destruir a vida do casal. Em casos normais, ele aparece em forma de ansiedade e
insegurança --mas nada fora do comum. Entretanto, uma pessoa doente tem baixa
autoestima e não consegue estabelecer relação de confiança porque, entre outros
motivos, acredita que ninguém pode querer amá-la verdadeiramente.
Para se sentir no controle da situação, o processo
doentio começa com a fiscalização pesada. “É uma ilusão de controle. Colocam
rastreador no celular, no carro.... E quando não pode com esses recursos, liga
desesperadamente porque quer saber o tempo todo onde e com quem o parceiro
está. No final, essa pessoa esquece da própria vida em função do outro, que se
sente sufocado e pode abandonar tudo”, afirma a terapeuta Arlete Gavranic, do
Isexp (Instituto Brasileiro de Sexologia e Medicina Psicossomática).
A psicoterapeuta Iracema Teixeira fala que esse
tipo de comportamento é comum entre homens e mulheres, mas que, culturalmente,
eles não se sentem à vontade para admitir um grande amor e, por isso, sabe-se
menos de casos masculinos. “As características são semelhantes ao vício em
drogas e álcool, por exemplo. O quadro obsessivo traz sintomas de abstinência
quando há qualquer distância física --ou mesmo emocional--, como insônia e
taquicardia”.
Segundo as especialistas, o primeiro passo é
reconhecer a patologia e, em seguida, procurar ajuda. Existem grupos anônimos e
a própria terapia pode ajudar. “São situações extremadas e muito delicadas. O
parceiro de um ciumento excessivo precisa ajudar e não reforçar o
comportamento. Muitas vezes, eles se sentem sufocados, mas em outras, confundem
com cuidado e amor”, explica Iracema.
A seguir, conheça as histórias de Lisa* e Isabel*, que
reconheceram os sintomas e procuraram ajuda. Elas tiveram gatilhos diferentes
para se tornarem ciumentas patológicas. A primeira, por conta da baixa
autoestima, criou situações fictícias, enquanto a segunda teve uma referência
real --uma traição--, que minou a confiabilidade.
*Os nomes
foram trocados para preservar a identidade das entrevistadas.
Lisa, 33 anos, solteira.
"Estive num relacionamento destrutivo por
alguns anos. Por causa do meu ciúme obsessivo, fui rejeitada. Meu parceiro não
suportava mais uma mulher como eu, obcecada, e passou a não atender mais as
minhas necessidades: a falta de afeto e amor.
Entrei num processo doentio de achar que
ele podia ter outra pessoa, criei coisas na minha cabeça...
Com toda essa desconfiança, perdi o controle de
mim mesma e invadi a privacidade dele. Eu ligava compulsivamente tentando
controlá-lo, saber onde e com quem estava. O medo de perdê-lo era enorme e, com
isso, o afastei cada vez mais.
Busquei ajuda no Grupo Mada-RJ
(Mulheres que Amam Demais Anônimas do Rio de Janeiro) quando finalmente
consegui admitir que era impotente diante daquela relação e que minha vida
tinha se tornado ingovernável.
Mudei os padrões destrutivos de me relacionar e,
assim, consegui melhorar minha autoestima e amor próprio. Me livrei da culpa,
da raiva e do ressentimento num processo de crescimento. Minha recuperação,
hoje, é uma nova maneira de viver."
Isabel,
42 anos, casada há 18.
"Meu relacionamento passou por um momento
difícil quando, há cerca de cinco anos, descobri que ele estava me traindo.
Nunca tinha passado por uma situação de infidelidade, mas penso que tinha uma
relação de confiança cega.
Eu pensava que meu casamento era perfeito.
Somos empresários e meu status pessoal sempre
teve muita importância. Quando me dei conta, descobri as diversas amantes
--colegas de trabalho, garotas de programa e pessoas que ele conhecia na rua.
Desmoronei afetivamente e entrei num processo de ciúme patológico.
Continuei meu casamento, queria reconstrui-lo,
mas tudo tinha um potencial sádico. Demorei mais de dois anos para entender que
eu estava doente, pois era mais fácil acusar e humilhar meu parceiro --que
verdadeiramente se redimiu e tentava salvar a relação. Procuramos a terapia
juntos, fizemos alguns meses, mas percebemos que precisávamos de acompanhamento
individual.
Hoje, depois de três anos de tratamento,
ainda tenho sequelas de inconformidade, mas temos uma convivência mais
saudável, verdadeira e menos destrutiva.
Estou recuperando minha autoestima, me sentindo
bonita, desejada.... Não posso dizer que parei 100% com meu ciúme, mas retomei
o autocontrole e me sinto mais à vontade para perguntar de forma espontânea --e
não policialesca-- sobre o dia do meu marido."
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