FONTE: André Carvalho, Do UOL, em São Paulo (http://noticias.uol.com.br).
Sabe aquele sonho
intenso que dá vontade de lembrar cada pedaço, mas então, quando você tenta
contar para alguém durante o café da manhã, cadê as lembranças? O que acontece
para que nossa memória não guarde os sonhos?
De acordo com
neurocientistas, se as imagens oníricas foram embora assim, sem deixar
lembrança alguma, talvez não tenham o impressionado de maneira significativa.
Ou então, você não se esforçou o suficiente para mantê-las vivas em sua mente
por mais tempo.
"A lembrança ou
não desse sonho varia muito pelo impacto que esse sonho teve na gente",
afirma Magda Lahorgue, do InsCer (Instituto do Cérebro do Rio Grande do
Sul)."Tem pessoas que lembram mais que outras. Mas não lembrar não
significa que não tenha sonhado", ressalta a neurocientista.
As pessoas costumam
sonhar todas as noites, mas "poucas se lembram disso", afirma Sidarta
Ribeiro, diretor do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte).
Sonhos
complexos? Depende do momento do sono.
É preciso deixar
claro, também, que ao longo da noite, temos diferentes estágios de sono e,
consequentemente, tipos de sonho distintos.
Aqueles ocorridos no
turno inicial do sono, na fase não-REM (rapid eye
movement, ou "movimento rápido dos olhos", em tradução livre) tendem
da ser menos "complexos" do que aqueles ocasionados durante a fase
REM, quando as ondas cerebrais se aceleram, alcançando uma atividade
similar àquela que se passa quando estamos acordados.
"Nós podemos ter
sonho todas as noites, em todas as fases do sono. Só que os sonhos que a gente
tende a lembrar mais são os sonhos que acontecem na fase REM, que é a fase mais
próxima ao amanhecer. São sonhos mais vívidos, são sonhos que têm um teor mais
real", explica Nunes.
São
histórias complexas, muitas vezes repletas de cargas emocionais intensas,
enquanto os sonhos da fase não-REM, são muito simples. "As imagens podem
chegar a ser uma tela preta", diz Ribeiro. "Acredita-se que sejam
sonhos com conteúdo mais primitivo", completa Nunes.
Além de serem
menos intensos, estes sonhos da fase não-REM são menos "recordáveis". "As coisas que acontecem no sono não-REM a gente
não têm memória no dia seguinte. O sonambulismo, por exemplo, a gente não
lembra no dia seguinte, porque acontece aí no não-REM", compara Nunes.
Sendo assim, o momento
em que despertamos --se durante o sono não-REM ou durante o sono REM-- também é
um fator determinante para a lembrança (ou não) de um sonho.
"Despertar do
sono não-REM, sobretudo o sono de ondas lentas que se aprofunda ao longo da
primeira metade da noite, costuma gerar relatos de sonho pobres ou mesmo
ausentes", explica Ribeiro.
O pesquisador
recomenda uma técnica para fazer com que as lembranças do sonho permaneçam na
memória do indivíduo em um período de tempo que vá além do café da manhã.
"Um exercício de
auto-sugestão antes de dormir --'vou sonhar, lembrar e relatar'-- costuma ser
bastante eficaz para gerar abundantes relatos de sonho, desde que a pessoa
permaneça quieta na cama ao despertar, buscando apenas rememorar o sonho",
diz Ribeiro.
A
noradrenalina: o fator extra.
Esforçar-se para
lembrar o sonho ao amanhecer pode ser uma maneira bastante efetiva de trazer à
tona as lembranças oníricas da noite anterior. Mas há um neurotransmissor
determinante para o "esquecimento" dos sonhos: a noradrenalina, que
entre outras coisas, está ligada ao sistema de alerta do corpo humano.
"Os níveis de
noradrenalina são quase nulos durante o sono REM, e esse neurotransmissor é
crucial para prestarmos atenção em algo", afirma Ribeiro. "Quando a
pessoa acorda e sai da cama de repente, o influxo de noradrenalina do despertar
funciona para reforçar as experiências da vigília e não as do sonho".
Quando aquele sonho
bom for embora, antes mesmo de escovarmos os dentes, então, já sabemos a quem
culpar.
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