FONTE: *** Heloísa Noronha, Colaboração para o UOL, (http://estilo.uol.com.br).
Quanto menor a criança, maiores as chances de ela
chocar os pais com suas explorações do mundo e do próprio corpo. Mexer no nariz
em busca da meleca perfeita para comer ou meter a mão no cocô na hora da troca
da fralda, levando em seguida o dedinho lambuzado à boca, são atitudes infantis
capazes de deixar os adultos de cabelo em pé. Como agir? É preciso não só
orientar se certos hábitos são ou não aceitos, mas também se prevenir contra
possíveis doenças. Veja o que fazer diante de manias de embrulhar o estômago:
Comer meleca do nariz.
Admita: você provavelmente também experimentou
caquinha verde na sua infância. Para quem não se lembra, a meleca tem um gosto
salgadinho parecido ao do soro fisiológico - e é por isso que as crianças
gostam tanto. Ela é composta por células da parte nasal, sal proveniente do
suor e fuligem do ar. Comê-la não oferece risco algum, pois ela será digerida e
eliminada pelas fezes. Há estudos, inclusive, que indicam que ao tirar e comer
a meleca a criança produz anticorpos que atuam como um fator de proteção. No
entanto, o ato de cutucar as narinas pode machucar o septo e lesar os vasinhos,
provocando infecções locais - principalmente se o dedo estiver sujo. E,
convenhamos, a mucofilia (nome científico da mania) não é nada agradável de se
ver e deve ser corrigida pelos pais, sempre com conversa e orientação.
Cutucar feridas.
Aplacar a ansiedade, incômodo por sentir algo
diferente no próprio corpo, coceira ou simples curiosidade são alguns dos
fatores que costumam levar qualquer criança a mexer em machucados. O problema é
que, ao arrancar as casquinhas, é retirada a barreira de proteção da pele, o
que provoca uma interrupção no processo de cicatrização. Como a unha contém
bactérias, a pele exposta fica mais propensa a infecções e a cicatrização pode
acontecer de maneira inadequada e profunda. O que os pais devem fazer? Deixar as
unhas do filho bem curtas, lavar a mão da criança sempre que necessário,
aplicar cremes ou pomadas que agilizem a cicatrização e diminuam a coceira e
cobrir o local com band-aids ou curativos lúdicos e divertidos.
Comer insetos ou cocô.
A partir dos quatro meses de idade, os bebês
reconhecem as coisas levando-as à boca. Por mais que os pais vigiem, algumas
escapadas vão fugir ao seu controle. Embora a ingestão de insetos seja
considerada um hábito cultural, dependendo do local, nos países onde isso acontece
os bichinhos foram criados e preparados de forma segura para essa finalidade.
Não são raros os casos de bebês levando à boca formigas, besouros e até
baratas. Os insetos, em si, não oferecem risco, mas como possivelmente
passearam por lugares contaminados, podem trazer incontáveis vermes e bactérias
em suas patinhas. No caso do cocô, a criança pode comê-lo em determinadas
circunstâncias: durante a troca, ao passar a mãozinha na sujeira e levá-la à
boca, ao cutucar a fralda ou até no processo de desfralde, quando é comum haver
escape das fezes. Tanto no caso dos insetos quanto no do cocô, é preciso
esterilizar as mãos da criança com água e sabão, observá-la atentamente por
alguns dias e levar ao médico se apresentar febre, diarreia ou vômito. E,
obviamente, ensinar que não se deve levar "caca" à boca
Mexer na água da privada.
Imagine, na percepção infantil, o quão encantador
é a visão de um vaso sanitário cheinho de água para se divertir! Essa
curiosidade é mais do que normal, é saudável. Entretanto, por mais limpa que
seja, é claro que qualquer privada contém bactérias, fungos, vírus e vermes. Há
perigo de a criança contrair viroses ou infecções gastrointestinais com quadros
de vômito e diarreia. Diante da travessura, lave bem as mãos e o rosto do seu
filho com sabonete e água corrente. E já que só tampar a privada nem sempre
funciona, procure por travas e outros mecanismos de segurança para que o
pequeno não mexa. É bom também passar a fechar a porta do banheiro para a
criança não ter acesso.
Colocar terra ou areia na boca.
Quando brinca no parquinho a criança já está
suscetível a adquirir o bicho geográfico, cujas larvas penetram na pele,
causando lesões. Ao comer areia ou terra, o perigo aumenta: como cães e gatos
podem ter andado e feito suas necessidades no local, há o risco de contrair
vermes e bactérias. Em vez de impedir que seu filho entre em contato com a
sujeira, restrição que pode ser muito mais prejudicial do que uma virose, é bom
ficar de olho em possíveis sintomas: os mais comuns são os já citados febre,
diarreia e vômito. Vale lembrar que, segundo especialistas, a higienização
excessiva é negativa e limitante à infância.
Roer unha.
Mais do que provocar nojo, a onicofagia, mania de
roer as unhas e engolir, é perigosa. As lesões causadas pelo hábito podem
causar infecções de pele e da unha (causando até mesmo perda da mesma). Em
alguns casos, os pedaços de unhas engolidos podem causar pequenas lesões no
estômago e intestino. Outra ameaça: a sujeira acumulada sob as unhas contém
germes e bactérias que contaminam o organismo e provocam doenças. Os pais
precisam explicar que o hábito não é saudável e, em casos mais extremos, contar
com o auxílio de produtos como esmaltes com gosto ruim, que vão impedir a
criança de levar a mão à boca. Como a ansiedade e o estresse podem estar por
trás desse comportamento, é aconselhável ouvir a opinião do pediatra.
***FONTES: Cylmara Gargalak Aziz, pediatra
especialista em gastropediatria e membro do corpo clínico do Hospital Sírio
Libanês, em São Paulo (SP); Daniela Miranda, pediatra e neonatologista do
Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo (SP), e Nelson Douglas
Ejzenbaum, pediatra, neonatologista e homeopata infantil, de São Paulo (SP).
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