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Estudo feito no Reino
Unido constatou que um terço das jovens entrevistadas relataram sofrer com a
pressão de passar a imagem de uma vida perfeita nas redes sociais.
Carol Tomasulo, estudante, é uma
jovem de 21 anos que está inserida no mundo digital tanto quanto a maioria das
pessoas da sua idade. Porém, sua relação com as redes sociais não é tão
amistosa quanto entre as demais jovens.
Há dois anos e meio ela faz
terapia porque o uso das redes sociais estava desestabilizando sua saúde
emocional. O motivo: ela se comparava a outras pessoas que via na internet e
acreditava que sua vida não era tão boa quanto a dos outros.
“Soa ridículo você falar que
excluiu seu Facebook porque a vida das pessoas parecia melhor do que a sua”,
diz Carol ao explicar o motivo para não ter dividido essa sensação com ninguém.
A ONG inglesa Girlguiding fez uma
pesquisa com mais de mil meninas, entre 11 e 21 anos, e comprovou que a relação
delas com o mundo virtual pode não ser tão amistosa quanto aparenta. Uma em
cada três jovens relatou que sua maior preocupação online era comparar a sua
vida com a de outras pessoas através das redes sociais e alegaram que se
preocupam com a forma como tal hábito está afetando seu bem-estar.
O E+ conversou com algumas jovens brasileiras e consultou
especialista para entender melhor esse fenômeno.
O psicólogo Roberto Alves Banaco,
membro da Sociedade Brasileira de Psicologia e professor do mestrado
profissional em análise do comportamento aplicada do instituto Paradigma,
explicou as causas desse comportamento de parte importante das jovens através
de dois fenômenos.
O primeiro trata-se de um
comportamento cultural que é o de se seguir aquele que considera-se o
bem-sucedido: todo mundo vai querer seguir, imitar ou se relacionar de alguma
forma com essa pessoa.
A outra explicação de Roberto é
que a maioria não posta os momentos ruins de sua rotina, apenas os bons, e
por isso suas vidas parecem perfeitas. “A vida dos outros é sempre melhor do
que a minha porque na minha tem sofrimento, tem depressão e desacordo, que eu
também não mostro, mas sei que há. Dessa forma, na comparação, o outro é sempre
mais feliz do que eu”, esclareceu.
É crescente a intensidade com que
os jovens se conectam à internet diariamente. Se o mal uso das redes sociais
pode causar algum malefício para a saúde, a maior exposição a elas amplifica
tais perigos ao bem-estar.
O psicólogo conta que há um
crescente número de casos de distúrbios de personalidade decorrentes do que ele
chama de cisão do eu interior e do eu exterior: a imagem que alguém projeta não
condiz com quem ela seja de verdade.
Se, por um lado, a pessoa precisa
da aprovação dos outros, por outro ela começa a se questionar se gostam dela de
verdade ou se apenas da imagem que ela construiu. Apesar desse e de outros
distúrbios estarem se tornando mais frequentes, não representam a maioria dos
casos. Já ansiedade e depressão, segundo Roberto, acompanham a grande maioria
de jovens que adotam a busca pela perfeição no mundo digital.
Edna Fernandes, também estudante,
tem 19 anos e compartilha do hábito de se comparar a outras pessoas nas redes
sociais. Diferentemente de Carol, ela não compara tanto sua vida, mas sim a sua
aparência física.
“Se eu, por exemplo, vejo a foto
de uma amiga que está muito bonita, é como se fosse um baque na autoestima. É
como se eu pensasse: ‘Ela consegue tirar uma foto bonita e eu não’”, conta. Ela
ainda percebe que o mal-estar com relação a si mesma não dura apenas enquanto
está nas redes, mas permanece por um tempo na vida real, o que indica que não
se trata apenas de um problema de se sentir bem ou não com uma foto, mas pode
atingir a vida real das jovens, influenciando suas atitudes e comportamentos.
Carol concorda com ela. Algumas
vezes chegou a excluir seu perfil no Facebook por conta do efeito negativo que
sentia. Contudo, estar fora das redes, onde todos os seus amigos estavam, podia
ser tão ruim quanto estar dentro: “Eu pensava: ‘E se eu voltar e postar uma
foto nova, quem sabe agora não tenha mais curtidas?’”. Um ciclo vicioso que estava
prejudicando sua saúde emocional.
“As curtidas viraram uma moeda. A
pessoa que tem mais curtidas e amigos é mais rica, aparentemente, de afeto”,
explica Roberto. Ele argumenta que ter muitas curtidas, compartilhamentos e
amigos nas redes sociais é sinônimo de “ser gostada”, só que isso não é real. E
quanto mais curtidas a pessoa obtém, mais ela almeja na crença de que isso a
deixará mais feliz.
Perguntada sobre de onde vem os
padrões de beleza ou perfeição, Edna opinou que beleza é um conceito relativo e
que varia de pessoa para pessoa. No entanto, considera que existam consensos na
sociedade sobre certos padrões e avalia que as curtidas nas redes sociais
influenciam o que deve ser considerado belo ou feio, o que deve ser visto como
legal ou chato.
“Se uma pessoa recebeu 300
curtidas [em uma foto] e você só 100, por exemplo, então essa pessoa deve ser
bonita e você, que não recebeu tantas, não”, refletiu.
“Eu achava que eu não deveria
postar nada e que não deveria aparecer porque eu não era como o que queriam que
eu fosse, que ditavam que eu deveria ser”, contou Carol. Ela acredita que a
mídia é a principal responsável por determinar os padrões de beleza e de
perfeição. Disse, também, que os modelos de beleza representam, em sua visão, o
mesmo padrão: “São sempre mulheres magras, brancas, de cabelo claro e que usam
os produtos da moda”, observou.
Outro dado relevante levantado
pela pesquisa inglesa foi a opinião das jovens sobre a percepção que os pais
têm da pressão que as meninas sofrem no mundo digital.
Em torno de 47% das entrevistadas
relataram que os pais tinham consciência desse tipo de pressão e apenas 12%
afirmaram que seus responsáveis tinham alguma preocupação real com esse
problema enfrentado por elas.
Esta falta de diálogo contribui
para que o problema cresça e não consigamos entender os meios para resolvê-los.
Edna pensa que seus pais entendem
a pressão sobre as jovens, no geral, de se enturmar ou se sentir dentro do
padrão. Contudo, não pensa que eles saibam que ela esteja suscetível e até sofra
com isso.
Por outro lado, Carol é ainda
mais contundente e reconhece que talvez sua mãe não entenda completamente o
problema por não ter a mesma visão das redes sociais que ela: “É uma coisa da
nossa geração, então talvez meus pais não entendam. Minha mãe usa o Facebook
mas usa de uma forma muito diferente”.
Roberto discorda, parcialmente,
da conclusão de Carol. Ele entende que os pais de jovens na faixa etária do
estudo já tiveram certo contato com a pressão da perfeição nas redes sociais. O
problema, para ele, é que os pais abrem mão muito cedo de sua paternagem, isto
é, das funções de ser pai ou mãe.
“A educação não acaba porque a
criança está se tornando um adulto. A educação continua com uma série de
habilidades e reflexões que ela vai desenvolver na vida, especialmente as
afetivas. Os pais têm que estar muito mais presentes na educação dos filhos até
o fim da vida”, argumentou o psicólogo. Ele ainda acredita que os pais não dão
a atenção suficiente que o problema exige.
A solução, para ele, não é fácil:
“Temos de lidar de forma social, aplicando grandes esforços: levantar o debate
sobre a questão e desenvolver pesquisas científicas que ajudem a compreender
como acabar com essa competição maluca”. E claro: ouvir as meninas. Por que, se
continuarmos surdos a elas no debate, permaneceremos longe da solução.
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