Colocar açúcar
em ferimentos é uma "receita de vó" que atravessa gerações --muitas,
por sinal. Segundo relatos, cirurgiões egípcios já tratavam feridas com mel e
unguento no ano 1700 a.C. Também há registros de que substâncias que contêm
açúcar eram usadas por outros povos antigos para essa finalidade.
Segundo muitas das
nossas avós, a prática ajuda a sarar cortes e arranhões mais rapidamente.
Realmente, elas estão certas. Os benefícios do método são indiretos, mas
confirmados por pesquisas científicas.
Um desses estudos foi
feito por Moses Murandu, professor sênior de enfermagem da Universidade de
Wolverhampton (Inglaterra). Durante mais de 20 anos ele observou que o uso
tópico do açúcar acelerava a cicatrização de feridas. O cientista até recebeu
um prêmio do Journal of Wound Care pela descoberta, que é importante para
pessoas que não podem comprar antibióticos, principalmente as que moram nos
países mais pobres.
Como
o açúcar ajuda a tratar os cortes?
A explicação é simples.
Ao ser colocado em uma ferida, o açúcar absorve a umidade do local. Isso
minimiza o risco de o ambiente se tornar favorável à proliferação de bactérias
--geralmente, as principais culpadas pelos problemas de cicatrização.
Obviamente,
dificilmente um médico vai recomendar que você use o alimento para tratar um
machucado. Afinal, existem medicamentos, curativos e outros produtos
específicos para isso. Porém, caso não tenha uma farmácia por perto, o açúcar
pode ser uma opção de emergência.
De
que modo usar açúcar em um ferimento?
Como a ideia é secar o
leito da ferida, grãos maiores, como os do açúcar cristal, são os mais
indicados, já que os menores sugam o líquido muito rapidamente e acabam se
dissolvendo logo. A camada aplicada não deve ser tão fina, pois cepas de
bactérias crescem em baixas concentrações de açúcar, mas são inibidas em
quantidades mais altas.
Antes de aplicar o
alimento, é necessário lavar bem a área lesionada com água e sabão neutro, para
remover a sujeira e os micróbios. Depois, a recomendação é polvilhar o açúcar e
cobri-lo com uma gaze, um pano limpo ou um curativo adesivo. Essa medida é
importante para não atrair insetos.
Os curativos devem ser
trocados a cada quatro horas, no máximo, sempre higienizando a região antes de
depositar o açúcar. Mais tempo do que isso pode ter um efeito contrário, pois o
ambiente se torna propício para uma infecção. Isso até ocorrer a cicatrização
completa. Como o tratamento é local, ele pode ser feito por pessoas com diabetes,
pois não eleva as taxas de glicose no sangue.
O
açúcar ajuda a estancar o sangramento?
Muitas pessoas
acreditam que sim, mas isso é um mito. A melhor maneira de parar o sangramento
é comprimir a região, já que a pressão faz o sangue circular menos. O ideal é
sempre colocar uma gaze por baixo dos dedos antes de iniciar o procedimento.
Esfriar o local com uma compressa de gelo ou mergulhar a lesão em água fria
também ajuda porque os vasos sanguíneos se contraem em temperaturas baixas. É
importante lavar o corte suavemente com água corrente e sabonete neutro, de
preferência líquido, ou soro fisiológico. Ou ainda fazer uso de um antisséptico
para evitar contaminações.
Embora o sangramento
assuste, não há motivos para se preocupar tanto. Até porque ele tem funções
importantes como aumentar a vascularização da ferida, trazer agentes
anti-inflamatórios e ativar a imunidade antes de começar o processo de formação
de um tecido novo.
O sangramento costuma
cessar em cerca de dois minutos. Mas é bom ficar atento. Se o volume do sangue
for muito grande, um vaso de calibre maior pode ter sido atingido. Ou até uma artéria,
se o sangue estiver espirrando em jatos. Nesses casos, é aconselhável procurar
um médico ou ir ao hospital porque pode ser preciso fazer uma sutura. O mesmo
vale para feridas que demoram a cicatrizar, pois o motivo pode ser uma infecção
séria ou até mesmo um câncer
de pele.
Que
cuidados tomar com infecções.
Quase sempre o
organismo possui a capacidade de combater sozinho micróbios que entram pelas
feridas. Mas isso pode não ocorrer caso a pessoa tenha um sistema imunológico
deficiente, tome medicamentos como corticoides, esteja fazendo quimioterapia ou
fragmentos de um objeto contaminado permaneçam no local. Aí, há um risco maior
de infecção, cujos sinais são vermelhidão local, aumento da dor e formação de
pus.
Tomando os devidos
cuidados (ou seja, lavar e proteger bem o machucado), a fase inicial de
regeneração da pele, que é o fechamento da lesão, ocorre em até 14 dias. Já a
cicatrização completa acontece em mais ou menos seis meses.
Outras
táticas caseiras funcionam?
Não é só açúcar que as
pessoas costumam passar nas feridas. Produtos variados, como pó de café, creme
dental, vinagre e até água sanitária são usados em tratamentos caseiros. Mas
não é indicado investir nesses produtos.
O problema é que alguns
deles podem criar crostas e tornar a ferida um ambiente favorável ao
desenvolvimento de bactérias. Também podem irritar a pele sensível e delicada
que começa a se formar depois de um corte ou arranhão, além de matar as células
que estão promovendo a cicatrização.
*** Fontes: Fabiane
Brenner, professora de dermatologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná); e
Luiz Guilherme Castro, dermatologista do Centro Especializado em Oncologia do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
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