A
dor é um dos sintomas mais frequentes e temidos.
Nos pacientes com câncer, é uma das maiores causas de sofrimento, acometendo de
30 a 50% dos indivíduos em tratamento e mais de 70% daqueles nos estágios
avançados da doença e no fim da vida. Se por um lado dispomos de diversos
fármacos para controlar a dor, por outro nem sempre eles são devidamente
usados. Os medicamentos opioides — grupo que engloba codeína, morfina etc. —
são a base do tratamento de dores moderadas a intensas, agudas (como no
pós-operatório) ou crônicas (sobretudo no câncer) devido à sua rápida ação e
eficácia e à ausência de dose máxima.
No entanto, esses
analgésicos despertaram alarme e desafios diante do seu uso abusivo em alguns
países, em especial Estados Unidos, Canadá e Austrália. A “crise dos
opioides”, caracterizada por um emprego prolongado e indiscriminado desses
remédios, levou a altas taxas de dependência e mortalidade nessas nações. E
teve um impacto profundamente negativo no manejo da dor em todo o mundo, uma
vez que aumentou o medo de se prescreverem opioides.
Para a América Latina e
a maioria da população mundial, porém, a disponibilidade e o acesso a esses
medicamentos ainda são inadequados e sua baixa oferta e indicação no ambiente
médico levam ao subtratamento da dor e a um sofrimento desnecessário. Dados da
Organização
das Nações Unidas apontam que a situação no Brasil e
região é diferente da realidade americana, onde os opioides viraram uma ameaça
em termos de abuso e mortes por substâncias ilícitas.
Assim, ao indicarem os
analgésicos, os profissionais de saúde devem avaliar todo um contexto capaz de
influenciar a expressão da dor — o que inclui a presença de distúrbios físicos
e psicológicos e o risco de uso abusivo de alguma substância.
É preciso um trabalho
conjunto de educação e regulação para encorajar a utilização adequada e o
monitoramento dos opioides. Mas tendo em mente que a crise na América Latina é
oposta à dos EUA e outros países desenvolvidos. O desafio aqui é o
subtratamento e o sofrimento diante da dor.
***André
Junqueira é médico e presidente da Academia Nacional de Cuidados
Paliativos. João Batista Garcia é médico e presidente da Federação
Latino-Americana de Associações para o Estudo da Dor.
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