Por causa da covid-19,
muita gente ficou sem festa de formatura ou teve que adiar a cerimônia de
casamento. Outros abandonaram o hábito de ir à igreja todo domingo, de jantar
com os amigos uma vez por mês, ou completar uma maratona por ano. Todos
perderam algum tipo de celebração coletiva e isso faz mais falta do que parece.
Um estudo realizado
por antropólogos da Universidade de Connecticut, nos EUA, com colaboradores da
Universidade Masaryk, na República Tcheca, comprovou que rituais ajudam reduzir
os níveis de ansiedade e aumentar a tolerância ao estresse. Por isso, são
essenciais em épocas de crise.
Para a equipe,
coordenada pelo professor Dimitris Xygalatas, embora as pessoas acreditem que
todo sofrimento atual se deve a questões de sobrevivência, parte desse
mal-estar pode ter a ver com a ausência desses rituais que funcionam como
válvula de escape para as preocupações.
O trabalho teve início
anos atrás, com diferentes experimentos. Primeiro, em laboratório, os
pesquisadores descobriram que, ao induzir ansiedade em um grupo de pessoas,
elas passavam a ter um comportamento mais ritualizado, ou seja, mais repetitivo
e estruturado.
Depois, a equipe partiu
para a análise em um ambiente real, nas Ilhas Maurício, no Oceano Índico. Um
grupo de 75 pessoas foi desafiado a preparar um plano de enfrentamento a
desastres naturais que seria avaliado pelo governo. Enchentes e ciclones são
frequentes naquela região, por isso pensar no assunto e elaborar um plano
eficiente causou estresse nos participantes.
Depois de receber a
missão, metade do grupo foi para um templo, participar de um ritual religioso
local. A outra parte foi orientada a apenas sentar e relaxar num local sem
qualquer referência religiosa. Com ajuda de rastreadores, eles puderam medir a
variabilidade de frequência cardíaca, um indicador de estresse.
Todos ficaram tensos
com a situação, mas os participantes que foram para o templo apresentaram
menores níveis de estresse psicológico e fisiológico, de acordo com os
resultados. Provavelmente porque os rituais dão ao cérebro uma noção de
regularidade, estrutura e previsibilidade.
Claro que ficar em
estado de alerta é importante em momentos de tensão. Sem isso, não há como
“lutar ou fugir”, o que é essencial para a sobrevivência. Mas quando a
adrenalina sobe além da conta, o humor e a capacidade de concentração e
raciocínio são afetados, o que não é desejável. Se o estresse for crônico, o
corpo também sofre: a imunidade enfraquece e o indivíduo fica mais propenso a
hipertensão e doenças cardiovasculares.
Ao publicar o estudo,
os autores comentaram algumas reações à pandemia que, de certa forma, podem ser
interpretados como rituais para aliviar a ansiedade, como os aplausos diários
aos profissionais de saúde ou a produção de corais virtuais. Eles também
citaram outro estudo recente, que aponta o aumento das buscas pelo termo
“prece” no Google por causa do novo coronavírus. Cada um deve procurar o ritual
que lhe traz mais conforto neste momento.
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