Quase todo mundo já
ouviu falar em depressão pós-parto. Ter sintomas como tristeza profunda,
desespero e falta de esperança com um bebê recém-nascido no colo é extremamente
complicado, e isso pode até afetar o desenvolvimento da criança. Mas é importante
que as pessoas também saibam que algumas mulheres ficam deprimidas já na
gravidez, o que também pode colocar a saúde mental dos filhos em risco e não
apenas na infância.
O periódico Jama
Psychiatry acaba de publicar uma grande revisão de
estudos, com mais de 15.500 duplas de mães e filhos, que associa a depressão
perinatal (principalmente a que acontece antes do parto) ao risco de depressão
na adolescência. Em outras palavras, é possível que muitos jovens sejam mais
propensos ao transtorno porque suas mães enfrentaram o problema já na gravidez.
Claro que qualquer
transtorno mental depende de uma série de fatores, nunca um só. Um episódio
enfrentado pela mãe pode ser apenas uma parte da história. Porém, numa época em
que temos visto cada vez mais jovens com sintomas de ansiedade e depressão, no
Brasil e no mundo, estudos desse tipo devem ser olhados com atenção.
Antes de mais nada,
vale a pena esclarecer algumas coisas. A maioria das mulheres apresenta um leve
estado melancólico depois de dar à luz, que melhora por conta própria após
algumas semanas. Mas quando a gente fala em “depressão perinatal”, estamos nos
referindo ao episódio depressivo que pode ocorrer antes do parto ou até 12
meses depois dele. Na revisão do Jama Psychiatry, pesquisadores de
universidades norte-americanas, europeias e canadenses afirmam que o problema
afeta de 10 a 20% das futuras mamães. Mas eles ressaltam que essa incidência
pode ser mais alta em países de baixa renda, o que pode ser observado no
Brasil.
A população que mais
sofre com pobreza e baixa escolaridade é a mais vulnerável à depressão
perinatal. E o pior: é a que tem menos acesso ao diagnóstico correto durante o
pré-natal e encaminhamento para um psiquiatra. Outro fator de risco para uma
mulher desenvolver o transtorno antes ou depois da gravidez é ter tido
episódios anteriores. Em qualquer lugar do mundo, a depressão afeta mais
mulheres do que homens, e, mais uma vez, jovens e adultas de classes menos
favorecidas têm poucas chances de receber tratamento adequado antes de
engravidar.
Os estudos analisados
sistematicamente pelos pesquisadores indicam que, além de todos os riscos já
conhecidos pelos médicos para a mãe e a criança, a depressão perinatal pode
aumentar em cerca de 70% as chances de um filho também ter sintomas
depressivos. Ao se levar em conta apenas a depressão antes do parto, o risco
observado foi até maior (78%). Os pesquisadores também observaram que esses
adolescentes tiveram propensão maior a sofrer bullying e a ter ansiedade. E
mais: eles alertam que o transtorno depressivo pode ser uma causa tratável (e
nem sempre identificada) de problemas de atenção e aprendizado.
Este não é o primeiro
estudo a apontar uma ligação entre a depressão na gravidez e problemas de saúde
mental nos filhos. Também não será o último – outros trabalhos devem investigar
o tema a fundo. Mas não dá mais para ignorar a importância de se cuidar da
saúde mental, e não apenas física, das gestantes. E nesse ponto, não é só o
Brasil que está aquém do ideal. Um outro estudo publicado
no Jama, este mês, revela que apenas uma em cada oito mulheres que
acabaram de dar à luz nos EUA ouve do médico alguma pergunta sobre sintomas
depressivos. É preciso mudar a cultura não só dos médicos, mas de toda a
sociedade, já que as consequências dos transtornos emocionais envolvem a todos.
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