FONTE: , Zaria Gorvett - Da BBC Capital (noticias.uol.com.br).
Eles encerram o
expediente na noite de sexta-feira, mas continuam mandando e-mails até a
madrugada. Eles atendem o telefone na hora de folga ou perdem o sono diante de
um prazo apertado. Na segunda-feira de manhã, parece que eles passaram o fim de
semana inteiro diante do computador, abastecidos de café.
Por que algumas
pessoas não conseguem simplesmente relaxar nos fins de semana?
No mundo inteiro, uma
inebriante combinação de ambições individuais, culturas corporativas brutais e
tecnologia está contribuindo para uma galopante crise de estresse. O Instituto
Americano do Estresse estima que o problema cause um prejuízo de produtividade
da ordem de US$ 300 bilhões para a economia dos Estados Unidos.
Segundo uma pesquisa
do site de viagens Expedia, apenas 53% dos trabalhadores voltam descansados das
férias.
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Na Grã-Bretanha,
fala-se na síndrome do sábado, a estranha propensão a ficar doentes nas horas
de folga - algo que pode estar relacionado a uma espécie de abstinência do
estresse.
Nos Estados Unidos,
estabeleceu-se informalmente a semana de 60 horas - um hábito que comprovadamente
aumenta o risco de enfarte. No Japão, já inventaram até um termo para o
problema: "karoshi", ou morte por estafa.
No Brasil, teme-se
que a crise econômica e o consequente aumento da pressão sobre os trabalhadores
se reflita em crescentes índices de estresse.
Estresse nas redes
sociais.
Para profissionais
comuns, como Samantha King, gerente de projeto no setor financeiro em Londres,
até o ato de relaxar se tornou estressante, por conta das redes sociais.
"Se você fica sem postar no Facebook ou no Instagram - com um 'hashtag
fazendo isso', 'hashtag fazendo aquilo' - nem que seja por metade do dia, logo
os amigos começam a perguntar se está tudo bem."
Mas para cada
trabalhador bocejante com dificuldades de encarar a segunda-feira, há sempre
aquele cheio de energia que parecem descansado e capaz de enfrentar uma carga
de tarefas ainda mais pesada.
Por que alguns
conseguem e outros não?
"Quando você
leva para casa os problemas do escritório, você está mantendo aquela resposta
fisiológica ativa. Se isso se prolongar, o resultado não é muito
favorável", explica Jennifer Ragsdale, psicóloga na Universidade de Tulsa,
no Estado americano de Oklahoma.
Durante anos,
pesquisadores compararam as relativas virtudes dos fins de semana passados
diante do computador com aqueles aproveitados para dormir ou fazer atividades
fora de casa. Mas para Ragsdale, duas pessoas podem reagir de maneira diferente
à mesma experiência, o que poderia invalidar esses estudos.
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Viés negativo natural.
O tema do estresse
passou a interessar a psicóloga em 2011, quando ela notou uma grande diferença
entre a maneira como seus colegas voltavam do fim de semana.
Em sua pesquisa, 183
profissionais de vários setores responderam a questionários todos os domingos à
noite relatando como passaram os dias de folga e como estavam se sentindo. As
atividades eram classificadas como "de pequeno esforço" (como tomar
um banho) ou "ligadas ao trabalho" (preencher documentos, responder
e-mails etc).
Em seguida, os mesmos
voluntários eram testados para determinar sua disposição emocional. Eles
recebiam uma lista de sentimentos positivos (entusiasmados, interessados) e
negativos (nervosos, aborrecidos) e precisavam apontar quais se aplicavam a si.
Como era de se
esperar, o grupo com uma abordagem mais positiva teve mais facilidade de se
livrar dos estresses do trabalho. Aqueles com mais "efeitos
negativos" tendiam a ter dificuldades em relaxar, independentemente da
atividade escolhida.
Mas as coisas são
mais complicadas do que isso, porque nem todo o mundo se adequa perfeitamente a
uma categoria ou outra. Aqueles com mais aspectos positivos tiveram mais
dificuldades no chamado "domínio" - a capacidade de ver desafios como
algo a ser dominado e não a ser evitado -, caso também tivessem mais tendência
a "enrolar".
Ragsdale acredita que
isso esteja relacionado a um viés negativo natural que temos: se tudo é igual,
o ser humano tende a dar mais atenção a experiências menos prazerosas.
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Mudança de atitude.
Segundo a psicóloga
Jane Clark, especializada em psicologia do trabalho, para algumas pessoas até a
tentativa de relaxar pode ser contraproducente. "Esses indivíduos preferem
não acumular trabalho e por isso não conseguem descansar quando deveriam",
explica.
Isso é algo de que
Corrine Mills, consultora de carreiras em Londres, entende bem. "Algumas
pessoas não são muito boas em ficar paradas, em um ambiente calmo. Elas
precisam fazer alguma atividade", diz. Ela recomenda uma caminhada, uma
atividade como a ioga ou outra coisa que tire a atenção do trabalho por alguns
minutos.
Se você é uma dessas
pessoas que tende a acumular "efeitos negativos" e não consegue
relaxar no fim de semana, há outras maneiras de mudar de comportamento. Nossas
experiências com o repouso estão também relacionadas à atitude, e há maneiras
simples de mudar o jeito de pensar.
Ragsdale sugere
aprender a recolocar seus pensamentos de uma maneira positiva - tentando buscar
o lado bom de suas tarefas e de seu trabalho em vez de ruminar sobre os
problemas. Muitos estudos já provaram que adotar essa estratégia pode reduzir o
risco de estafa, além de promover mais iniciativa, criatividade e cooperação por
um período prolongado.
Por isso, se você
conseguir mudar sua maneira de encarar as dificuldades e mantiver o estresse à
distância, logo vai se ver perguntando o que fazer com tanto tempo livre. Só
não se esqueça de aparecer no escritório na segunda-feira.
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