FONTE: , TRIBUNA DA BAHIA.
Atividades físicas na infância evitariam que 340
mil jovens ficassem acima do peso na vida adulta.
Colocar seu filho
para brincar com os amigos ou praticar um esporte não vai apenas deixá-lo mais
calminho ao fim do dia. É, também, um investimento a longo prazo.
No futuro, ele terá
menos chances de desenvolver obesidade, diabete, câncer e doenças cardiovasculares.
Como consequência, ele recorrerá menos ao plano de saúde ou ao Sistema ùnido de
Saúde (SUS) e faltará menos no trabalho, gerando menos custos para a
economia.
Vários estudos
mostram que o sobrepeso infantil está associado a uma série de doenças na fase
adulta - incluindo, aí, a obesidade e outras doenças crônicas. A explicação é o
que os médicos chamam de ‘memória metabólica’ - quando nossos hábitos ensinam
nosso corpo a trabalhar de uma forma e não de outra.
Na prática, quando
você acostuma o organismo da criança a não se exercitar e viver com sobrepeso,
na fase adulta ela preservará as mesmas condições.
Essa relação foi evidenciada em um artigo publicado nesta semana na
revistaHealth Affairs por pesquisadores da Escola Bloomberg de
Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, instituição
reconhecida no mundo inteiro por suas pesquisas em saúde.
Os médicos viram que
um aumento de 32% para 50% no número de crianças de oito a 11 anos fazendo 25
minutos de exercício por dia, três vezes por semana, evitaria R$ 22 bilhões de
reais em custos com médicos e R$ 43 bilhões com perda de produtividade no
emprego - quando o funcionário falta ou é afastado por doença e deixa de
produzir riquezas para a economia.
Além disso, essa
mudança nos hábitos acarretaria em menos 340 mil jovens obesos ou acima do
peso no país.
“A atividade física pode ajudar as crianças a manter um peso saudável e
preveni-las contra a obesidade e o sobrepeso”, explica em entrevista ao E+ o médico líder do estudo e diretor
do Centro Global de Prevenção à Obesidade, Bruce Y. Lee. “Crianças obesas ou
com sobrepeso têm mais chances de continuarem assim na vida adulta. E um maior
peso aumenta as chances de diabete, doenças do coração, câncer e outras
condições que geram custos em saúde”, aponta.
No estudo, os médicos
usaram um programa de computador para simular as consequências financeiras do
aumento da atividade física na infância. Informações de 2005 a 2013 do Serviço
Nacional de Saúde dos Estados Unidos foram usadas como base para imitar
condições da vida real, como expectativa de vida e incidência de doenças na
população.
Criança sedentária, adulto com sobrepeso.
A memória metabólica
começa antes de a criança nascer. “Alguns hábitos influenciam o comportamento
de nossos genes. A grávida que é obesa e se alimenta mal tem mais chances de
ter um filho obeso e que também se alimente mal”, diz Maria Edna de Melo,
endocrinologista presidente da Associação Brasileira para os Estudos de
Obesidade (Abeso) e coordenadora da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das
Clínicas da USP.
“A atividade física
faz a glicose entrar mais facilmente para dentro da célula, então a gente
precisa de menos insulina circulando no corpo. Sabe-se que insulina é um
hormônio que estimula o crescimento, então pode estimular o crescimento de
células cancerígenas”, exemplifica a médica.
O experimento do
Hospital John Hopkins é mais um a estabelecer uma relação cada vez mais
investigada pela ciência: a de que nossa saúde é ‘transgeracional’ - isto é,
sofre influência dos genes de nossos ancestrais, é modulada na gestação de
nossa mãe e na infância, culmina na fase adulta e, em última instância, também
dará as bases para a saúde de nossos filhos e netos, por meio de nossos
genes.
“O indivíduo que
tiver uma vida saudável provavelmente terá também filhos com uma vida mais
saudável”, aponta Marcelo Zubaran Goldani, pediatra professor de medicina na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. “Uma vez que eu ajude uma pessoa a sair do
sedentarismo, a parar de fumar e a ter melhores condições, isso melhora a vida
dela e a de suas futuras gerações”, afirma.
Qual o melhor esporte para a criança?
Bruce Y. Lee, líder
do estudo do Hospital John Hopkins, esclarece que qualquer atividade física
pode ser praticada, desde que faça o coração da criança bater mais rápido.
Valem esportes como futebol até brincadeiras que envolvam corrida, como o
querido pega-pega.
Mas o mais importante
mesmo é escolher uma prática que agrade à criança. Afinal, para fazê-la criar o
hábito de se exercitar, é preciso que ela sinta prazer.
Você pode sugerir,
primeiramente, um esporte coletivo, que favorece a socialização, como futebol,
vôlei, handebol ou basquete, por exemplo.
Caso seu filho esteja
acima do peso e sinta vergonha de fazer parte de uma equipe, Maria Edna, da
Abeso, recomenda oferecer um esporte individual que ele goste. “Pode ser uma
luta, por exemplo. O esporte aumenta a autoestima, e crianças nessa situação
precisam disso”, diz.
O que os pais não
podem deixar de lado é a boa alimentação, lembra Ronaldo Arkader,
endocrinologista diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do
Esporte.
“O ideal é aumentar o
gasto energético e diminuir o aporte calórico. É uma questão de reeducação
alimentar, de reduzir os doces e embutidos”, aconselha.
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